3.5.10

Estava irritada. Fazia um tempão que aguardava minha vez no consultório de meu ginecologista. Médico particular, pago com um convênio caríssimo, mas que não oferece o privilégio do cumprimento do horário. Muitas outras estavam na mesma situação. De repente, entra na sala a atual do meu ex. Como já nos conhecíamos antes do momento em que estamos numa situação engraçada quanto ao mesmo homem, sentou ao meu lado e começamos a conversar. Banalidades. Reclamamos do nosso ginecologista pela demora em nos atender. Papo de mulher.
Então, o trivial foi sumindo e ela começou a me perguntar o que tinha acontecido no meu relacionamento para que eu e meu ex, atual dela, terminássemos o casamento. Juro que a compreendi. Quis até ajudá-la. Mas, emudeci. Entre ser fiel a ela e ao meu ex, escolhi-o. Não conseguiria falar mal dele para ela. Protegi-o. Como revelaria todas as minhas queixas, todos os atos que o foram diminuindo perante meu olhar? Falo disso para ele, para minhas amigas íntimas, para o meu atual marido, para que não repita os mesmos erros, acho eu. Não falo mal dele para nossos filhos, para amigos em comum. Vivemos juntos vinte anos, fizemos amor durante todo este tempo, tivemos inúmeros momentos mágicos. Agora, para mim, escondeu sua luz e só revela suas sombras. Direito dele. Mas acredito que isto também é providência divina, porque quando o sinto assim, dou graças aos céus de ser meu ex e tudo fica mais fácil. Não falaria para sua atual esposa sobre as sacanagens na divisão dos bens, sobre quanto é falsa a história que ela conhece como verdadeira. Talvez, um dia descubra, talvez, não. Pouco importa. A história dos dois é dos dois e meu ex tem o direito de fazer diferente agora e ser feliz. Eu é que não vou estragar a festa.

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