21.7.07

Granito

Noutro dia estava olhando uma pedra de granito com a luz iluminando sua superfície. Fiquei encantada. Parecia que ali estava cheio de estrelas que piscavam me chamando para uma viagem. De verdade, eram pedacinhos de pedras fixos em um único lugar.
Às vezes, a vida da gente é assim. As coisas do mundo nos chamam e ficamos estatelados como pedras, imóveis, com medo do movimento, do desconhecido.
‘É melhor um pássaro na mão que dois voando’, ‘seguro morreu de velho’, e são tantos os ditos da sabedoria popular que refletem a necessidade humana de segurança. O imprevisível nos assusta. Por que será que o mar nos fascina? Suas ondas indo e vindo, o insondável de sua profundidade, isso de alguma forma hipnotiza a alma. Talvez o segredo esteja aí: precisamos de ritmo em nossas vidas, a contração e a expansão do Universo, o pulsar do coração, a inspiração e a expiração dos pulmões, o dia e a noite, o sol e a lua. Uma vida cheia de certezas é tão sem graça. A aventura nos captura.
Já dizia o poeta, ‘como será o meu destino?’.

19.7.07

E agora?

Foi tomando conta de mim assim, bem devagarinho. Um sorriso, um olhar, uma afago. Palavras saíam de sua boca poesiando. A fala de sua alma espelhava o silêncio da minha. Afinidades, sonhos a realizar juntos. É como se o conhecesse desde sempre.
Ainda não sabia das divergências, pois o tempo era curto. Há apenas uma semana de curso, num lugar mágico que me arremessava para dentro do aqui e do agora, esquecia-me do que era, dos papéis que desempenhava no que convencionara chamar de realidade.
As aulas, as vivências, os lanches, os intervalos... tudo me dava oportunidade de conhecê-lo e encantar-me cada vez mais.
Comecei a perceber que intuía sua presença assim que chegava ao salão, mesmo que eu estivesse de costas. Não precisava vê-lo para senti-lo. Ansiava pelos momentos em que ficaríamos a sós à noite e conversaríamos sobre a vida, sobre o Sagrado, tendo as estrelas e a lua como companhia e o vento frio forçando-nos ao envolvimento nas cobertas.
E o tempo voava.
Na última noite, chamou-me para um passeio no alto de uma montanha que nos proporcionaria uma linda vista do lugar.
Arrumei-me com capricho, o coração já disparado pela saudade que sua ausência iria me causar. Fomos caminhando em silêncio. Conversamos, ouvimos música, boa música, tomamos vinho. Levantou-se, estendeu-me a mão “Vem, vem aqui que eu quero dançar com você.”. Ficamos dançando. Já não me senti a na Terra. Lágrimas caíram dos meus olhos e molharam sua camisa. Sentia seu cheiro, a textura de sua pele, o pulsar de seu coração.
Nenhuma palavra dita. O silêncio nos tornava uno.
Suas mãos começaram a deslizar por minhas costas, fazendo-me derreter. Afagou meus cabelos. Puxou meu rosto para perto do seu e começou a beijar meus olhos, minha face, prolongando o desejo de sentir sua boca na minha. Deliciosa tortura. Finalmente, o longo beijo. Beijo que toma, que entrega, beijo que deixa as pernas bambas.
Acordei. Não acreditei que tudo aquilo fora um sonho. As alianças em minha mão comprovavam que não estava mais habitando o mundo do meu inconsciente.