22.7.09


- Alô!
- Alô! Quem fala? É que ligaram para mim...
- Ah! Oi, E. É P.
(silêncio)
- Qual P.?
(silêncio)
- P., mãe de sua filha G., sua ex-mulher.
- Ah! Diz...
- Sua empresa tem serviços a oferecer para...?
E por aí foi o rumo da conversa.

Desligaram e ela ficou pensando em como a vida é engraçada.
Já foram casados, conheceram cada centímetro do corpo um do outro, a textura da pele, a maciez do cabelo, o timbre do sorriso. Agora, anos depois, nem a voz, nem o nome pronunciado conectavam com qualquer significante. E os significados?
Isso é mágico. Novas possibilidades surgiram, outras formas de se ser feliz.
Todo aquele amor ficou tão distante, num passado que parece que não existiu.
“Se você vier, pro que der e vier comigo...”
“Você é isso, uma beleza imensa...”
“Hoje eu quero a rosa mais linda que houver...”
O que deveria ser dito no presente?
“E eu te conheço?”

21.7.09




Já faz muito tempo que sei que somos responsáveis por nossa própria vida. Mas, uma coisa é saber e outra, bem mais difícil, é viver de acordo com o que se sabe.
Não é fácil, quebrar estruturas consolidadas e se jogar de corpo inteiro num mundo desconhecido. O medo aparece, as dúvidas aparecem: e se eu não estiver tomando a decisão certa? e se me arrepender e não tiver como voltar?
Em diversos momentos em minha vida tive que escolher entre vários caminhos. Hoje sei que deveria ter escolhido aqueles que estivessem em conexão com o meu coração, aqueles em que minha alma se rejubilasse. Nem sempre foi assim e me arrependo amargamente pelas escolhas erradas até hoje, por mais que compreenda que fiz o meu melhor naquela época.
Desisti de ser Psi e fui trabalhar com computadores. Caminho errado. Mas foi por causa dessa escolha que conheci mais de perto meu primeiro marido e graças ao nosso casamento tenho uma filha maravilhosa. Errado? Voltei a fazer Psi, abandonei meu emprego certinho que me deixava infeliz todos os dias, mas que me daria uma aposentadoria segura – e valeria a pena uma vida triste para uma velhice tranqüila?. Matar ou não matar um filho indesejado? Com toda certeza, escolhi o absurdo. Mas a vida me deu a chance de escolher novamente, numa situação bem difícil, com um bebê com sério comprometimento cerebral, e escolhi a vida. Quando a gente não aprende pelo amor, aprende pela dor. Também aprendi a perdoar e me casei com meu amigo que havia me abandonado com um filho seu na barriga. Tivemos mais dois filhos incríveis e, se a vida rebobinasse, viveria tudo isso de novo. Aprendi muito com esse meu companheiro e resgatei minha energia feminina no processo de enfrentamento com seu machismo. Compreendi o que queria como mulher e comecei a ficar mais atenta aos sinais do Universo. Aí, a vida me trouxe de volta meu Príncipe Encantado da adolescência e meu coração acordou para o prazer de ser amada e cuidada. Havia esquecido como era bom ser chamada de ‘meu amor’, como era bom receber carinho na cabeça para que a dor de ouvido passasse. Neste momento decidi que, como mulher, não aceitaria menos da vida: queria, de novo, viver uma história de amor assim, plena e feliz. Separei-me novamente, com muita dor e sofrimento, e comecei a caminhar atenta ao que encontrava pelas estradas. Não reencontrei meu Príncipe, mas a vida me deu um Rei. Estou feliz, ganhando afagos, carinhos, fazendo muito amor e, principalmente, vivendo uma vida encaixada em outra vida. Meu Rei me disse uma vez: ‘Há encontros que não podem ser desencontrados’.
Com o tempo fui aprendendo que a Psicologia não me daria as respostas que procurava. Aprendi um pouco de tarô, astrologia; fiz iniciação em cura espiritual; conheci o xamanismo; fiz formação em vidas passadas e em transpessoal. Claro que valorizo o conhecimento acadêmico, formal, mas confesso que a sabedoria popular me fascina muito mais. Encanto-me com a beleza da natureza e tento, através da escrita, aproximar-me do Inatingível, traduzindo Sua grandeza na linguagem das palavras.
Humildemente, curvo-se diante do Mistério.
A grande lição? Os caminhos da vida são tortuosos e precisamos compreender o grande quebra-cabeça que é nossa existência aqui na Terra.
O que virá daqui para frente?
Não sei. Apenas digo:
- Pai, em Tuas mãos eu entrego o meu Espírito. Faça-se em mim, segundo a Tua vontade.
Pois, afinal, foi isso que combinei com Ele antes de vir para a Terra: experiência que me ajudassem a evoluir, a me tornar mais iluminada, mais inteira, com toda minha luz e minha sombra. Só que não lembro. E aí Ele precisa ficar enviando uns recadinhos de vez em quando.
Quando vai batendo um desespero, quando as provas vão ficando muito pesadas, olho para o céu e penso ‘as estrelas estão lá, mesmo que não as veja no momento’ e isso me dá um confiança imensa que tudo sempre está certo.


20.7.09

Fiquei um tempo separada e conheci a força do preconceito. Agora eu era vista como uma ameaça aos casamentos perfeitos, principalmente àqueles casamentos de fachada. Os maridos de minhas amigas as proibiram da sair comigo, ‘mulher minha não anda com mulher separada’; minhas amigas passaram o braço sobre seus maridos, num ato falho de garantias de posse; minhas amigas também se afastaram pelo medo da sedução do canto da sereia chamado liberdade. Eu tinha vinte e poucos anos, ainda era ingênua e descobri, pela dor, que tinha dormido santa e acordado puta, só porque meu marido tinha ido embora de casa. Hoje acho graça nisso tudo e peço no meu coração:
- Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem.
Terminei casando com o meu amigo, depois de muitas experiências incríveis com o mundo espiritual. Visitamos vários centros e ouvíamos que nosso filho assassinado iria voltar um dia. Tivemos mais dois filhos lindos e mais dois abortos. Um deles foi logo no início da gestação, quando soube do AVC de meu pai. O outro ocorreu anos mais tarde, conseqüência de um feto com problemas genéticos. Também senti muita dor nas duas situações e percebi que havia aprendido a respeitar a vida, não importando a situação em que ela brotasse. O trágico nessas histórias de aborto é que desde pequena não consigo matar nem formigas; sempre pensei que são seres vivos, com uma organização própria e que se as destruísse seria como ETs chegando à Terra e destruindo a população de humanos. Mas, a vida nos ensina que não sabemos do que somos capazes, inclusive na brutalidade dos atos.
Resolvi que a minha prioridade seria a minha família, o meu casamento, os meus filhos. Fiquei trabalhando só um expediente, mesmo que ganhasse menos, e estava sempre disponível para meu marido. Às vezes, coincidia ter cursos de aperfeiçoamento no mesmo dia que ele teria um encontro do Rotary. Qual era a minha opção? O programa dele. Acho que agi assim pelo medo de destruir novamente um casamento. Com o tempo fui esquecendo minha Alma pelos cantos, minha energia foi minguando e percebi que dormia com um inimigo. É amor o sentimento que une duas pessoas quando uma delas não quer o crescimento da outra, ou apenas admite a realização de seus desejos até o ponto em que não haja nenhuma insurreição? A princípio pensei que o inimigo com quem dormia fosse o meu marido, mas descobri, com a ajuda da terapia, que não era ele e, sim, eu mesma, minha maior inimiga, pois o que eu fazia com o que ele fazia comigo era responsabilidade única e exclusiva minha. Foi difícil sair do lugar de vítima e me perceber como minha maior algoz.
O que fazer com essa descoberta? Como me tornar autora de minha própria história?