26.10.10





 
Fotos: Roberto Arrais
 
 
Eu estava cansada. Havia trabalhado o dia todo, caminhado muito e os pés pareciam duas bolas, Deitei-me na rede para descansar um pouco, depois de um banho bem quentinho. Meu marido desceu para preparar alguma coisa para comermos. Adormeci e acordei com ele me dando um beijo e me chamando para o jantar. Desci as escadas e encontrei a sala às escuras. Fui acender a luz do abajur e, de repente, deparei-me com uma linda mesa posta, cheia de velas acesas, incenso, taças cheias de vinho, pães de queijo e uma música maravilhosa tocando em nossa radiola. Claro que chorei emocionada e o beijei apaixonadamente. Jantamos, dançamos agarradinhos, tomamos vinho e beijei muitas e muitas vezes suas mãos mágicas. Apesar de estarmos sentados à mesa, ouvindo a música do mar e dos coqueiros, vendo a lua e as estrelas, na minha imaginação, secretamente, eu estava de joelhos diante dessa alma grande, meu homem, meu amor, e agradecia ao Sagrado a oportunidade de tê-lo em minha vida.

Passamos assim, juntinhos, o final de semana, descansando, trabalhando, fotografando, escrevendo, namorando, namorando, namorando. Preparamos café da manhã, eu faço o suco de laranja, ele organiza os pães. Mais música na radiola, mas dança de rostinho colado na cozinha enquanto toda a casa é invadida pelo cheiro delicioso de ovos fritos em cebola, alho e azeite. Uma delícia de café, com direito à vista para o mar e à visita de nossos amigos, os passarinhos. Lavo a louça, lê jornal, separo o lixo reciclável, varre a varanda.
Ainda tivemos que voltar ao ritmo do tic-tac e nos desconectamos do ritmo da vida. Haverá um tempo em que poderemos viver assim e que nosso trabalho será a escrita e a fotografia, tendo o mundo como cenário, as pessoas como tema e nossa casinha de praia como refúgio. Já sinto saudades do que vem lá.