22.1.11


Foto: Roberto Arrais


Os textos/poemas que estão nos últimos pots do blog surgiram enquanto estava dormindo (meditando? em transe?) em Santiago, perto das Cordilheiras. Acordei e senti uma força me puxando, quase que me dando a ordem:
- Levante-se e escreva.
Peguei meu caderninho de anotações e fiquei rabiscando palavras na tentativa de traduzir o que o coração dizia. Estava frio, a noite cheia de estrelas, a música do Rio Mapucho embalando uma das mais fortes experiências que tive com a Criação. Ao mesmo tempo que escrevia, pensava na magia do ato de ser canal do Universo e deixar que esta força invisível se expresse através do seu corpo. Não estou falando de mediunidade, de canalização espírita e, sim, de arte. Como acontece o processo criativo de um artista? Como chega a inspiração? E este impulso que vem e que toma tudo, exigindo entrega total, até que se sinta satisfeito e a energia vaze se transformando em criação artística?
Gostei do que senti e, mais uma vez, percebi-me no caminho que minha alma escolheu para esta vida.
Agora sou escritora.

21.1.11



Fotos: Roberto Arrais



Coordilheira




Quieta.

Lua chamou.

Estrela cantou.

Folha caiu.

Seguiu-a.

Vento ficou frio.

Abriu os olhos.

Sentiu a imensidão.

Viu a majestade.

Estava nua.

Com as pontas dos dedos,

conheceu seus segredos.

Piscou.

Ainda lá?

Receio de ir.

Voltar a ser o que sempre fora?

Pequena.

Contemplara o silêncio.

Transformara-a.

Caminho sem volta.

Em que direção?

Liberdade.

20.1.11


Foto: Roberto Arrais



O mar



E
vai
e
volta.
E
vai
e
volta.
E
vai
e
volta.


Dissolve-se
em partículas
no ar.
E canta.
Música compassada,
repetida.
Sinfonia que traga.
Vai-e-vem que enfeitiça.
Nada
é para sempre.
Lugar
é imensidão.
Tempo
é eternidade.
Ser feliz
é agora.


E
vai
e
volta.
E
vai
e
volta.
E
vai
e
volta.

19.1.11

Quando era pequena sonhava em ser aeromoça quando crescesse. A vida me levou por outros caminhos e viajei muito pouco. Casei, tive filhos, cuidei dos meus pais. Também investi financeiramente na aquisição de casas de praia e de campo, com cortinas nas janelas, o que me deixou num útero por muito tempo.
Com o término de um ciclo da minha vida, estou novamente sentindo a liberdade que tinha aos dezoito anos quando apenas me pertencia. Esta tem sido uma sensação muito boa e estou reaprendendo a voar.
Comecei devagar, resgatando milhas – confesso que tive certa dificuldade para acertar como se faz todo o processo -, reservando pousada pela internet e marcando uma viagem para dois dias depois das minhas tentativas de abrir a gaiola. Consegui. Arrumei mala e segui, com meu marido, para Santiago do Chile, local sonhado por ele em sua adolescência como um lugar para se viver e se lutar pela justiça social.
Estava no avião todo chique, com tv e tudo mais, e fiquei pensando em quantas vezes deixamos de realizar sonhos porque não temos a coragem de arriscar. Como a inércia nos coloca numa zona de conforto! Estávamos sem dinheiro, sem a mínima possibilidade financeira de uma viagem para logo ali quanto mais para uma viagem internacional, e quase que nos conformávamos com a impossibilidade. Mas sou uma mulher que corre atrás do que deseja e que sempre se joga na realização de sonhos e, mais uma vez, confiei e me entreguei. De repente apareceram dólares guardados desde de uma viagem ao Japão, as milhas se transformaram em passagens de avião e tudo estava pronto como num passe de mágica, igual à história de Cinderela que vai ao baile numa abóbora transformada em carruagem por sua fada madrinha. O Universo sempre conspira para a realização de desejos e eu acredito em fadas, duendes e Papai Noel.

Destino

Na origem, o ovo.
Abastecida, alimentada, protegida.
O Todo

No caminho, o ninho.
Acompanhada e quieta.
A Falta.

O destino, o voo.
O Nada.
Solitária e livre.
Abrir as asas e ir às alturas.


Foto: Roberto Arrais


18.1.11


Foto: Roberto Arrais



Fora do ar por quinze dias, aproveitando uma merecidas férias. Viajamos para Santiago (Chile), voltamos para Recife e seguimos para o sertão nordestino, visitando Petrolina (PE), Salgadinho (BA) e o Parque Nacional Serra da Capivara (PI). Momentos fantásticos que renovaram nossas energias e ampliaram nossa forma de viver o mundo.
Sobre estas experiências vou escrevendo aos poucos, com calma, misturando relatos da viagem, com dicas de lugares e valores, algo bem prático, com a poesia da alma despertada em alguns encontros mágicos.
O texto que vai sair agora é em homenagem as minhas Bodas de Prata do meu primeiro casamento. Ontem, 17/01, fez vinte e cinco anos que me casei pela primeira vez. E comemorei feliz esta data, pois pude olhar para trás e sentir que cada momento que vivi valeu a pena. Mudei de estrada muitas vezes, houve guinadas enormes, muita dor, claro, e muita, muita, muita alegria. Já, já, farei 50 anos e gosto da sensação que surge quando penso que realizei uma vida em harmonia com o que sentiu meu coração.
Voltando à história do casamento, esta fase foi muita especial para mim. Casei, aos vinte e pouquíssimos anos, com o homem que amava, por quem sentia um calor de quarenta graus, com a vida profissional estabilizada, apartamento próprio completamente decorado, comida e bebida na geladeira, e muitos sonhos para um futuro a dois. Na véspera fomos ao apartamento arrumar a cama com um casal amigo, uma forma de bênção. Antes da meia noite o noivo me deixou em casa, pois dá azar o noivo ver a noiva no dia do casamento. Acordei cedo, imensamente feliz, mandei entregar um buquê de rosas vermelhas na casa do meu noivo, primeiro grande erro, fui para o cabeleleiro, fui fazer uma feirinha para a nossa noite de núpcias, pois iríamos dormir no nosso apartamento – outro grande erro -, voltei para terminar o cabelo e fazer a maquiagem. Cheguei em casa e estava aquele clima de festa, com presentes chegando, todo mundo se arrumando. Meus pais felizes e muito emocionados. Coloquei o vestido, posamos para as fotos, o carro chegou, fomos para a igreja. Na hora da entrada, segurando a mão de meu pai , trêmulo de emoção, caminhei para o altar em êxtase. Lá estava o meu amado, o homem com quem seria feliz por toda a minha vida. O padre havia mandado tocar Ave Maria e só depois ouvimos ‘você é isso, de uma beleza imensa, toda recompensa de um amor sem fim’. Na chegada do noivo a música foi ‘hoje, eu quero a rosa mais linda que houver, só para enfeitar a noite de meu bem’. Lembro que tivemos ainda ‘os sonhos mais lindos sonhei... és fascinação, amor’ e ‘se você vier, pro que der e vier comigo’. Muita gente querida na igreja e gente que entraria na minha vida de uma forma nunca antes imaginada, como o meu segundo marido que estava sentado nos bancos com sua esposa – como a vida é perfeita!. Na hora das alianças fizemos os votos com sinceridade. Falei tão alto que todo mundo riu. O beijo foi formal, pela timidez, pelo ritual. Saímos ao som da marcha nupcial, agora marido e mulher, uma união que marcava para sempre o laço de duas famílias amigas há muita tempo. Festa, todo mundo se abraçando, ‘já que não pôde ser com ele, que você seja muito feliz’ – disse-me meu ex-sogro e me entregou a flor que me ofertava todas as vezes que ía à sua casa, quando namorava seu filho. Fugimos para nosso apartamento, os primos descobriram, bateram na porta com a desculpa da pizza. Todo mundo feliz, meu pai com saudade da filha que agora pertenceria a outro homem, segundo ele falava entre um copo de uísque e outro, sentado no chão da sala da nossa casa, aliás, da casa de meus pais, porque a partir daquele dia, aquele não seria mais o meu lar.
Vivemos felizes, comparmos terrenos na praia e no campo, comparmos carro, viajamos. Tivemos nosso maior tesouro, uma filha linda. Fui mudando, meu marido foi mudando e, de repente, ouvi um ‘eu não gosto mais de você’, meu mundo caiu e veio a separação. Isso há mais de vinte anos. Seguimos caminhos diferentes, casamos novamente, eu me separei de novo, casei e estamos felizes.
Quando comentei ontem com uma amiga que estava comemorando minhas Bodas de Prata, ela me falou que só eu mesma para comemorar uma coisa que tinha acabado há tanto tempo. É verdade que acabou, mas o fato de ter acabado não significa que não existiu. Foi um fato, aconteceu e gosto de honrar esta encontro e as pessoas que fizeram parte dele. Hoje o amo de uma forma diferente, com um carinho enorme e uma imensa gratidão por tudo de bom que vivemos. Além disso, deixou-me um presente lindo, forte, doce, alegria da minha vida, nossa amada filha. Na imaginação, enviei-lhe o mesmo buquê de rosas vermelhas, só que agora com vinte e cinco flores, em homenagem à história de amor que vivemos. Quando falei isso, nossa filha riu e disse que ele morreria de susto e teria a certeza que a separação fora a coisa mais certa em sua vida, pois me consideraria louca. Também penso assim, mas gosto de imaginar a cara dele com o choque da minha liberdade. Isso me faz sorrir com um jeitinho de trela.
Por estas voltas que a vida dá, ontem à noite fomos a uma café, eu, meu amado marido e minha filha, com a irmã do meu primeiro marido e seu marido. Há vinte e cinco alguns de nós estávamos na igreja e agora juntos num contexto completamente diferente, ainda recheado de carinho, amor e respeito.
- Tim! Tim!