18.1.11


Foto: Roberto Arrais



Fora do ar por quinze dias, aproveitando uma merecidas férias. Viajamos para Santiago (Chile), voltamos para Recife e seguimos para o sertão nordestino, visitando Petrolina (PE), Salgadinho (BA) e o Parque Nacional Serra da Capivara (PI). Momentos fantásticos que renovaram nossas energias e ampliaram nossa forma de viver o mundo.
Sobre estas experiências vou escrevendo aos poucos, com calma, misturando relatos da viagem, com dicas de lugares e valores, algo bem prático, com a poesia da alma despertada em alguns encontros mágicos.
O texto que vai sair agora é em homenagem as minhas Bodas de Prata do meu primeiro casamento. Ontem, 17/01, fez vinte e cinco anos que me casei pela primeira vez. E comemorei feliz esta data, pois pude olhar para trás e sentir que cada momento que vivi valeu a pena. Mudei de estrada muitas vezes, houve guinadas enormes, muita dor, claro, e muita, muita, muita alegria. Já, já, farei 50 anos e gosto da sensação que surge quando penso que realizei uma vida em harmonia com o que sentiu meu coração.
Voltando à história do casamento, esta fase foi muita especial para mim. Casei, aos vinte e pouquíssimos anos, com o homem que amava, por quem sentia um calor de quarenta graus, com a vida profissional estabilizada, apartamento próprio completamente decorado, comida e bebida na geladeira, e muitos sonhos para um futuro a dois. Na véspera fomos ao apartamento arrumar a cama com um casal amigo, uma forma de bênção. Antes da meia noite o noivo me deixou em casa, pois dá azar o noivo ver a noiva no dia do casamento. Acordei cedo, imensamente feliz, mandei entregar um buquê de rosas vermelhas na casa do meu noivo, primeiro grande erro, fui para o cabeleleiro, fui fazer uma feirinha para a nossa noite de núpcias, pois iríamos dormir no nosso apartamento – outro grande erro -, voltei para terminar o cabelo e fazer a maquiagem. Cheguei em casa e estava aquele clima de festa, com presentes chegando, todo mundo se arrumando. Meus pais felizes e muito emocionados. Coloquei o vestido, posamos para as fotos, o carro chegou, fomos para a igreja. Na hora da entrada, segurando a mão de meu pai , trêmulo de emoção, caminhei para o altar em êxtase. Lá estava o meu amado, o homem com quem seria feliz por toda a minha vida. O padre havia mandado tocar Ave Maria e só depois ouvimos ‘você é isso, de uma beleza imensa, toda recompensa de um amor sem fim’. Na chegada do noivo a música foi ‘hoje, eu quero a rosa mais linda que houver, só para enfeitar a noite de meu bem’. Lembro que tivemos ainda ‘os sonhos mais lindos sonhei... és fascinação, amor’ e ‘se você vier, pro que der e vier comigo’. Muita gente querida na igreja e gente que entraria na minha vida de uma forma nunca antes imaginada, como o meu segundo marido que estava sentado nos bancos com sua esposa – como a vida é perfeita!. Na hora das alianças fizemos os votos com sinceridade. Falei tão alto que todo mundo riu. O beijo foi formal, pela timidez, pelo ritual. Saímos ao som da marcha nupcial, agora marido e mulher, uma união que marcava para sempre o laço de duas famílias amigas há muita tempo. Festa, todo mundo se abraçando, ‘já que não pôde ser com ele, que você seja muito feliz’ – disse-me meu ex-sogro e me entregou a flor que me ofertava todas as vezes que ía à sua casa, quando namorava seu filho. Fugimos para nosso apartamento, os primos descobriram, bateram na porta com a desculpa da pizza. Todo mundo feliz, meu pai com saudade da filha que agora pertenceria a outro homem, segundo ele falava entre um copo de uísque e outro, sentado no chão da sala da nossa casa, aliás, da casa de meus pais, porque a partir daquele dia, aquele não seria mais o meu lar.
Vivemos felizes, comparmos terrenos na praia e no campo, comparmos carro, viajamos. Tivemos nosso maior tesouro, uma filha linda. Fui mudando, meu marido foi mudando e, de repente, ouvi um ‘eu não gosto mais de você’, meu mundo caiu e veio a separação. Isso há mais de vinte anos. Seguimos caminhos diferentes, casamos novamente, eu me separei de novo, casei e estamos felizes.
Quando comentei ontem com uma amiga que estava comemorando minhas Bodas de Prata, ela me falou que só eu mesma para comemorar uma coisa que tinha acabado há tanto tempo. É verdade que acabou, mas o fato de ter acabado não significa que não existiu. Foi um fato, aconteceu e gosto de honrar esta encontro e as pessoas que fizeram parte dele. Hoje o amo de uma forma diferente, com um carinho enorme e uma imensa gratidão por tudo de bom que vivemos. Além disso, deixou-me um presente lindo, forte, doce, alegria da minha vida, nossa amada filha. Na imaginação, enviei-lhe o mesmo buquê de rosas vermelhas, só que agora com vinte e cinco flores, em homenagem à história de amor que vivemos. Quando falei isso, nossa filha riu e disse que ele morreria de susto e teria a certeza que a separação fora a coisa mais certa em sua vida, pois me consideraria louca. Também penso assim, mas gosto de imaginar a cara dele com o choque da minha liberdade. Isso me faz sorrir com um jeitinho de trela.
Por estas voltas que a vida dá, ontem à noite fomos a uma café, eu, meu amado marido e minha filha, com a irmã do meu primeiro marido e seu marido. Há vinte e cinco alguns de nós estávamos na igreja e agora juntos num contexto completamente diferente, ainda recheado de carinho, amor e respeito.
- Tim! Tim!

Nenhum comentário: