25.9.09


Noutro dia, no estacionamento do supermercado, encontrei um amigo de quem gosto muito e que não via há muito tempo, quase uns vinte anos. Perguntou-me como estava, respondi que vivia um momento mágico, com uma pessoa maravilhosa. Perguntei-lhe como andava sua vida, respondeu-me que estava muito feliz, havia se separado, mas encontrara um novo amor e também se rendera ao mundo dos afetos, afastando-se, como eu, dos bits e bytes. Rimos muito e continuamos nossa conversa aprofundando as informações.
A ex dele criou tanta confusão com a filha de ambos que agora a menina, que já tem 17 anos, não quer mais conviver com sua namorada, Ele ficou triste e preocupado, pois sua namorada tem dois filhos e eles, ele, ela estão formando um novo núcleo familiar e sua filha tem ficado de fora dessa convivência harmoniosa.
Contei que a ex do meu marido também agia assim e que isso tinha gerado um afastamento total da filha dele. Antes eu ainda a incluía em nossos passeios, mas agora, para ser sincera, muitas vezes em nem me lembrava mais de que ele tinha uma filha, pois nosso núcleo familiar estava se solidificando com nós dois, eu e ele, meus filhos e o filho do meu ex. Quando eu refletia sobre essa situação, achava uma loucura, mas, infelizmente, era essa a realidade.
Compartilhamos histórias em que sua ex tentava criar confusão para atrapalhar a vida amorosa dele e como isso apenas o aproximava mais de sua namorada e dava graças aos céus por aquela ser, no presente, sua ex. Relatei que isso também acontecia com a ex do meu marido e que nada do que ela fazia abalava meu relacionamento com ele, unindo-nos cada vez mais.
Mas, qual não foi nossa surpesa, quando descobrimos que a filha do meu ex e a filha dele estudam na mesma escola, na mesma sala, e, o que é mais incrível, são primas, pois a ex dele é irmã da ex do meu marido. Eita mundo pequeno esse!

Trabalho com a Psicologia Transpessoal e compartilho as idéias de Grof sobre as Matrizes Perinatais Básicas (MPB). Ah! A primeira vez que ouvi este termo foi numa aula, em que cheguei atrasada, e pensei que se tratava de alguma coisa relacionada à música popular brasileira; só depois a ficha caiu. Bem, mas voltando às MPB de Grof, confirmo, no consultório que sua teoria se aplica na vida das pessoas. Grof diz que a MPB I corresponde à epoca em que estamos no útero, antes dos períodos das contrações; a MPB II se refere à fase em que vivenciamos as contrações e somos impelidos a buscar uma saída; a MPB III, é a passagem pelo canal vaginal; a MPB IV é a chegada ao mundo. Então, de acordo com esta teoria, os partos deveriam possibilitar a experiência das quatro fases para o bebê. Infelizmente, em nossa cultura, as mulheres estão agendando seus partos antes de sentir dor e isso altera o processo de desenvolvimento psíquico de seus filhos. Os atendimentos clínicos apenas referendam estas hipóteses.
Nasci num parto cesariana, pois minha mãe teve dilatação, mas não teve atendimento médico, já que o mesmo havia participado de uma festa e bebido um pouco além da conta e precisou de um tempo para se recuperar. Resultado: eu já havia descido pelo canal vaginal, mas não tinha conseguido sair, primeiro parto de minha mãe, e fiquei meio que entalada. Ele fez a cirurgia e, como eu já estava muito embaixo, tive que ser puxada de fórceps para o corte do útero. Minha cabeça era enorme e tinha uma baixa que caracterizava este instrumento em meu corpo.
Então, ontem, na terapia, comentei que estava num momento de minha vida em que me sentia com as mãos atadas, sem poder fazer nada para resolver os problemas que enfrento, pois as soluções não dependem de mim. Já fiz muita besteira na vida e sempre as assumi. Hoje, porém, vivo uma situação inusitada, pois tudo que preciso para resolver minha vida está empacado por conta de posições de outras pessoas. Fiz o comentário:
- Até parece que estou revivendo o momento do meu parto, em que fiz a minha parte, fui para o canal, mas não pude sair porque não havia abertura, e tive que ser tirada à força, de fórceps.
Minha terapeuta, que é excelente, me pediu para trabalhar melhor isso. Lá na sessão eu já estava com um certo mal estar, sentindo-me enjoada, a cabeça pesada. Durante o resto do dia estes sintomas foram se acentuando e cheguei à noite com uma imensa dor na cabeça, pressão por todos os lados, uma enorme vontade de vomitar, o corpo todo dolorido, principalmente um pé e um lado da perna. Deitei-me na cama, no escuro, e me senti no útero novamente. Com certeza, entrei num estado alterado de consciência e revivi o processo do meu nascimento nessa vida. Foi uma coisa muito estranha, porque ao mesmo tempo que me sentia no parto, me via em pé, na sala de cirurgia, esperando pelo bebê cansado. Recebi o bebê, eu mesma, com carinho e respeito pela coragem que tivera para enfrentar aquela situação difícil. Adormeci, exausta, e hoje acordei me sentindo maravilhosamente bem.
O que aconteceu ali eu não sei explicar direito, de acordo com o que aprendi na faculdade, mas confirmo o que Grof pensa, confirmo o que tradições espirituais ensinam. Ao reviver meu trauma do nascimento, alguma transformação energética ocorreu. Tomara que as coisas que estavam empacadas nesta fase de minha vida, agora possam fluir com tranquilidade.

21.9.09


A vida anda me pregando uma peças grandes. Sabe quando a gente está numa fase em que só aparecem dificuldades? Tudo que você vai fazer tem um obstáculo no caminho? Pois é, tenho me segurado na minha imensa fé em que tudo tem um propósito e me inspirado no poema que diz que ‘com as pedras do caminho construirei um castelo’.
Devido a tantas broncas, às vezes, minha energia baixa e uso dos meus truques, se é que se pode chamar assim, para me reabastecer. Um deles, é a oração. Então, ontem, montei meu altar à mesa – incenso, pedras, velas, água com sal grosso e essência, terço, manjericão, pote com sal grosso, canela, cravo e alho – e comecei a ler mensagens do Sagrado contidas na Bíblia, no Evangelho Espírita e no livro Jesus no Lar. Pedi que espíritos de luz guiassem minha leitura e colocassem energia no copo d’água que beberia depois. Os textos me falaram sobre o dom da Coragem e sobre as injustiças sociais. Fiquei um tempão refletindo sobre eles. Acredito que os desafios que se apresentam em nossas vidas, surgem para fortalecer nossas almas, para nos ensinar o que ainda não conseguimos aprender. Precisamos entender, e sentir, que tudo está interligado e que as conexões seguem leis que a física quântica hoje explica. Se é assim, a abundância que existe no Universo também se expressa em minha vida. Só preciso entrar na mesma frequência. No seu livro O Jogo Cósmico, Grof faz pontes entre as mais novas descobertas da ciência e os ensinamentos das mais antigas tradições religiosas. Jung já nos falava de sincronicidade e isto se manifesta todos os dias em nossas vidas. Precisamos, apenas, de olhos para ver.
No momento em que estava lendo os textos em busca de mensagens para as crises que enfrento agora, caiu do livro uma carta de minha bisavó, psicografada por minha tia. O que tem escrito nela eu quase que já sei de cor, mas o que me fisgou e me encheu de saudades foi ver a caligrafia de minha amada tia, já falecida, ali, tão presente em minhas mãos. Guardo, também, um pedaço de papel onte tem escrita, com a letra de minha mãe, a oração da Pedra Dara. Onde estarão as duas? Tive esta mesma sensação quando vi seus ossos no caixão. Não havia mais cérebro, apensas ossos. Onde estariam o amor que sentiram, os sonhos que tiveram?
Gosto de pensar sobre essas coisas. Talvez, por isso, chorava quando ía para minhas aulas de mestrado em informática, há muito tempo atrás, e o professor ficava falando ‘se A, então B’ e eu pensava que o dia que estava vivendo não voltaria e que desperdiçava minha energia, meu dia e minha vida.
Estou mais ligada ns coisas simples e belas da vida, como a luz dos sol brilhando no mar ou nas follhas de uma árvore, o colorido das flores na primavera, o canto dos pássaros, a música das palhas do coqueiro, a energia da deusa lua mexendo com meu corpo e com minhas emoções, o calor do corpo do meu amado, o sorriso dos meus filhos, enchendo de alegria os cantos de nossa casa. Cheguei a pensar que este era o olhar da artista que desabrochava em mim. Hoje, sinto que este é o sentimento de quem vivencia o Sagrado.

20.9.09

Foto: Roberto Arrais



Ontem tive trabalho para dormir. E, olha, que se tem uma coisa que não me perturba é a falta de sono. Durmo bem, mesmo que esteja vivendo as maiores crises pessoais. Mas, dessa vez, a qualidade do som que ouvia, conseguiu comprometer minha paz. Estava acontecendo uma festa no prédio e a música, se é que se pode chamar aquele barulho de música, tocava no quarto como se todos os instrumentos da banda estivessem à beira de minha cama. O equipamento eletrônico deveria estar no seu volume máximo. Então, as minhocas de minha cabeça começaram a andar e...Bom, se era uma festa, pressupunha-se uma reunião de amigos, de pessoas que se gostam e que querem se encontrar para conversar, contar as novidades, dançar, ouvir música e, claro, beber e comer, que ninguém é de ferro. Mas, com o som àquela altura, com certeza, o diálogo ficaria inviável. Veio-me, então, a constatação: muitas e muitas vezes precisamos do barulho porque não temos nada para dizer ou, pior ainda, não queremos escutar o que vem do coração. O vazio, o silêncio, incomoda quando estamos numa situação assim e fugimos desse encontro como o diabo foge da cruz. Não são poucas as pessoas que contam que ligam a tv assim que chegam em casa. Medo da solidão, medo de si mesmas?Gosto de ouvir o silêncio. É, silêncio também se ouve. O canto dos pássaros, a música do vento, os sons de um cotidiano que amo – o batedor de carne gera uma melodia que me leva para minha infância feliz. Às vezes, na sala, reconheço o som do arrastar de pés do meu pai, caminhando pelo corredor de nossa casa. Emociono-me na hora. Lá vem ele, meu velhinho amado, arrastar a cadeira – outro som inconfundível em nosso lar, que provoca o maior corre-corre para atendê-lo à mesa – e repetir a rotina que lhe dá a segurança para continuar vivo.Para mim, o som da água saindo pelo chuveiro quente é o anúncio de momentos de paraíso. Adoro sentir o calor daqueles pedacinhos mágicos que lavam meu corpo, meu juízo e minha alma.Na nossa casa temos muitos discos, de boa música, claro, e sentimos prazer em ouvi-los. Acendemos um incenso, tomamos um vinho, e... conversamos, sentados no sofá. Mas, às vezes, estas músicas maravilhosas também serão barulho, pois inibirão a magia do silêncio. E, por isso, prefiro, quase sempre quando o sol está acordando e sua luz dourada invade nossa sala, passando por entre as folhas da mangueira, deixar tudo bem quietinho e ouvir apenas o silêncio.