20.9.09

Foto: Roberto Arrais



Ontem tive trabalho para dormir. E, olha, que se tem uma coisa que não me perturba é a falta de sono. Durmo bem, mesmo que esteja vivendo as maiores crises pessoais. Mas, dessa vez, a qualidade do som que ouvia, conseguiu comprometer minha paz. Estava acontecendo uma festa no prédio e a música, se é que se pode chamar aquele barulho de música, tocava no quarto como se todos os instrumentos da banda estivessem à beira de minha cama. O equipamento eletrônico deveria estar no seu volume máximo. Então, as minhocas de minha cabeça começaram a andar e...Bom, se era uma festa, pressupunha-se uma reunião de amigos, de pessoas que se gostam e que querem se encontrar para conversar, contar as novidades, dançar, ouvir música e, claro, beber e comer, que ninguém é de ferro. Mas, com o som àquela altura, com certeza, o diálogo ficaria inviável. Veio-me, então, a constatação: muitas e muitas vezes precisamos do barulho porque não temos nada para dizer ou, pior ainda, não queremos escutar o que vem do coração. O vazio, o silêncio, incomoda quando estamos numa situação assim e fugimos desse encontro como o diabo foge da cruz. Não são poucas as pessoas que contam que ligam a tv assim que chegam em casa. Medo da solidão, medo de si mesmas?Gosto de ouvir o silêncio. É, silêncio também se ouve. O canto dos pássaros, a música do vento, os sons de um cotidiano que amo – o batedor de carne gera uma melodia que me leva para minha infância feliz. Às vezes, na sala, reconheço o som do arrastar de pés do meu pai, caminhando pelo corredor de nossa casa. Emociono-me na hora. Lá vem ele, meu velhinho amado, arrastar a cadeira – outro som inconfundível em nosso lar, que provoca o maior corre-corre para atendê-lo à mesa – e repetir a rotina que lhe dá a segurança para continuar vivo.Para mim, o som da água saindo pelo chuveiro quente é o anúncio de momentos de paraíso. Adoro sentir o calor daqueles pedacinhos mágicos que lavam meu corpo, meu juízo e minha alma.Na nossa casa temos muitos discos, de boa música, claro, e sentimos prazer em ouvi-los. Acendemos um incenso, tomamos um vinho, e... conversamos, sentados no sofá. Mas, às vezes, estas músicas maravilhosas também serão barulho, pois inibirão a magia do silêncio. E, por isso, prefiro, quase sempre quando o sol está acordando e sua luz dourada invade nossa sala, passando por entre as folhas da mangueira, deixar tudo bem quietinho e ouvir apenas o silêncio.

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