22.12.07

Vida de escritora

Desde que comecei a escrever que fiquei imaginando como seria a emoção de publicar meu primeiro livro, como me sentiria, se me reconheceria como membro da nova confraria, se meu coração iria disparar, se as lágrimas rolariam pelo meu rosto.
De repente, aconteceu. Acho que nem percebi direito como a coisa foi sendo construída. Um mail, um texto, um acerto, um convite para o lançamento, uma caixa de correio e, como num enredo de história em que o tempo e o espaço são construídos pelas palavras, eu o tinha em minhas mãos. Fiquei emocionada. O coração não disparou, parou. As lágrimas vieram e me lembrei de quando Fernando Pessoa me empurrava para os sonhos: ouse, sonhe, acredite, realize, o Universo faz o resto. Ele estava ali, pequenino, bonito, uma história escrita por vários autores e autoras e eu era uma delas. Fui folheando as páginas devagar, com carinho, procurando com os dedos meu nome, minha história. Olhei-o, cheirei-o, deslizei-o sobre minha face. Aquilo era real. O livro não estava no buraco de Alice.
E eu, que estava tão sem rumo, retomei o meu caminho. Simples, assim.

21.12.07

Missa no Interior

Nem sei dizer há quanto tempo fui a uma missa no interior. Hoje, ao participar de uma, deu-me uma enorme saudade da infância, saudade da minha mãe e dos tempos em que ouvia ‘Deus te abençoe’.
A missa está diferente. Muitos jovens, que cantam e fazem coreografia. Os mais velhos ficam quietos como se lembrassem de que sem eu tempo a missa era celebrada em latim e as mulheres tinham que usar véu.
Encantei-me com uma senhora de lindos cabelos brancos. Tive vontade de reverenciá-la e ela ainda achava humildade para se ajoelhar e pedir perdão.
O padre não merecia seu rebanho. Parecia um rei, ditava ordens e conselhos, foi grosseiro. Enfim, prepotente. Bem longe do amor pregado por Jesus.
Percebi que a missa numa cidade de interior é um evento social – tivemos até Parabéns para você.
É bonito o ritual, o som do sino a ecoar pela cidade, convocando todos para um encontro com o sagrado.
Apesar dessa possibilidade, não consigo deixar de ficar incomodada com o conceito de pecado que as religiões trazem. Pregam que só através delas há salvação
Não sinto assim. Conecto-me com o Sagrado toda vez que me permito o sentimento do Uno.