A tela em
branco, meu coração cheio de coisas sentidas e nem sempre reveladas.
Andei
lendo sobre física quântica e tive umas ideias muito loucas. Aliás, este é um
dos adjetivos que me rotulam, mas me sinto é livre para ser feliz.
Desde que
meus filhos nasceram, priorizei viver ao lado deles, compartilhando nossos
momentos simples, as coisas do cotidiano mesmo. E sempre soube que fazia aquilo
por mim, pois queria guardar comigo a magia de nossas vidas juntos. Voltei ao
clube Alemão com todos eles, dessa vez para um almoço rápido. Reconheceram
alguns garçons, também foram lembrados por eles. Mas eu estava em outra
dimensão, em outro tempo-lugar, pois os via ainda crianças, de bóia nos braços,
brincando na piscina. Via-os nas aulas de natação, no futsal, no parquinho,
todos tão lindos e fofinhos. Voltava para o aqui-agora com os chamados dos
adultos que são e retornava para aquelas recordações que eram só minhas, pois
não tinham as mesmas lembranças que eu. Fiquei feliz por carregar em mim tanta
docilidade.
Aí pensei
que a física quântica explica que tudo que vivemos fica registrado em nossa
memória física e nos campos mórficos, campos energéticos, e que campos
compartilhados ficam marcados para sempre. Percebi que podemos até contar para
as pessoas que hoje andam ao nosso lado tudo que vivemos, mas será apenas um
registro racional – tanto o meu quanto o dela -, pois não estivemos juntos
naqueles momentos que se espalharam por todo o Universo. Engraçado isso, pois
tenho filhos de casamentos diferentes e sempre senti assim. Meus novos
companheiros compreendem, acolhem e amam as histórias e os rebentos, mas, na
essência, não podem compartilhar tudo isso, pois a energia deles não estava lá
quando as coisas aconteciam. E tudo isso não deixa de ser uma espécie de
solidão, pois aqueles que dividiram conosco a gravidez, o parto, os primeiros
passos, não estão ao nosso lado, pelo menos na intimidade, nas formaturas, nos
casamentos, nas angústias vividas pelos filhos agora. É estranho, muito
estranho... o mundo invisível e suas manifestações.
Outra
coisa que me encantou nesse feriado foi a sabedoria da infância. Aprendi muito
com minha sobrinha de três anos. Depois do mar, já na rede, hora de ouvir o cd
com a voz da tia, contando a história O Rei Poderoso. Olhinhos curiosos,
sorrisos no canto da boca.
Agora a tia contava
a história de novo, na rede, só para a sobrinha:
-Tá diferente da outra vez, tia (a do cd).
Após a leitura exclusiva:
- Quem vai contar a história sou eu.
E lá se foi passando as páginas e contando tudinho.
- A fadinha tava zangada, muito zangada (no texto não existe esta palavra, mas,
de verdade, a fadinha tinha ficado zangada e não apenas triste).
- O porco viu tudo, ele sabe o que aconteceu com a fadinha (o porco é o prato
principal do banquete servido à mesa o castelo, um mero detalhe da caprichosa
ilustração e que ganhou papel principal na releitura dessa menina linda de três
anos).
Quando terminou a história, perguntei:
- Se o porco sabia de tudo, por que não contou ao rei o que tinha acontecido
com a fadinha?
- Ah, tia! o porco tava de olho fechado, já tava dormindo!
Fiquei emocionada com suas observações. Isso é que é leitura. O autor até
escreve a história, mas ela só acontece de verdade no encontro do texto - e da
ilustração, neste caso -, com o leitor / a leitora. A prática confirmando a
teoria.
Depois da visita à nossa casa na praia, fomos conhecer a terra da avó, lá no
agreste pernambucano. Encantou-se com a natureza, com as árvores, com as
pedras, com a bica, com os animais. Quando já estava se arrumando, penteando o
cabelo, disse:
- Tia,
você tem quase tudo.
- É? o quê?
- Escova,
espelho... gatinho, au-au...
(olhando o espelho
que havia sido da avó, encantada com os animais do sítio)
- Ah! tem vassoura,
chapéu, varinha, caldeirão...
(referindo-se aos
meus instrumentos de bruxa que havia encontrado na minha sala na Caleidoscópio)
Respondi:
- De tudo que
tenho, sabe o que mais me faz feliz? As pessoas que amo.
Sorriu.
Acho que o
que sua inocência infantil captou foi a sensação de plenitude que vivo no meu
dia a dia. Claro que não tenho tudo, as dificuldades financeiras são bem
grandes – se focarmos só no material -, mas vivo sempre feliz, aprendendo que
os desafios surgem para a evolução do taco do Sagrado que trouxe nessa vida e
que preciso harmonizar.
Minha
sobrinha percebeu a energia que me cerca, pois vivo em paraísos construídos com
amor, tentando manter uma rotina cheia de significado. Não nasci sabendo e
percorri um caminho com algumas dores para aprender tudo isso. Já ela fará sua
jornada de uma forma mais leve, pois trouxe consigo muita sabedoria. Feliz por
você, minha linda!