3.3.10

Ontem à noite meu amado irmão me ligou. Falou de suas dores, suas decepções. Senti meu coração chorar junto com o seu, pois, Freud explica, amo-o como a um filho mais velho. Quase na hora de desligarmos, veio com essa:
- Mulher, cria juízo. Não bota na internet que transou quando e onde.
Sorrimos e tchau.
Fiquei pensando onde eu tinha colocado local, data e hora dos momentos em que fiz amor. Fui ler meus posts no blog e soltei uma imensa gargalhada. O coitado tinha entendido tudo errado. Quando falei 'fizemos amor', estava me referindo a mim, à lua e ao mar. Mas perdoei sua ignorância, afinal ele é médico, não é deus, aquele que tudo sabe.
Lendo uma entrevista de um famoso escritor espanhol que gosta de misturar histórias verídicas com situações inventadas a partir de fatos reais, encantei-me com uma observação sua:
- Se um texto não é crível, não é bom.
Orgulhei-me de minha autoria. Escrevo coisas que nunca aconteceram de verdade e as pessoas acreditam que todas são reais. Claro que todo texto inventado traz a marca da subjetividade de quem o escreve, mas, quando se cria, a imaginação é livre e tudo pode acontecer.
Só para esclarecer.

28.2.10










Fotos: Roberto Arrais

Ainda não acabou. À tarde, depois do trabalho, preparamos um delicioso almoço. Batatas, orégano, cebola, azeite, alho, queijo. Dançamos enquanto estavam no forno e tomávamos cerveja e vinho. Arrumei a mesa na varanda, colhi flores no jardim. Colocamos um cd de ópera, esquecido em nossa casa por uma pessoa muito especial. O mar continuava tocando sua música e uma lavadeira veio passear por nossa grama. Lavamos tudo, tomamos banho, deitamos na rede para ler um bom livro e esperar a lua nascer. Noite de lua cheia. De repente, por trás da nuvem, ela vem surgindo, enorme, linda, amarela. Ficamos hipnotizados. Ele fotografa tudo e corremos para a beira da praia. Sinto sua energia poderosa a iluminar o mar. Sobe mais um pouco e forma um caminho de luz em sua direção. Quero segui-la. Estou completamente enfeitiçada. Por pouco não me atiro na água e vou correndo abraçá-la. Este não é um desejo só meu, pois vejo uma maria farinha sair de sua toca e olhar para ela também. Aquele brilho acarinha tudo. O oceano reverencia seu poder e se deixa seduzir. Fazemos amor. O Sagrado nos beija e sussurra aos ouvidos dos que sabem ouvir: tudo isso é para você.








Fotos: Roberto Arrais

Estive conversando com um grupo de mulheres, na faixa de 40/50 anos, sobre as crises da meia idade, finais de casamento, amores nessa fase da vida. Todo mundo com muito medo do presente e do futuro, pois homem é artigo de luxo, trabalho não se acha fácil, filhos cresceram, foram para o mundo e a casa está vazia. Às vezes fica difícil viajar para dentro, olhar para o que se fez da vida, assumir a responsabilidade pelo caminho trilhado e descobrir que tudo poderia ter sido diferente se a coragem estivesse mais presente, impulsionando a realização dos sonhos, inclusive dos mais secretos. Acho que dá um gosto amargo na boca, um certo arrependimento e uma raiva direcionada para si própria.
Sou daquelas que acredita que enquanto o coração bater, dá tempo de corrigir a rota e ser feliz de verdade. Sinto, na minha alma, que tudo está conectado, que cada uma tem um propósito aqui neste planeta e que só temos que aprender a ler os sinais e seguir nossa jornada. Astrologia, tarô, terapia, são algumas ferramentas que nos ajudam a ler mais facilmente a mensagem cifrada que trazemos em nossos corações.
Vivo da forma que penso e escrevo aqui no blog. Claro que nem tudo são flores, mas considero que espinhos são normais nas rosas que colho. Se quero seu perfume, sua beleza, sua textura macia, tenho que aceitar a rosa inteira. Vem dando certo, pois a cada dia sou mais feliz, mais livre, mais corajosa.
Comecei meu final de semana com uma ida ao cinema, junto com meu marido e minha filha. Um filme maravilhoso que fala sobre divórcios, reencontros e encontros. Inteligente, engraçado, tocando quem já viveu situações semelhantes. Pipoca, refrigerante, risos. Delícia de programa com pessoas que amo. No sábado, pela manhã, fui conversar sobre tecnologia na educação numa universidade que já foi minha casa de trabalho. Meu marido foi assistir e, segundo ele, ficou completamente encantado com o que viu e ouviu e, claro, com a esposinha dele. Almocei com ele, meus filhos e meu pai um delicioso escondidinho de charque, regado a um bom vinho. Compramos jornais e fomos para nossa casa de praia. Banho de mar, encontro com a lua, flertes com maria farinha. Leve e feliz, desenhei na areia nossas iniciais dentro de um coração. Coisa de adolescente, de criança. Será que vou deixar de ser uma, já que sempre olho a vida com deslumbramento?! Banheira morninha, sais e espuma, velas com cheiro de chocolate, massagem, amor, sono tranquilo numa cama gostosa. O sol acordando e nos convidando para um outro dia mágico. Água para as plantas do jardim. Visitas de borboletas, grilos, formigas, besouros, abelhas. Flores se abrindo, tomates crescendo, jabuticabas no caule. Delicioso café, com mamão, suco, sucrilhos. Jornais que não dizem muita coisa. Caminhada pela praia, banho num mar sequinho e calmo. Trabalho, computador, fotos, leituras, escrita. Para mim, tudo perfeito e só obrigada.
Para este grupo de mulheres com quem conversei certamente este relato de um final de semana perfeito, não teria sua cumplicidade. Calmo demais, morgado demais. Sei que é maravilhoso para mim, para minha forma de viver o mundo. O que desejo é que cada uma delas encontre o seu próprio jeito de ter um final de semana perfeito. Afinal, ser feliz é tudo que se quer, como diz aquela música.