24.11.11

Estava conversando com minha filha sobre como o livro A Roda da Vida, de Elizabeth Kubler-Ross, havia mexido comigo e comentei as coisas que havia aprendido.


- Mãe, você fica se perguntando sobre o que fazer, sobre quando vai começar sua missão de vida, sobre ir para a África e sei lá mais o que, mas você pode começar agora, aqui mesmo. É só escrever sobre isso, dizer para as pessoas as coisas que está me ensinando com nossa conversa no sofá da sala. Todo mundo quer sentir o Sagrado em suas vidas, todo mundo que descobrir o significado de se estar aqui na Terra. Comece a tocar as pessoas pela escrita. E é pra já.

Simples assim, pelo menos foi como ela viu. Suas palavras tiveram ressonância em meu coração. Aquela bruxinha linda tinha razão.

Quando criança, apesar da infância feliz, a autora desejou ir para a África ajudar as pessoas que sofriam. Eu também. Fez muitos trabalhos voluntários que me mataram de inveja. Aprendeu a acompanhar seus pacientes no momento da passagem para o lado de lá e descobriu que há algo mais que o corpo que habitamos. Viu fadas e guias espirituais. Deu palestras e seminários pelo mundo todo. Defendeu um tratamento mais humanizado nos hospitais. Criou um centro de treinamento numa fazenda para que todos pudessem viver mais em contato com a natureza. Defendeu os pacientes com AIDS quando esta ainda era o novo monstro. Viu seus sonhos destruídos muitas vezes e sempre recomeçou, pois tinha uma fé inabalável na linguagem do Sagrado.

De uma forma que não sei explicar, minha vida e a dela se entrelaçam. Sinto que este caminho me é familiar, que já o trilhei em outras vidas, que tenho que começar a percorrê-lo nesta, mas que não estou disposta a me submeter à perda da convivência com meus filhos e meu marido. Não, de novo, não, e fico tentando fingir que não é comigo a intuição que brota cada vez mais forte no meu coração. Perder o despertar de meus filhos, perder o ombro do meu marido, perder a rotina tranqüila de um lar feliz, e sair pelo mundo sendo canal da Energia, ah! isso não, por favor, não. Haverá outra forma? Já segui os sinais tantas vezes. Saí da informática, um mundo tão sem dor e perfeito, e fui atender ao chamado para cuidar de almas. Anos e anos de amor e dedicação como curadora, numa entrega absoluta. Ainda houve os que necessitavam de cuidados e amor em casa e tudo isso sugou minhas energias de tal forma que tive que dar um basta. Precisei cuidar um pouco de mim. Pensei numa estratégia. Para continuar compartilhando o Amor, poderia escrever – blogs, livros, livros para crianças -, dar palestras, dizer ao mundo o que o Sagrado desejasse, ao mesmo tempo em que teria uma vida mais tranqüila, cercada do que me faz feliz. E assim construí meu reino encantado – com uma casa na praia e outra na mata – onde vivo este Era uma vez...

A Vida até que me deixou quieta por um tempo, mas os sonhos chegaram e me avisaram que estava pronta e que precisa começar; o tarô me disse claramente que deveria trabalhar com cura espiritual; os astros me colocaram no caminho de algo inusitado, ligado à espiritualidade, ‘algo novo, que está no sangue de sua família, mas que ninguém fez antes, e você vai poder trabalhar em casa’. Medito, rezo, oro, entrego-me. “Pai, em Tuas mãos entrego meu destino, mas, por favor, mostre-me qual é”. Não consigo saber.

Lendo o livro, fui tendo acesso às memórias do que combinei antes de vir para cá. As coisas ainda não estão arrumadas coerentemente em minha cabeça, apesar de já começarem a tomar forma no coração, centro de desenvolvimento humano, contato com a natureza, trabalhos de cura espiritual, sítio do meu avô, terra da minha mãe, palestras pelo mundo, literatura como fonte de esperança para crianças, pacientes terminais, foram coisas assim que surgiram enquanto aprendia com Elizabeth que o que importa na hora da morte é a vida que vivemos, não aquela que ficou esperando acontecer, guardada em algum cantinho de nossas almas. “Quanto amor você compartilhou na sua breve passagem pela Terra?”, será esta a pergunta do chaveiro do céu.

E agora?

23.11.11

Estava na rede lendo um livro fantástico, A Roda da Vida, quando meu filho caçula chegou e me entregou um papel:


- Seu último boletim.

Não entendi direito o que estava acontecendo.

- Aprovado. – disse ele.

Comecei a chorar de alegria, pois compreendi que ele estava livre da tortura de um ensino médio completamente descontextualizado. Foram anos difíceis, notas baixas, dificuldades de se manter preso à cadeira na sala de aula. Aliás, a palavra é preso mesmo, pois era assim que se sentia quando tinha que manter a bunda na cadeira, com a cabeça passeando por outros lugares e outros tempos.

Lembro o livro de Gilberto Dimenstein e Rubem Alves, Fomos Maus Alunos, onde relatam as tristezas de suas vidas escolares. Meninos inteligentíssimos que amargaram o fracasso escolar porque não sucumbiam às regras do sistema educacional vigente. Com meu caçula também foi assim. Doía quando o levava para as aulas particulares do final do ano e o professor me chamava no canto e comentava:

- É uma pena que ele esteja com notas baixas. É muito, muito inteligente e não tem dificuldade de aprendizagem alguma.

É, professor, a dificuldade é do sistema que não está preparado para educar os jovens num mundo onde não se aceita mais a submissão ao autoritarismo. Eles perguntam, questionam, lêem muito, discutem nas redes sociais. Não é mais a escola quem determina quais as informações às quais terão acesso. E aí... a insatisfação é geral. Há tanto que aprender, tanto por descobrir, e lá ficam os professores querendo que se decore os nomes das capitanias hereditárias, como denuncia Gabriel, o Pensador, na sua música Estudo Errado.

O que fazer?

Assumo, em parte, a responsabilidade por esse descompasso. Desde pequenos, ainda com fraldas e mamadeiras, meus filhos visitam museus, teatros, cinemas, festivais, livrarias. No carro sempre se ouve música de qualidade – da popular brasileira às clássicas – e, por isso, nenhum deles perguntará se Chico Buarque ainda está vivo, até porque ficamos mais de seis horas na fila para comprar os ingressos do seu último show aqui. No Natal, no Dia das Crianças, são famosos nossos presentes de kit cultural, com cd de música, dvd com filme ou show, e livros. Há ainda histórias com material de desenho e pintura, brincadeiras com água e contato com a natureza.

Uma vez, quando ainda eram crianças, faltou luz. Pegamos uma vela, o livro de Contos dos Irmãos Grimm, uma colcha e nos deitamos no chão da sala para uma viagem pelo mundo dos contos de fadas. Ficamos assim até que a luz voltasse e acabasse a magia do Era uma vez...

Pipoca e brigadeiro, para as sessões de cinema em casa; historinhas contadas na hora de dormir; conversas à mesa, sem tv ligada, nas refeições compartilhadas pela família reunida.

Isso tudo foi formando uma base intelectual sólida, onde aprenderam a não repetir informações como papagaios, mas a assumirem uma atitude reflexiva diante do que encontram pela frente. O caçula, o tal das notas baixas, está terminando de ler o livro Gregório Bezerra, Memórias. Vai fazer Ciências Sociais e Psicologia. O mais velho está fazendo Cinema e Produção Fonográfica. A mais velha conclui jornalismo e vai aprender como se fazem documentários. Nada de Direito, Medicina e Engenharia. E aí, como aguentar uma escola que prepara para o vestibular e não discute nada sobre a vida? Só ouvindo música dos lps de nossa radiola!!!!

19.11.11

Entrou na padaria com uma bolsinha, daquelas para moedas, na mão.


- Bom dia, moça! Por favor, me dê dois reais de pão.

Pegou a sacola e se dirigiu ao caixa. Quando abriu a bolsinha para pegar o dinheiro, contou as moedas, pegou na prateleira do lado um pacote de pão molinho. Contou de novo, pegou um pacote de biscoito de chocolate.

Olhou para mim, na fila do caixa, e comentou:

- É que cada filho gosta de uma coisa e, apesar do dinheiro estar pouco, gosto tanto de fazer um denguinho.

Sorriu, pegou as sacolas e saiu toda feliz.

Paguei minhas compras, sem precisar contar moedas, e fiquei me perguntando:

- Será que sei o que aqueles que amo gostam?




Lançamento do Doida? Feliz! na Fliporto. Muito sol, muito calor e minha inabalável teimosia em me manter fiel àquilo que acredito. Camisas, com a imagem da capa do livro, para a família. Água, refrigerante, bombons, chocolates, pirulitos, pipocas. As toalhas das mesas foram idealizadas por meu coração, metaforicamente representando os pedaços de mim que fui costurando ao longo da vida.



Levei o paraíso da praia na delicadeza do arranjo de flores colhidas no jardim com gosto de sal. Produção da minha filha, apoio do meu marido. Chegaram alguns amigos, faltaram outros. Tinham aqueles que já haviam prestigiado o lançamento do Jardim Encantado dias antes. Não posso avaliar estes momentos como sucesso de vendas, infelizmente para a Editora Coqueiro, mas fatos que ocorreram me deram forças para trilhar com alegria o caminho da profissão de escritora.




No dia do Jardim Encantado presenciei uma criança escolhendo meus livros, também o Trocando de Lugar, completamente fascinada. Pude ouvir o relato de outra que havia lido um deles e me deliciei quando contou que o livro já estava todo rasgado, de tanto que havia sido folheado. Encontrei com uma amiga querida que comentou que adorava os textos que publicava no blog e que não estava gostando do meu silêncio, pois há dias não apareciam novidades por lá. Também falou que sempre dava de presente para as crianças os meus livros e que elas adoravam.



Várias pessoas pararam para ver o Doida? Feliz!, elogiando a capa – obrigada, Luiz Arrais! – e o título. A primeira venda, inclusive, foi para uma mulher que passou, olhou e se apaixonou.

Apesar da rotina da escrita impor solidão, gostei desse contato com leitores. Há troca imediata de energia, além daquela que ocorre quando estes se encontram secretamente com quem coloca o coração na ponta do lápis.




Mais quatro livros infantis estão na fase de ilustração – Gabriela Araujo e Eduardo Souza – e outro, com textos curtos, já começou a ser organizado. No último final de semana, depois dos lançamentos, surgiu, num sonho, a história de Benedicto, o amigo invisível. Mas esta vai ter que esperar um pouquinho.

Só a agradecer...





11.10.11

Sempre acreditei na realização de sonhos. Mas ainda não tinha vivido a experiência de ver acontecer um sonho sonhado dormindo. Foi o que aconteceu aqui em casa, no jardim, com o lançamento do livro infantil Jardim Encantado.

Há algum tempo uma amiga-bruxa me ligou e falou:
- Mulher, sonhei com fadas e duendes e eles me pediam para dizer a você que seu livro tem que ser lançado num jardim porque os elementais querem participar da festa. E no sonho eu vi você numa mesa de madeira, cercada de flores, grama e árvores, autografando os livros para os amigos, muitos amigos.
Fiquei encantada com a mensagem, até porque minha amiga não sabia que o livro que eu iria lançar contava a história de uma menina num jardim, com fadas e duendes. Mas havia os compromissos já assumidos e teríamos lançamentos na Fliportinho, na Letra e Voz e na Bienal.
Esqueci que não podemos lutar contra as determinações do Sagrado. Claro que aconteceram mil problemas e os livros não ficaram prontos para os eventos agendados. As fadas conseguiram o que queriam e tivemos um lançamento recheado de magia, cheio de fadas, duendes, gnomos, bruxas, amigos, parentes. A lua brilhou no céu e nos abençoou com sua luz. Ouvi as estrelas sorrindo. Comemos brigadeiro, pipoca, e doces. A energia foi especial e senti que o Universo estava feliz.
Só a agradecer a todos os seres que estavam aqui, compartilhando nosso Jardim Encantado.












10.10.11

Ao ler a matéria de uma revista sobre a nova linha editorial de uma empresa governamental, fiquei com meu coração apertado. Pensei, então, sobre o que ele estava querendo me dizer, pois, toda vez que fica assim, sei que aí tem coisa. O que me incomodou no texto foi a informação que a editora, na sua produção infantil, iria privilegiar histórias que trouxessem uma reflexão sobre temas que nossa sociedade precisa transformar, como a exclusão social, a educação especial, algo que mexesse com nossa subjetividade e nos desse coragem para agir no mundo. A matéria também falava sobre a importância da valorização da cultura local e que este aspecto seria analisado no momento de escolhas das obras a serem postas no catálogo da editora.


Entendo este cuidado, precisamos valorizar nossas raízes, precisamos transformar a realidade perversa que encontramos nas esquinas da vida e para isso devemos usar de todos os artifícios eticamente aceitos, mas quando penso no universo infantil, não consigo não pensar nos arquétipos, na imaginação, na fantasia que habitam as crianças de todo o mundo, não importando o tempo e o lugar de suas brincadeiras, de seus sonhos e de seus medos.

Ana Maria Machado, no seu livro Silenciosa Algazarra, faz uma análise sobre os pontos de contato entre as histórias recolhidas pelos irmãos Grimm e as recolhidas por folcloristas brasileiros. Em um determinado momento, Ana, para os íntimos, relata o registro de uma contadora de histórias, filha de escravos, que contava histórias aprendidas em sua Mãe África, misturadas com outras iguaiszinhas às encontradas no mundo europeu, e acrescidas das ouvidas nos mitos indígenas. Muito lindo este encontro de culturas!

Por tudo isso, incomodou-me o recorte no mundo da literatura infantil. Estarão banidas da fantasia das crianças de minha terra as fadas, os duendes, os gnomos, as princesas, as bruxas, as madrastas más, os dragões? Não haverá mais pote de ouro no final do arcoíris, a não ser que esteja colocado embaixo do umbuzeiro?As árvores que tocarão nas nuvens do céu terão que ser coqueiros?

Meu coração não fica feliz quando se coloca a literatura a serviço da educação, no que se refere à moral da história. Crianças, escovem os dentes antes de dormir. Crianças, tratem os idosos com respeito. Crianças, crianças, crianças... façam isso, façam aquilo. Temos muitas histórias para usar como instrumento de divulgação das ideias valorizadas por nossa cultura, mas podemos chamar este tipo de texto de literatura infantil? Volto no tempo e paro na época em que a criança era eu e me vejo deitada na rede, no sofá, na cama, lendo historinhas de fadas e de bruxas que tocavam minha alma. Escuto a voz de minha mãe contando histórias de castelos, cavalos brancos, príncipes e princesas. Isso tudo me transportava para o mundo da fantasia.

Gostava da época em que nossa língua tinha estórias e histórias. Talvez hoje essas duas estejam muito misturadas. Lembrei-me do poema de Dom Hélder, Minha Pedagogia, que sempre compartilho nas palestras que faço. Ei-lo:



Não ensine a seu filho que as estrelas não são do tamanho que parecem ter:

maiores que a Terra!

São lâmpadas que os anjos acendem todos os dias

assim que o sol começa a escurecer...

Não diga a seu filho que as asas dos anjos só existem em sua imaginação.

Já vi meu anjo em sonho e posso jurar que

ele tem asas claras que até parecem feitas de luz.

Não encha a cabeça de seu filho ensinando-lhe hipóteses precárias

que amanhã de nada servirão.

Povoe de beleza o olhar inocente de seu filho.

Dê-lhe uma provisão de bondade que chegue para a marcha da vida.

Infunda-lhe na alma o amor de Deus

- e tudo o mais, por acréscimo, ele terá.



Aprendi com ele a não abandonar num canto a criança que existe em mim. Sigo a vida acreditando em fadas, duendes, bruxas, e transformando minha história numa estória cheia de magia onde há ‘era uma vez... e foram felizes para sempre’.

 




3.10.11








Fotos: Roberto Arrais


Ando lendo e pensando sobre a Paz. Será a Paz a ausência da guerra? Poderá a Paz conviver com a fome? E com a destruição de Gaia? Haverá Paz enquanto homens explorarem outros homens?


E aí me lembrei do currículo da educação formal praticado na maioria das escolas do mundo. Que história contamos? Por que apresentamos como herois aqueles que venceram, na nossa perspectiva, guerras contra outros povos e mataram pessoas, destruíram territórios, exterminaram culturas? Serão esses os líderes que queremos como exemplos para as gerações do presente e do futuro? Devemos visitar o passado para aprender com ele e não repetir os mesmos erros.

Tenho um amigo alemão que me contou que lá, no país dele, a história da segunda guerra é contada e recontada durante todo o período escolar para que aquele horror mais nunca se repita. Visitando no Chile um Memorial à época dos anos difíceis, li e ouvi várias vezes, ‘Nunca mais.’.

No Brasil, como anda nosso aprendizado de história? Quase que exterminamos a cultura indígena, destruímos seus territórios, seus costumes, impusemos uma língua e uma religião. Achamos que sabíamos tudo e tentamos domesticá-los. Ledo engano. Descobrimos tardiamente que os mestres eram eles. Vamos às universidades para aprender sobre desenvolvimento sustentável. Já os índios vivenciam a sustentabilidade. É muito diferente.

Agora, depois de reconhecermos que erramos em quase tudo, no que se refere a crescimento econômico e destruição de recursos naturais, estamos vivendo no país um momento de grande retrocesso com a proposta indecente do novo Código Florestal e com a construção da usina de Belo Monte. O cacique chorou e devemos chorar junto com ele.

Será que é impossível para a espécie humana viver em harmonia? Está na hora de aprendermos com as outras formas de existência o real significado da palavra Paz.


27.9.11

Gratidão. Algo gostoso de se sentir e que deixa o coração quentinho. Sempre associo esta sensação a alguma manifestação do Sagrado e reverencio agradecendo as bênçãos que recebo Dele.


Há uns dias li um mail com a informação de que um grande mestre que tive se encontrava com problemas de saúde. Fiquei arrasada. Chorei. Comecei a ver o filminho dos nossos encontros, onde de forma amorosa promoveu tantas curas. Aprendi muito com ele. Muito conhecimento, muitas tradições, muita sabedoria. Apresentou para mim um mundo novo, até então desconhecido, e me colocou no caminho da curadora de almas que hoje sou.

Não sabia que sentia por ele um amor tão grande. Ainda não tinha percebido que sua presença fora um divisor de águas na minha vida, sendo uma antes e outra depois de nossos cursos de imersão. Vidas passadas a limpo. Energias há tempos presas e agora liberadas para a felicidade. Medos e culpas diluídos como que num passe de mágica. Foi com ele que aprendi bruxaria – a forma que encontro para nomear o inexplicável.

E agora, na doença, continua me ensinando muito. Percebo que é real a lei do retorno, pois deu tanto amor para tantos, no mundo todo, que recebe uma corrente de oração e de ação para que fique bem. Ele merece nosso amor, nosso carinho, nosso respeito e, principalmente, nossa gratidão.

Para você, mestre amado, um beijo carinhoso no seu coração lindo.








26.9.11

7:30h. Para muitos o dia ainda nem começou e já fiz tanta coisa. Acordei às 5h, fiz bruxaria, depois meditei, tomei banho. Li mails, blogs, FB, jornais online e passei no astro.com. Ajeitei o café da manhã, arrumei a mesa, limpei xixi e cocô de Hércules. Coloquei água nas plantas, tirei cópia do atestado médico de meu filho, separei seu remédio. Peguei roupa nos cestos dos banheiros, enxaguei roupa, estendi roupa, lavei roupa, tirei roupa do varal. Acordei os meninos. Lembrei a hora para meu marido. Juntos à mesa, comemos, conversamos e rimos.


Saíram para seus afazeres e recomecei a rotina. Tirei a mesa, guardei os gelados, lavei a louça. Mais xixi de Hércules, mais roupa na máquina. Tudo em ordem. Agora, sim, posso começar a trabalhar: ler, escrever, ler, escrever, ler, escrever.

É estranho assumir que meu trabalho atual está relacionado a coisas que para muitas outras pessoas é visto como apenas um prazer. Sinto muito tesão no que faço e me abri para escutar, ver e sentir o mundo. Isto tem realizado uma enorme transformação na forma como vivo e como compreendo tudo que experiencio. Tenho seguido um ritmo diferente daquele do relógio. O sol, o galo, as refeições, o jumento, a lua e as estrelas são meus novos referenciais de tique-taque.

Escrevo, agora, no computador de meu quarto, junto à varanda, vendo o verde da mata, com Recife e sua muralha de pedras lá atrás. Canto de pássaros, música do pavão, cheiro de terra molhada pela chuva. Ontem estava na praia, sentindo aquele cheiro maravilhoso de mar, de sargaço, ouvindo o farfalhar das palhas dos coqueiros – esta é para Pedro Escobar! -, sentindo a água salgada envolvendo meu corpo. Caminhada, leitura na rede, água no jardim, conversa com vinho. Alternando campo e praia, yin e yang, abasteço-me para ser inteira.

Não sei precisar quando, talvez à época em que trabalhava com computadores, idealizava um cotidiano simples assim. Apesar de já imaginar, até em detalhes, não consegui capturar todas as delícias de ser uma dona de casa, logo eu, a grande intelectual. Hoje realizo este sonho. Sei que não ficarei assim para sempre, mas adoro poder ser muitas numa só. Já, já, novas coisas me chamarão, novas aprendizagens ser-me-ão necessárias e me jogarei nas possibilidades, como venho fazendo durante quase meio século de existência aqui em Gaia.

As crises aparecem, tiram momentaneamente até meu sossego, mas não mexem na estrutura que venho desenvolvendo. A Alma, o Self ganha espaço em mim e isso provoca um estado de felicidade inabalável. Gosto de chamar de Sagrado esta Energia que me envolve. Sagrado, Universo, Deus, Deusa, não importa. Quando me sinto fraquinha, realizo algumas magias. Medito, tomo banho quente, escrevo, rezo, cerco-me de pessoas que amo, ouço boa música, coloco água nas plantas, vejo filmes que me enriquecem, leio poesia, procuro descobrir que mensagens estão nas entrelinhas da situação difícil e vou buscar orientação em livros que aparecem em minhas mãos por sincronicidade. Café quente, suco de laranja, mel de abelha são os remédios que harmonizam meu corpo. O contato com a natureza me reabastece do Sagrado. Trazer para o momento as coisas que me dão prazer é a forma que utilizo para chamar meus Espíritos Protetores e me conectar com a alegria. Compartilhar-me com aqueles que amo – principalmente meu marido e meus filhos – torna o meu viver pleno. E assim, com o corpo ancorado e a alma solta, vou inventando projetos que saem do coração, inspirados por uma vozinha que ouço e nem sei de onde vem.

23.9.11

Quando li pela primeira vez a carta do cacique de Seattle, identifiquei-me na hora. Estava dito ali algo que ecoava em minha alma. O Universo todo está conectado, tudo está interligado. Gostei de me descobrir pensando que, de alguma forma, a mesma substância que me envolvia também passeava junto das estrelas.


Desde que comecei a habitar casas, não mais apartamentos, pude vivenciar esta conexão de uma forma mais concreta. Percebo quando chove, quando faz sol, quando venta muito, quando dá terral. Diferencio os cantos dos pássaros, sei quando águias estão por perto, quando a coruja já está na árvore em frente da nossa casa. Observo que os cajueiros já gestam, tudo florido, os frutos que surgirão.

Acordo cedo e vejo Recife acordar. Medito, desço para começar meu dia e vou organizar o café da manhã. Ontem tive uma linda surpresa. Encontrei, em nossa sala, um lindo passarinho. Voou por todo canto, pousou em tudo que era lugar. Olhou-se no espelho, fez cocô na jarra antiga – que foi de minha mãe e é um objeto sagrado aqui em casa. Ouvi o miado do gato que anda querendo vir morar por aqui. Percebi que o timbu havia visitado nossa cozinha. Hércules, nosso cachorro, seguia meus passos. Quando fui para a pia, a rã que habita aquele espaço saltou assustada. As lagartixas também começaram a passear e as aranhas foram saindo de fininho.

Os meninos foram para a vida de estudante e fui colocar água no jardim. Borboletas, ziguezigues, formigas, sagüis, pavão, tô-fracos, siriema e, novamente, os pássaros, estavam comigo usufruindo do verde, das cores, dos cheiros, do calor do sol, da brisa suave, enfim, de todas as delícias que a natureza proporciona e que eu, no meu mundinho antigo, não conseguia perceber.

Sejam bem-vindos!

Fotos: Roberto Arrais








13.9.11

O dia ainda não amanheceu de todo. A cidade ainda está com suas luzes acesas, há muriçocas pelo quarto e os passarinhos começam a despertar. Enfeitiçam-me com seu canto. Acordei e fui cumprir meu primeiro ritual matinal. Abrir a varanda, respirar o ar puro, sentir o cheiro de terra molhada, ouvir o silêncio. Depois abrir a porta do quarto, abrir a janela do corredor e fazer vento. De repente, olhei para o céu e me deparei com ela, enorme, linda, poderosa, exuberante, uma verdadeira rainha, amarela e iluminando o céu. Noite de lua cheia. Achei graça porque hoje visitou meus sonhos e brincou de rodar bem depressa, gerando um brilho diferente.


- Bom dia, Majestade!

Desci as escadas e fui tirar a proteção noturna para evitar – ou melhor, tentar evitar – que o timbu coma a refeição de Hércules. Agora, aqui em casa, temos como hóspedes freqüentes um timbu (um tipo de rato, roedor) e um gato. O morador oficial é um cachorro. Todos convivendo em harmonia. Há rãs, aranhas, lagartixas, ziguezigues, borboletas, pássaros, pavões, siriemas, sagüis, tô-fracos, algumas abelhas, formigas, cupins (estes estão comendo tudo), pombos, morcegos, águias. Como diz minha filha, uma verdadeira Arca de Noé. Cheguei à varanda para apagar o abajur de luz verde e ouvi muito claramente o canto de um pássaro. Procurei com mais cuidado e o descobri morando dentro da casinha de nosso sino dos ventos que fica pendurado junto das plantas. Lindo ver sua cabecinha para fora.

Subi e resolvi escrever. Não dava mais para voltar a dormir sem transformar em palavras, minha forma de oração, todos estes meus encontros com o Sagrado. Aliás, Ele tem falado um bocado comigo. Tenho sonhado muito, conversado com os Elementais – fadas e duendes por toda parte-, sentido a presença quase física de alguns e algumas que já se foram, reverenciado os Quatro Elementos, percebido a energia das pedras e das plantas. Ontem, enquanto colocava água no jardim, chegaram duas pavoas e ficaram ao meu lado dando os seus gritos mágicos. Quando me sentei para ler na varanda, surgiu a algazarra dos tô-fraco. Meu marido lia na rede, o sol estava indo dormir e fiquei encantada com a Divindade daquele momento. Fazer Amor, então, é, para mim, uma das formas mais Iluminadas Dele se manifestar. A emoção é tanta que muitas vezes precisa ser expressa em lágrimas. Acompanhar meu marido nos instantes em que está registrando o Sagrado é um outro jeito de rezar. Também sinto assim quando ouço o som de uma folha caindo, varro o jardim, passo roupa, faço café e leite batido, ponho a mesa com uma louça bonita. Lindas estão as toalhas que inventei e que deixam mais belos os encontros da família em volta da mesa. Lembro que Neruda falava que a criatividade em si era tão forte que precisava se expressar de diversas formas. Guardando as devidas proporções, comigo também é assim. Crio, crio, crio, em tudo que faço. E durante tanto tempo trancafiei a artista que habita em mim. Galo cantou. Bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi.

Há alguns anos, num encontro com um xamã siberiano, ouvi que estaria mudando de dimensão. Até que mudei, mas nada perto do que experiencio agora. Tenho mais consciência dos campos energéticos, estou mais sábia e sei transitar melhor através das várias freqüências de vibração energética, percebo os portais, converso com o tarô, vivo completamente imersa nessa dimensão que não sei nomear, faço bruxaria por aí, ajudando pessoas e lugares a terem mais alegria. O ritmo de vida é outro, os valores bem diferentes dos da maioria das pessoas com quem convivi. Talvez alguns dessem a todo este processo o nome de loucura. Prefiro achar uma palavra que traduza fielmente o que se passa em minha alma: felicidade.







Fotos: Roberto Arrais