26.9.11

7:30h. Para muitos o dia ainda nem começou e já fiz tanta coisa. Acordei às 5h, fiz bruxaria, depois meditei, tomei banho. Li mails, blogs, FB, jornais online e passei no astro.com. Ajeitei o café da manhã, arrumei a mesa, limpei xixi e cocô de Hércules. Coloquei água nas plantas, tirei cópia do atestado médico de meu filho, separei seu remédio. Peguei roupa nos cestos dos banheiros, enxaguei roupa, estendi roupa, lavei roupa, tirei roupa do varal. Acordei os meninos. Lembrei a hora para meu marido. Juntos à mesa, comemos, conversamos e rimos.


Saíram para seus afazeres e recomecei a rotina. Tirei a mesa, guardei os gelados, lavei a louça. Mais xixi de Hércules, mais roupa na máquina. Tudo em ordem. Agora, sim, posso começar a trabalhar: ler, escrever, ler, escrever, ler, escrever.

É estranho assumir que meu trabalho atual está relacionado a coisas que para muitas outras pessoas é visto como apenas um prazer. Sinto muito tesão no que faço e me abri para escutar, ver e sentir o mundo. Isto tem realizado uma enorme transformação na forma como vivo e como compreendo tudo que experiencio. Tenho seguido um ritmo diferente daquele do relógio. O sol, o galo, as refeições, o jumento, a lua e as estrelas são meus novos referenciais de tique-taque.

Escrevo, agora, no computador de meu quarto, junto à varanda, vendo o verde da mata, com Recife e sua muralha de pedras lá atrás. Canto de pássaros, música do pavão, cheiro de terra molhada pela chuva. Ontem estava na praia, sentindo aquele cheiro maravilhoso de mar, de sargaço, ouvindo o farfalhar das palhas dos coqueiros – esta é para Pedro Escobar! -, sentindo a água salgada envolvendo meu corpo. Caminhada, leitura na rede, água no jardim, conversa com vinho. Alternando campo e praia, yin e yang, abasteço-me para ser inteira.

Não sei precisar quando, talvez à época em que trabalhava com computadores, idealizava um cotidiano simples assim. Apesar de já imaginar, até em detalhes, não consegui capturar todas as delícias de ser uma dona de casa, logo eu, a grande intelectual. Hoje realizo este sonho. Sei que não ficarei assim para sempre, mas adoro poder ser muitas numa só. Já, já, novas coisas me chamarão, novas aprendizagens ser-me-ão necessárias e me jogarei nas possibilidades, como venho fazendo durante quase meio século de existência aqui em Gaia.

As crises aparecem, tiram momentaneamente até meu sossego, mas não mexem na estrutura que venho desenvolvendo. A Alma, o Self ganha espaço em mim e isso provoca um estado de felicidade inabalável. Gosto de chamar de Sagrado esta Energia que me envolve. Sagrado, Universo, Deus, Deusa, não importa. Quando me sinto fraquinha, realizo algumas magias. Medito, tomo banho quente, escrevo, rezo, cerco-me de pessoas que amo, ouço boa música, coloco água nas plantas, vejo filmes que me enriquecem, leio poesia, procuro descobrir que mensagens estão nas entrelinhas da situação difícil e vou buscar orientação em livros que aparecem em minhas mãos por sincronicidade. Café quente, suco de laranja, mel de abelha são os remédios que harmonizam meu corpo. O contato com a natureza me reabastece do Sagrado. Trazer para o momento as coisas que me dão prazer é a forma que utilizo para chamar meus Espíritos Protetores e me conectar com a alegria. Compartilhar-me com aqueles que amo – principalmente meu marido e meus filhos – torna o meu viver pleno. E assim, com o corpo ancorado e a alma solta, vou inventando projetos que saem do coração, inspirados por uma vozinha que ouço e nem sei de onde vem.

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