23.11.11

Estava na rede lendo um livro fantástico, A Roda da Vida, quando meu filho caçula chegou e me entregou um papel:


- Seu último boletim.

Não entendi direito o que estava acontecendo.

- Aprovado. – disse ele.

Comecei a chorar de alegria, pois compreendi que ele estava livre da tortura de um ensino médio completamente descontextualizado. Foram anos difíceis, notas baixas, dificuldades de se manter preso à cadeira na sala de aula. Aliás, a palavra é preso mesmo, pois era assim que se sentia quando tinha que manter a bunda na cadeira, com a cabeça passeando por outros lugares e outros tempos.

Lembro o livro de Gilberto Dimenstein e Rubem Alves, Fomos Maus Alunos, onde relatam as tristezas de suas vidas escolares. Meninos inteligentíssimos que amargaram o fracasso escolar porque não sucumbiam às regras do sistema educacional vigente. Com meu caçula também foi assim. Doía quando o levava para as aulas particulares do final do ano e o professor me chamava no canto e comentava:

- É uma pena que ele esteja com notas baixas. É muito, muito inteligente e não tem dificuldade de aprendizagem alguma.

É, professor, a dificuldade é do sistema que não está preparado para educar os jovens num mundo onde não se aceita mais a submissão ao autoritarismo. Eles perguntam, questionam, lêem muito, discutem nas redes sociais. Não é mais a escola quem determina quais as informações às quais terão acesso. E aí... a insatisfação é geral. Há tanto que aprender, tanto por descobrir, e lá ficam os professores querendo que se decore os nomes das capitanias hereditárias, como denuncia Gabriel, o Pensador, na sua música Estudo Errado.

O que fazer?

Assumo, em parte, a responsabilidade por esse descompasso. Desde pequenos, ainda com fraldas e mamadeiras, meus filhos visitam museus, teatros, cinemas, festivais, livrarias. No carro sempre se ouve música de qualidade – da popular brasileira às clássicas – e, por isso, nenhum deles perguntará se Chico Buarque ainda está vivo, até porque ficamos mais de seis horas na fila para comprar os ingressos do seu último show aqui. No Natal, no Dia das Crianças, são famosos nossos presentes de kit cultural, com cd de música, dvd com filme ou show, e livros. Há ainda histórias com material de desenho e pintura, brincadeiras com água e contato com a natureza.

Uma vez, quando ainda eram crianças, faltou luz. Pegamos uma vela, o livro de Contos dos Irmãos Grimm, uma colcha e nos deitamos no chão da sala para uma viagem pelo mundo dos contos de fadas. Ficamos assim até que a luz voltasse e acabasse a magia do Era uma vez...

Pipoca e brigadeiro, para as sessões de cinema em casa; historinhas contadas na hora de dormir; conversas à mesa, sem tv ligada, nas refeições compartilhadas pela família reunida.

Isso tudo foi formando uma base intelectual sólida, onde aprenderam a não repetir informações como papagaios, mas a assumirem uma atitude reflexiva diante do que encontram pela frente. O caçula, o tal das notas baixas, está terminando de ler o livro Gregório Bezerra, Memórias. Vai fazer Ciências Sociais e Psicologia. O mais velho está fazendo Cinema e Produção Fonográfica. A mais velha conclui jornalismo e vai aprender como se fazem documentários. Nada de Direito, Medicina e Engenharia. E aí, como aguentar uma escola que prepara para o vestibular e não discute nada sobre a vida? Só ouvindo música dos lps de nossa radiola!!!!

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