13.9.11

O dia ainda não amanheceu de todo. A cidade ainda está com suas luzes acesas, há muriçocas pelo quarto e os passarinhos começam a despertar. Enfeitiçam-me com seu canto. Acordei e fui cumprir meu primeiro ritual matinal. Abrir a varanda, respirar o ar puro, sentir o cheiro de terra molhada, ouvir o silêncio. Depois abrir a porta do quarto, abrir a janela do corredor e fazer vento. De repente, olhei para o céu e me deparei com ela, enorme, linda, poderosa, exuberante, uma verdadeira rainha, amarela e iluminando o céu. Noite de lua cheia. Achei graça porque hoje visitou meus sonhos e brincou de rodar bem depressa, gerando um brilho diferente.


- Bom dia, Majestade!

Desci as escadas e fui tirar a proteção noturna para evitar – ou melhor, tentar evitar – que o timbu coma a refeição de Hércules. Agora, aqui em casa, temos como hóspedes freqüentes um timbu (um tipo de rato, roedor) e um gato. O morador oficial é um cachorro. Todos convivendo em harmonia. Há rãs, aranhas, lagartixas, ziguezigues, borboletas, pássaros, pavões, siriemas, sagüis, tô-fracos, algumas abelhas, formigas, cupins (estes estão comendo tudo), pombos, morcegos, águias. Como diz minha filha, uma verdadeira Arca de Noé. Cheguei à varanda para apagar o abajur de luz verde e ouvi muito claramente o canto de um pássaro. Procurei com mais cuidado e o descobri morando dentro da casinha de nosso sino dos ventos que fica pendurado junto das plantas. Lindo ver sua cabecinha para fora.

Subi e resolvi escrever. Não dava mais para voltar a dormir sem transformar em palavras, minha forma de oração, todos estes meus encontros com o Sagrado. Aliás, Ele tem falado um bocado comigo. Tenho sonhado muito, conversado com os Elementais – fadas e duendes por toda parte-, sentido a presença quase física de alguns e algumas que já se foram, reverenciado os Quatro Elementos, percebido a energia das pedras e das plantas. Ontem, enquanto colocava água no jardim, chegaram duas pavoas e ficaram ao meu lado dando os seus gritos mágicos. Quando me sentei para ler na varanda, surgiu a algazarra dos tô-fraco. Meu marido lia na rede, o sol estava indo dormir e fiquei encantada com a Divindade daquele momento. Fazer Amor, então, é, para mim, uma das formas mais Iluminadas Dele se manifestar. A emoção é tanta que muitas vezes precisa ser expressa em lágrimas. Acompanhar meu marido nos instantes em que está registrando o Sagrado é um outro jeito de rezar. Também sinto assim quando ouço o som de uma folha caindo, varro o jardim, passo roupa, faço café e leite batido, ponho a mesa com uma louça bonita. Lindas estão as toalhas que inventei e que deixam mais belos os encontros da família em volta da mesa. Lembro que Neruda falava que a criatividade em si era tão forte que precisava se expressar de diversas formas. Guardando as devidas proporções, comigo também é assim. Crio, crio, crio, em tudo que faço. E durante tanto tempo trancafiei a artista que habita em mim. Galo cantou. Bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi.

Há alguns anos, num encontro com um xamã siberiano, ouvi que estaria mudando de dimensão. Até que mudei, mas nada perto do que experiencio agora. Tenho mais consciência dos campos energéticos, estou mais sábia e sei transitar melhor através das várias freqüências de vibração energética, percebo os portais, converso com o tarô, vivo completamente imersa nessa dimensão que não sei nomear, faço bruxaria por aí, ajudando pessoas e lugares a terem mais alegria. O ritmo de vida é outro, os valores bem diferentes dos da maioria das pessoas com quem convivi. Talvez alguns dessem a todo este processo o nome de loucura. Prefiro achar uma palavra que traduza fielmente o que se passa em minha alma: felicidade.







Fotos: Roberto Arrais

Um comentário:

Anônimo disse...

Você é uma pessoa muito iluminada! Um beijo bem grande no seu coração.
Taci