19.1.11

Quando era pequena sonhava em ser aeromoça quando crescesse. A vida me levou por outros caminhos e viajei muito pouco. Casei, tive filhos, cuidei dos meus pais. Também investi financeiramente na aquisição de casas de praia e de campo, com cortinas nas janelas, o que me deixou num útero por muito tempo.
Com o término de um ciclo da minha vida, estou novamente sentindo a liberdade que tinha aos dezoito anos quando apenas me pertencia. Esta tem sido uma sensação muito boa e estou reaprendendo a voar.
Comecei devagar, resgatando milhas – confesso que tive certa dificuldade para acertar como se faz todo o processo -, reservando pousada pela internet e marcando uma viagem para dois dias depois das minhas tentativas de abrir a gaiola. Consegui. Arrumei mala e segui, com meu marido, para Santiago do Chile, local sonhado por ele em sua adolescência como um lugar para se viver e se lutar pela justiça social.
Estava no avião todo chique, com tv e tudo mais, e fiquei pensando em quantas vezes deixamos de realizar sonhos porque não temos a coragem de arriscar. Como a inércia nos coloca numa zona de conforto! Estávamos sem dinheiro, sem a mínima possibilidade financeira de uma viagem para logo ali quanto mais para uma viagem internacional, e quase que nos conformávamos com a impossibilidade. Mas sou uma mulher que corre atrás do que deseja e que sempre se joga na realização de sonhos e, mais uma vez, confiei e me entreguei. De repente apareceram dólares guardados desde de uma viagem ao Japão, as milhas se transformaram em passagens de avião e tudo estava pronto como num passe de mágica, igual à história de Cinderela que vai ao baile numa abóbora transformada em carruagem por sua fada madrinha. O Universo sempre conspira para a realização de desejos e eu acredito em fadas, duendes e Papai Noel.

Destino

Na origem, o ovo.
Abastecida, alimentada, protegida.
O Todo

No caminho, o ninho.
Acompanhada e quieta.
A Falta.

O destino, o voo.
O Nada.
Solitária e livre.
Abrir as asas e ir às alturas.


Foto: Roberto Arrais


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