20.7.09

Fiquei um tempo separada e conheci a força do preconceito. Agora eu era vista como uma ameaça aos casamentos perfeitos, principalmente àqueles casamentos de fachada. Os maridos de minhas amigas as proibiram da sair comigo, ‘mulher minha não anda com mulher separada’; minhas amigas passaram o braço sobre seus maridos, num ato falho de garantias de posse; minhas amigas também se afastaram pelo medo da sedução do canto da sereia chamado liberdade. Eu tinha vinte e poucos anos, ainda era ingênua e descobri, pela dor, que tinha dormido santa e acordado puta, só porque meu marido tinha ido embora de casa. Hoje acho graça nisso tudo e peço no meu coração:
- Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem.
Terminei casando com o meu amigo, depois de muitas experiências incríveis com o mundo espiritual. Visitamos vários centros e ouvíamos que nosso filho assassinado iria voltar um dia. Tivemos mais dois filhos lindos e mais dois abortos. Um deles foi logo no início da gestação, quando soube do AVC de meu pai. O outro ocorreu anos mais tarde, conseqüência de um feto com problemas genéticos. Também senti muita dor nas duas situações e percebi que havia aprendido a respeitar a vida, não importando a situação em que ela brotasse. O trágico nessas histórias de aborto é que desde pequena não consigo matar nem formigas; sempre pensei que são seres vivos, com uma organização própria e que se as destruísse seria como ETs chegando à Terra e destruindo a população de humanos. Mas, a vida nos ensina que não sabemos do que somos capazes, inclusive na brutalidade dos atos.
Resolvi que a minha prioridade seria a minha família, o meu casamento, os meus filhos. Fiquei trabalhando só um expediente, mesmo que ganhasse menos, e estava sempre disponível para meu marido. Às vezes, coincidia ter cursos de aperfeiçoamento no mesmo dia que ele teria um encontro do Rotary. Qual era a minha opção? O programa dele. Acho que agi assim pelo medo de destruir novamente um casamento. Com o tempo fui esquecendo minha Alma pelos cantos, minha energia foi minguando e percebi que dormia com um inimigo. É amor o sentimento que une duas pessoas quando uma delas não quer o crescimento da outra, ou apenas admite a realização de seus desejos até o ponto em que não haja nenhuma insurreição? A princípio pensei que o inimigo com quem dormia fosse o meu marido, mas descobri, com a ajuda da terapia, que não era ele e, sim, eu mesma, minha maior inimiga, pois o que eu fazia com o que ele fazia comigo era responsabilidade única e exclusiva minha. Foi difícil sair do lugar de vítima e me perceber como minha maior algoz.
O que fazer com essa descoberta? Como me tornar autora de minha própria história?

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