4.12.09

Foto: Roberto Arrais

Acordei cedo hoje, junto com o sol. Coloquei a mesa na varanda, preparei suco, pães. Acendi incenso e liguei o som com músicas da Senhora do Luar. Meditei um pouco. Tomei café, conversando com meu amado. Enquanto comíamos, fomo surpeendidos pelo canto de um bem-te-vi que veio passear em nosso jardim. Ele foi trabalhar e eu fui aguar a grama, as flores e as árvores que circundam a casa. Ao chegar na roseira, senti o perfume delicioso que emanava e me encantei com suas doze rosas que se ofereciam com delicadeza, como se dissessem:
- Este é meu Dom. Estou feliz por fazer minha parte no Universo.
Senti inveja das rosas. Não se perguntavam quem eram, de onde vieram, nem para onde estavam indo. Apenas eram e se entregavam aos prazeres de ser. E eu, tão perdida, sem respostas para muitas das perguntas que me faço agora.
Enquanto lavava a louça, vi um enorme navio passando pela janela. Estava tão perto que quase pude tocá-lo. Forrei a cama e comecei minha rotina de trabalho. Entrei no computador, li os jornais e os blogs de política, vi o que diziam os astros para hoje, verifiquei meus mails. Deitei-me na rede e parti para a segunda parte da minha rotina de labuta: li, li e li. Estou com o livro de Milan Kundera, A Arte do Romance, na tentativa de aprender com os mestres a fazer um texto que seja bom e que exerça sua função no mundo, transportando para suas páginas a imaginação e o coração de quem o leia.
Coloquei meu biquine e fui caminhar na beira da praia. O mar estava seco, ou seja, a maré estava baixa. Andei devagar, sentindo o vento no meu rosto, o calor do sol sobre meus ombros. Vi um bichinho bem pequeno, bem feio, cheio de patas, que carregava sua casa nas costas. Fiquei com pena dele. O mar me chamou para um mergulho e fui entrando com cuidado. A água estava bem morninha, como num chuveiro quente, só que morninha em toda aquela imensidão. As ondas faziam um balanço suave. Entrando ao meu lado estava uma maria-farinha enorme, com as patas azuis, seu típico andar de lado e as garras abertas prontas para me atacar. Seguimos juntas, respeitando o espaço uma da outra. Só deixei minha cabeça de fora e meu corpo sentiu as delícias daquele banho paradisíaco. Peixes começaram a pular ao meu redor. Pisei em algo que se moveu, em seguida, em algo áspero. Puxei-o para minha mãos com os dedos do pé. Era uma linda estrela do mar, com os cílios recheados de animais que se banqueteavam em seu corpo. De repente, um canto no céu e, rapidamente, como num mergulho, voando bem baixinho, um bando de pássaros brancos estavam em fila, numa perfeição matemática. Cheguei a procurar a régua que havia riscado a linha reta. O barulho de avião fez meus olhos se voltarem para o céu. Lá estava ele, bem alto, indo para algum lugar distante. Será que as pessoas que estavam nele tinham idéia da riqueza da vida que acontecia aqui embaixo? Relutei em sair da água, mas o dever me chamava.
Fui à horta, colhi tomates, manjericão e hortelã. Tomei cerveja, deitada numa espriguiçadeira, lendo novamente meu companheiro atual. Mais sons chegaram aos meus ouvidos: a música das enormes palhas do coqueiro, os piados das lavadeiras que vieram passear por nosso jardim, como se já fossem donas da casa. O sol foi dormir e a lua surgiu enorme e amarela dentro do mar, até parecia que o mar estava pegando fogo. Agasalhei-me, peguei uma xícara de café quente e me enrolei na rede para mais uma sessão de leitura. As estrelas no céu piscaram me provocando para nova etapa de trabalho. Hora de escrever. Agora, estou aqui, sentada em frente ao computador, tentando traduzir em palavras uma rotina simples, tranquila e extremamente inteira. Tao.

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