29.8.10

Amiga

Não, amiga, ainda não.

Preciso de mais um chope gelado

para refrescar minha memória

sobre os prazeres da vida.

Tudo tem sido tão amargo.

Quero mudar o rumo desse caminho,

árido como o chão seco do sertão nordestino.

Amiga, o que fazes quando

a chuva molha toda aquela terra rachada

e sua opositora toma conta de cada pedaço,

com pássaros, flores e rios?

Como conter tanta alegria?

Não, amiga, ainda não.

Espera mais um pouco, quietinha,

para que ninguém, nem eu mesma,

perceba tua presença a me espreitar nas esquinas.

Não quero voltar para casa.

Desejo beijos molhados,

cheios de amor e tesão,

em cima da cama ou do gramado do jardim.

Não, amiga, ainda não.

Vou tomar banho de mar,

em plena chuva de verão.

Vou pegar a lua com a língua

e engoli-la de uma só vez

para falar de amor

nos ouvidos daqueles que se sentem solitários

e sonham acordados

com príncipes, princesas e finais felizes.

Não, amiga, ainda não.

Amanhecerei beija-flor

e, a partir de hoje,

não me confinarei nas gaiolas

que inventei para me esconder

das possibilidades de escolhas.

Beijarei todas as flores e

serei todas as cores.

Prometo, amiga,

se me deres mais uma oportunidade,

que serei a liberdade

e percorrerei os lugares livre como o vento,

ora suave, ora forte,

mas sempre inteiro.

Não, amiga, ainda não.

Estou com medo.

Permita-me beber mais um gole,

não mais do chope gelado,

mas da vida que desperdicei e que não vi passar.

A vida, a minha vida, está logo ali.

Não, amiga, ainda não.

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