25.7.11

Sabedoria sertaneja

Visitamos o sertão nordestino novamente. Dessa vez, vivenciamos mais o cotidiano das pessoas que lá habitam e pudemos conhecer seus costumes, suas tradições, seus hábitos.

Moradores de cidade grande, tivemos dificuldade de incorporar a realidade de se comer o que a comunidade produz no local, sem as idas aos supermercados para comprar o que se tem vontade de comer. Chegamos numa cidade bem pequena na época de uma grande festa e havia muita gente visitando a região. Estava difícil encontrar ovos e galinha de capoeira – sim, isso é que é uma alimentação saudável. Raríssimos a carne de bode, a goma fresca, o coentro e o cebolinho. Leite de vaca, nem pensar. Queijo feito em casa, mercadoria rara. Mesmo com as restrições oferecidas pela situação, nossas anfitriãs cozinharam refeições deliciosas. Houve a procissão, com o andor enfeitado com flores da região, a missa e o famoso e esperado leilão, onde se paga noventa reais por duas cervejas geladas, setenta por uma galinha assada e ainda se manda tudo para a mesa do vizinho, num gesto de amizade, com o único objetivo de angariar fundos para as obras da igreja. Povo simples, hospitaleiro, totalmente conectado com o ritmo da natureza e os ciclos da vida. Lá nunca se ouviu falar dos conceitos da física quântica, mas o que se vive rotineiramente é a prova ‘científica’ que a ciência tanta necessita. Tudo está conectado e quando se experiencia este conceito na totalidade, a vida flui em harmonia. Há a seca, há as chuvas, há o sol, há a lua, há as estrelas. Também existem os rios, as plantas, as pedras, os animais, as pessoas. Os sertanejos percebem tudo isso vivo e interconectado.
Um fenômeno fantástico, que descreverei em detalhes depois, é a farinhada, onde um grupo de pessoas se reúne para produzir goma e farinha de mandioca. Aqui aprendi que é possível um trabalho em grupo, onde todos o fazem com alegria, sem competição, sem distinção de gênero, idade ou cor. Lindíssimo.
No trajeto da volta, as reflexões começaram a surgir. Fiquei feliz quando percebi que já mudei muito o ritmo do meu cotidiano, aproximando-me mais um pouco da sabedoria dos sertanejos. Claro que senti muita falta do meu banho quente, mas aprendi que água é um bem precioso e tomei banho frio e de cuia. É muito bom ser flexível.
Na noite em que retornamos faltou luz em nossa casa. Fomos para a varanda do quarto e ficamos olhando as estrelas. De repente, percebemos luzes piscando por entre as árvores. Vaga-lumes!, exclamamos encantados. Fazia tempo que não víamos essa magia e percebemos que sempre estiveram em nosso jardim, mas as luzes que iluminam nossa cidade impedem que percebamos o seu brilho.
Acredito que é assim com fadas, duendes e outras energias invisíveis. Estão ali, ao nosso lado, mas ainda não aprendemos a honrar sua presença. Lembro agora a música de Lenine que diz:
- Eu quero estar cercada, só do que me interessa.
Preciso aprender a me abastecer dessa energia linda, preciso aprender a chamar meus espíritos auxiliares, preciso me entregar e ser canal do Sagrado. Devagar, estou chegando lá. Também acredito que nossas escolhas constroem a realidade que vivemos e fiquei em êxtase quando notei que o tom da voz que eu usava para chamar o nome do meu amado numa livraria, para lhe mostrar algo do nosso interesse, era uma linda melodia, pois isso traduzia o encaixe perfeito do nosso encontro. Só que este encontro não aconteceu como por milagre. Cuidamos dos nossos jardins e as borboletas e beija-flores apareceram. Simples assim.
Saudade do sertão, saudade das tapiocas, da carne de bode, do café coado na hora. O bom é saber que podemos voltar.






Fotos: Roberto Arrais

2 comentários:

Louise Anne V. Menezes disse...

Oi, Patrícia:
Como sempre você me encanta com suas estórias. Mais uma vez parabéns por descrever momentos, encantanta.

Louise Anne V. Menezes disse...

Oi, Patrícia:
Como sempre você me encanta com suas estórias. Mais uma vez parabéns por descrever momentos tão preciosos.