23.4.12

- Mãe, que horas são?


- Dez e meia.

- Já começou a TV Grobinho. Bora pra casa?

Este foi o diálogo que ouvi entre uma mãe e suas duas filhas que brincavam na beira da praia em Maria Farinha. Maré Baixa, céu azul, mar bem calminho. As crianças faziam castelos de areia.

Fiquei atônita com o pedido, pois, para mim, estavam num paraíso e iriam chorar quando a mãe as chamasse de volta para casa, seria a hora da escola e coisa e tal. Então, lembrei uma história que li no livro Socorro! É proibido brincar., onde a autora relata uma cena semelhante. Conta ela que estava na praia com uma amiga e seus dois filhos e os meninos ficavam sentados na areia, de cara emburrada, reclamando que não tinham coisa alguma para fazer. Comentavam que preferiam ter ficado em casa, vendo TV, jogando videogame ou na internet. Refletia a autora que as crianças dessa época estavam desenvolvendo uma postura passiva diante das coisas que se apresentavam para elas, sem a força da ação, e questionava que sociedade construiriam. Depois recordei outra história de filhos de amigas minhas que para concordarem com a viagem para a casa de campo, exigiam que fossem levados os videogames e os computadores, pois lá não teriam o que fazer. Viajei no tempo e vi meus filhos, bebês ainda, montados em cavalos, brincando com galinhas, descobrindo as plantas, tomando banho de bica. Bem que achavam muito o que fazer numa casa de campo.

Fiquei me perguntando: por que um comportamento tão diferente do outro, num grupo de crianças da mesma idade, envolvidas pelo mesmo ambiente?

Claro que é importante para as crianças o acesso aos instrumentos culturais de sua sociedade – os computadores, a internet, os videogames, os celulares fazem parte disso -, mas não podemos deixá-las interagir apenas com a tecnologia que funciona na dimensão do virtual, da abstração. Isso tudo é um recorte das imensas possibilidades do viver. Há a natureza, os esportes, a literatura, a música, o teatro, o cinema, a fotografia, as artes plásticas, a dança, enfim, outras linguagens que precisam experimentar para que possam fazer uma ampla leitura do mundo. Sem falar nas questões espirituais e emocionais.

Precisamos acordar, antes que nossos filhos virem autômatos. Se isso acontecer, ficarei arrasada, pois há muito tempo, numa aula do meu curso de Ciência da Computação na UFPE, briguei com um professor que dizia que o amor poderia ser implantado nas máquinas através da teoria dos autômatos. Será que ele me provará que tinha razão?





OBS1: Oba! As crianças não foram embora. Vi-as da varanda e ainda estavam lá e brincando. O mar ganhou!!! A tv perdeu!!

OBS2: Ontem estava trabalhando no terraço da casa do sítio de meu avô, no meio da mata, em Lagoa dos Gatos. Hoje estou trabalhando na varanda da nossa casa de praia, em Maria Farinha. Novas formas de ser feliz.

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