13.5.07

Não é minha

Foi assim desde pequenininha. A vida me ensinou que ela não me pertencia. Até tinha sido gerada em meu ventre, eu havia acompanhado suas primeiras cambalhotas, recebido suas primeiras joelhadas. Mas era apenas minha filha. Não me pertencia.
Doía fazer suas malas, arrumar suas roupas, mamadeiras e fraldas para os períodos que teria que ficar afastada de mim. Como me pareciam longos esses tempos. Os dias não tinham mais o mesmo colorido. A natureza se solidarizava com a minha saudade e determinava que sol brilhasse mais discretamente. Quando adoecia longe de mim uma angústia no peito perguntava se estava tomando o remédio direitinho. Quando ia visitá-la e seus olhinhos disfarçavam sua insegurança, eu arrumava forças não sei de onde para sorrir de volta e transmitir uma coragem que não tinha. Assim fui aprendendo que ela era muito maior do que eu, que o seu mundo seria o Mundo e não apenas o meu colo.
Hoje, ainda dói muito não tê-la aqui. Já começou a trilhar seus próprios caminhos e admiro sua ousadia.
Vai, filha, o Mundo é seu.

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