
Mal se olhava no espelho e, por isso, não tinha consciência de sua beleza. Havia nela uma sensualidade sempre esmagada pela culpa. E, o pior, ou melhor, é que seu corpo era um verdadeiro violão. Mas não explorava estes atributos. Escondia-os.
Ouvia sempre as histórias vividas pelos outros. Ninguém nunca perguntava sobre as suas. Também, como poderia ter histórias para contar se não vivia a vida, se apenas a deixava passar?!
Reprimida, dócil, domada.
Gostaria de saber que rumo tomou sua vida. Faz mais de trinta anos que não tenho notícias dela. Será que virou freira? Deve estar gorda, com os óculos mais grossos. Ainda deve rezar muito o terço. Beijou alguém na boca? Sentiu tesão pelo menos uma vez? Pode também ter se tornado uma grande cientista. Lia muito, era muito estudiosa. Pode até ter ido para a Nasa. Doutora? Quem sabe? Com certeza trabalhou muito pelos pobres, pelas minorias. Tinha mania de justiça. Maconha? Nunca. Gozar? Jamais.
Saudades dela. Ajudou-me muito a cair na vida de corpo inteiro. Não queria ser como ela. Não queria contemplar a vida apenas. Queria ser a autora de minha história. Se a encontrasse hoje não a chocaria com a intensidade de minha vida vivida. Procuraria ser suave. Quase carregá-la-ia nos braços, pintando a vida em tons de aquarela.
Um comentário:
Gostei muito do texto! Pedro.
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