27.12.07

Que parte te cabe neste latifúndio?

Passou o corre-corre do Natal. Acabaram-se os shoppings lotados, os engarrafamentos, as filas. Troca de presentes, roupas bonitas, muita comida e muita bebida. Para onde foi o espírito natalino? Onde ficou a solidariedade? Em que lugar foi colocada a possibilidade de renascimento para uma vida mais inteira?
Tive a oportunidade de ganhar um enorme presente de Natal ao participar de uma reunião do Movimento dos Sem-Teto. Tudo tão organizado. A discussão foi sobre a vida e os valores de Ernesto Che Guevara. Uau! Que homem! E lá, numa sala lotada de gente que sonha e acredita, havia a esperança de que um dia, cá, no nosso gigante Brasil, cada um tivesse direito ao seu punhado de chão, ainda em vida, para não ficar apenas com a parte que ‘te cabe nesse latifúndio’, como aconteceu em Morte e Vida Severina, de João Cabral.
Impressionou-me a quantidade de mulheres com seus filhos presentes à reunião. Todos e todas politicamente esclarecidos, discutindo eleições, compra de votos em troca de sacos de cimento, CPMF, escola para todos, saúde para todos. Meus amigos e amigas letrados não têm as informações que eles têm e discutem.
A organização do movimento fez uma apresentação dos valores s sonhos que dão base ao seu funcionamento. Entrou uma criança com a bandeira, entraram mulheres e homens com pás, enxadas, réguas, entraram, também, com um tijolo e uma telha, ‘com esse tijolo construirei as paredes da minha casa’, ‘com essa telha cobrirei o telhado da minha casa’. Lágrimas rolaram pelo meu rosto. Agradeci ao Universo a oportunidade de estar ali, compartilhando o sonho sagrado de moradia e aprendendo com eles que a esperança sempre nos impulsiona para a vida. Gente teimosa, que não desiste nunca.
Ao final, o grupo cantou ‘Che, Zumbi, Ontônio Conselheiro, nós somos companheiros...’. Eles estão certos, pois como os heróis citados, são heróis e constroem com o seu suor um país para todos. Naquele momento vivi o meu Natal. Nasci de novo.

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