28.4.08

Em recentes viagens pelo sertão nordestino, vi muitos jumentos abandonados pelas estradas. Às vezes em grupo, outras vezes sozinhos, comendo capim ou, simplesmente, andando. Estavam soltos, sem corda alguma nos pescoços, sem donos, livres. O fato de não terem donos traduzia o abandono. Não havia alguém que cuidasse deles, que lhes desse comida e água, que lhes proporcionasse abrigo da chuva e do frio noturno. Poderiam seguir sem rumo pelo caminho que desejassem.
Fiquei pensando que algumas mulheres se sentem abandonadas quando não têm um dono – um marido -, para tomar conta delas. A aliança no dedo funciona como a corda no pescoço do jumento. ‘Tenho dono, sim, e ele cuida de mim, dando-me comida, proteção e abrigo’. Não sabem exatamente o que fazer quando estão por conta própria nesse mundão de Deus. Não se sentem com coragem de sair por aí descobrindo o que a vida tem para oferecer. Preferem a certeza do terreno conhecido, passeando apenas por caminhos limitados pelo uso da corda esticada do pescoço do jumento, que no caso das mulheres está transmutada em aliança no dedo, ainda que o preço seja a domesticação e a anulação de seus desejos mais secretos.
Ressalto que não são todas as mulheres que agem assim. Ressalto que não são todos os casamentos que são assim. Mas essa situação é bem mais comum do que se imagina. É impressionante como a liberdade assusta. ‘O que fazer quando sou livre?’

Um comentário:

Unknown disse...

adorei este desenho.. muito profundo...
gostaria de saber o nome da autora ????