8.10.08

Com a força do povo















Participei, pela primeira vez, mais de perto de diversas campanhas eleitorais no estado de Pernambuco. Algumas para prefeito, outras para vereador. Adorei todo o processo e, confesso, surpreendi-me com o que ocorre nos bastidores. Nós, meros eleitores, não temos idéia do trabalho que existe na construção de um projeto eleitoral. Inúmeras discussões para a elaboração de planos de governo, visitas às comunidades para conversas e levantamento das necessidades, novas visitas para a apresentação das soluções propostas pelo candidato. Para os que disputavam a reeleição havia o balanço do que já foi realizado e o planejamento do que ainda precisava ser feito.
A experiência que tive não combina com as idéias do senso comum de que tudo o que os políticos apresentam é para enganar o povo e só conseguir o voto. Foram horas e horas de discussões buscando a melhor solução para cada problema levantado.
Vermelha há muito tempo, aprendi a tirar o chapéu para um candidato amarelo, Galego, prefeito de Jurema. Menino pobre, saiu como retirante para tentar a vida em São Paulo. Ele conta que quando estava indo embora, com o coração cheio de saudade, olhou para trás e viu a igreja matriz e duas colinas que cercam a cidade. Guardou essa imagem no coração e prometeu voltar e ajudar seus conterrâneos a terem uma vida decente para que não tivessem que passar pelo que estava passando. Cumpriu a promessa. Voltou, tornou-se prefeito da cidade e trabalhou quase que 24h/dia pelo seu povo. Acordava cedinho, ia para os postos de saúde, checava as escolas, visitava os sítios e por aí vai. Contam que, em segredo, sem alardear para ninguém, ajudou muito sem-teto a ter sua casa, contribuindo com o dinheiro de seu próprio salário. Isso não sei se é lenda ou se é verdade. Se fosse para apostar, eu ficaria com a segunda opção. Seu gabinete vive lotado de gente. Ouve todo mundo e procura ajudar da forma que consegue. Seus assessores enlouquecem com tanto trabalho. Lembro-me de uma frase de Miguel Arraes que era mais ou menos assim “o possível a gente faz e o impossível o povo ensina a gente a fazer”. Galego é assim, um administrador público que honra seu cargo, ‘estou aqui para servir ao povo; foi para isso que fui eleito’. Encontrou a cidade desfalcada após 20 anos de administração pública familiar, onde uma família entendia que a cidade era seu curral. Contas atrasadas, município sem crédito. Trabalhou muito e hoje a situação já permite uma administração mais tranqüila. Campanha difícil e bonita, muito bonita. Seu último comício foi emocionante. O povo tomando todas as ruas, carreata, caminhada, homenagens e, ao final, um pedido de paz. Lindo!
Nas viagens que tenho feito pelo interior do estado pude conhecer uma Secretária de Trabalho e Ação Social que é um escândalo de boa. Chamam-na de Mili e é de Lagoa dos Gatos, terra de minha mãe, um município com um dos piores índices de desenvolvimento do estado. Acho que nunca cheguei lá num final de semana para não encontrá-la trabalhando, com a secretaria aberta e o povo resolvendo seus problemas. Pense numa mulher que pensa no povo.
Também participei ativamente da campanha de Arlindo Siqueira para prefeito de Olinda. Ele não foi eleito, mas jamais esquecerei as reuniões que varavam a madrugada para discutirmos o que poderíamos fazer pelo povo de sua amada cidade. De verdade, Arlindo é um autêntico olindense e ama sua terra e sua gente. Ainda não foi dessa vez.
Viajei ao lado de Roberto Arrais, um dos homens mais íntegros que tive a oportunidade de conhecer. Ele acredita na construção de um mundo mais justo e mais belo, sendo o caminho a transformação social. Alguns acham que é ingênuo, que as coisas mudaram e que militante é coisa do passado. Age com a convicção de que um dia os sonhos de Gregório Bezerra, Prestes, Dom Hélder Câmara, Paulo Freire, Patativa do Assaré e tantos outros se tornarão realidade. E faz a sua parte. Tenho aprendido com ele e tentado fazer a minha. Compartilho com ele a vida e a esperança na beleza da vida e na justiça para todos os povos.
Vejo meus filhos conversando sobre política, sobre problemas sociais, sobre possíveis soluções e fico encantada com as posições que assumem. Lembro-me do sangue derramado por tantos que sonharam e acreditaram que um dia, no nosso país, novamente a liberdade seria possível. Se hoje nos reunimos em praça pública e defendemos nossas posições é porque alguém construiu há algum tempo esse caminho para a nossa geração e para a geração dos meus filhos. Novamente a esperança me alenta.
Uma imagem, quase sempre, revela a mensagem de algumas muitas palavras. Acho que a foto da casa de um agricultor num acampamento de sem-terras traduz o que sinto e penso. Desistir, jamais.

Nenhum comentário: