27.11.08

E é mentira?!

Tive a oportunidade de conhecer a cidade de Triunfo mais de perto e, devo confessar, apaixonei-me. Ela é linda. Casarios preservados, ruas, casas e estradas de pedra, açude com teleférico, povo hospitaleiro, bons hotéis e pousadas, tudo para você ir e não querer sair de lá.
Fiquei hospedada na Pousada da Baixa Verde. Um verdadeiro charme. Os funcionários atendem muito bem e a comida é uma delícia. Tudo lá é feito com capricho e carinho. O proprietário foi o grande incentivador do turismo local. Há ainda o engenho, com sua cachaça característica, seus licores e as famosas rapaduras de tudo que é jeito. Foi inaugurado o Parque das Águas com piscinas para adultos e crianças, sendo mais um local de lazer para triunfenses e turistas.
Tive a oportunidade de ir conhecer alguns lugares pitorescos com Antônio, o Barruada, uma figura maravilhosa e grande contador de causos. Quase morri de rir com suas histórias sobre Seu Lunga, personagem real que vive em Juazeiro do Norte. Contou Barruada:
“Seu Lunga queria entrar em casa e sua mulher estava sentada à porta, terminando de separar o arroz do almoço.
- Espera só um pouquinho, Lunga, que eu já tô terminando aqui.
Logo depois surge Seu Lunga com uma marreta e começa a derrubar a parede ao lado da porta.
- Que é isso, homem? – pergunta-lhe um vizinho.
- É que tô fazendo outra porta para poder entrar em casa. Aquela porta ali é só para a mulher separar arroz.”
E foi falando sobre mais histórias, virando a cabeça para trás sem olhar para a estrada íngreme e estreita, onde mal cabia sua veraneio azul. Bem que Pedro, da Baixa Verde, me avisou.
Visitei o Bico do Papagaio, o lugar mais alto de Pernambuco, ouvindo histórias sobre a época que Lampião esteve por essas bandas. Barruada diz que o cangaceiro foi o primeiro turista de Triunfo porque só ia lá para passear. Hoje a cidade o homenageia com o Museu do Cangaço. Conheci também as Furnas Holandesas e vi feijão cozinhando em panela de barro num fogão a lenha. A visita mais fantástica foi à Cacimba construída por Seu Neco há muito tempo atrás. Ele achou o local exato da água com uma varinha de madeira e começou a cavar o buraco sozinho. Fez a estrutura de pedra com mais dois ajudantes e um túnel incrível, também de pedra, para se chegar até a base da cacimba. Não usou cimento para encaixar as pedras uma na outra. A obra é tão bem feita que deixa muito engenheiro formado de água na boca.
O filho de Seu Neco estava na antiga casa de seu pai, ajeitando seu fogão de lenha, com cimento, areia e, por mais inacreditável que pareça, açúcar. Quando o provoquei dizendo que aquilo não iria prestar, ele sorriu e respondeu do alto de sua sabedoria, nada escolar, mas da vida, que o que tinha ali era muita química.
Na viagem de volta à cidade, Barruada ainda cantou músicas de Luiz Gonzaga e recitou um verso que ouviu num encontro de repentistas:
“O sol, a lua e as estrela têm um brilho muito fino. Mas os olho da mãe brilha mais, olhando o seu filho dormindo”.
Fiquei emocionada e quase fui às lágrimas. Mas logo depois soltei uma gargalhada, pois o nosso contador de histórias soltou essa, ao olhar para um casario em ruínas: “Isso aqui é tudo tombado. Tombou tanto que caiu.”
Imperdível Triunfo com Antônio Barruada como guia e a hospitalidade aconchegante da Pousada Baixa Verde. Quero voltar em breve.

Nenhum comentário: