18.2.09

Fiquei pensando, noutro dia, que há pessoas que participam da vida e outras que apenas a assistem. Lembrei-me da imagem que registrei quando fui assistir ao show de Maria Betânia numa grande casa de espetáculo. O palco todo iluminado, público enorme, vigilância redobrada contra os possíveis ataques de fãs à artista. Observei alguns homens, todos fortes, vestidos de terno preto, de costas para o palco, verificando o movimento da massa. Enquanto isso acontecia, a cantora emprestava sua voz às poesias que entoava.
Os ingressos estavam esgotados dias antes do show. Aqueles homens tinham o privilégio de estarem a poucos metros da artista e, no entanto, não assistiam, de verdade, à sua apresentação. Não suspiravam a cada canção de amor, não viajam pelos lugares que Betânia descrevia em suas melodias. Às vezes, as pessoas ficam assim frente à vida: tão perto e tão distante.
Quando é que se começa a ser espectador e não autor da vida? Certa vez, em viagem pelo interior, vi uma menininha comprar um pirulito numa venda e, assim que o abriu, o pirulito foi ao chão. A menina olhou para ele com uma tristeza profunda, percebeu que eu presenciara a cena e comentou: “Não tem problema, não”. Fiquei indignada com sua posição. Ajoelhei-me ao seu lado e comecei a conversar, tentando colocá-la em contato com os seus sentimentos.
Por que não lutar pelo que queremos? Por que desistir de nossos sonhos? Por que não viver a vida desejada, em segredo, em nossos corações? Por que não sermos autores de nossas próprias histórias?

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