24.4.09

Mais uma vez, vejo uma tartaruga morta numa praia nordestina, aqui bem pertinho mim. A primeira vez foi em Maria Farinha, Paulista; hoje foi em Olinda. A última, só vi pelos jornais e, mesmo assim, me deu um aperto no coração. A outra, eu vi de corpo presente.
Estava na praia e começou aquela agitação. Corri para o local em que um grupo de pessoas estava aglomerado e me deparei com uma das cenas mais tristes que já presenciei: uma enorme tartaruga jazia na areia da praia. Estava machucada – rede de pescadores? - e não tinha conseguido sobreviver aos ferimentos, ao calor, à ação humana. Fiquei contemplando aquele ser imenso, com uma forma tão diferente da minha. Alisei seu casco e chorei. Se pudesse, queria conversar com ela, como Francisco de Assis, e aprender sobre suas descobertas.
- Olá, Irmã Tartaruga!
Com certeza me ajoelharia ao seu lado, numa posição de reverência.
- Por favor, conte-me o que aprendeu durante todos esses longos anos de vida.
E a ouviria contar histórias fantásticas sobre o fundo do mar, sobre com é lindo o luar quando estamos contemplando a lua da superfície do oceano, sobre como é gostoso o calor do sol num descanso nas areias da praia.
Com certeza me falaria da harmonia existente entre todos os seres marinhos. Relataria seu encanto pela beleza das plantas, pelo colorido dos peixes, pelo silêncio mágico que o ambiente aquoso proporciona. Talvez, durante sua longa jornada, tivesse encontrado humanos desbravando os oceanos, e me falasse sobre seu espanto por criaturas tão estranhas e esquisitas, tentando uma adaptação num habitat que não era naturalmente seu.
- Irmã Tartaruga, você já viu Deus?
Sorriria diante de minha ingenuidade e diria:
- Você está Me vendo agora, Filha.

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E eu compreenderia, de repente, de um fôlego só, o que sempre soubera minha Alma: o Sagrado expressa-se sempre na natureza.
Sinto que é assim com tartarugas e baleias encalhadas. Elas se oferecem em sacrifício para que saibamos que a Divindade está aqui, ali, acolá, em tudo, absolutamente tudo, que existe no Universo. Estes seres atravessaram a barreira do tempo, aprenderam com o Sagrado, viajaram por dimensões e têm uma enorme sabedoria a compartilhar.
O mesmo acontece com as árvores enormes e seculares. Gosto de contemplá-las, de ouvi-lhes os segredos. Quantas juras de amor não foram pronunciadas sob suas sombras! Quantos beijos foram levados pelo farfalhar de suas folhas! Quantos sonhos de criança ficaram guardados em suas raízes!
Gosto das coisas que duram muito tempo vivas. Sempre sinto esse desejo de ouvir suas histórias. Quem sabe se essa coisa de me tornar escritora não é para contar, para colocar em palavras, essa Sabedoria? Por que não conseguimos ter olhos para vê-la? Por que não temos ouvidos para escutá-la?

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