17.6.09







Como mãe de adolescentes em uma cidade grande do nordeste brasileiro, no século XXI, fico com o coração na mão diante das informações sobre todas as formas de violência que os rodeiam. Manchetes de jornais divulgam acidentes, brigas em jogos de futebol, assaltos, assassinatos, envolvimento com o consumo e tráfico de drogas ilícitas - maconha, cocaína, crack - e lícitas - cigarros, bebidas alcoolícas -. Parece que vivemos, nos dias atuais, as imagens descritas no Apocalipse.
O que fazer quando tantos perigos rodeiam meus rebentos? Trancá-los em casa, impedindo-os de viver essa fase linda da vida, não é a solução. O primeiro recurso que minha Alma pede é a oração. Entrego-os aos deuses e às deusas e confio que estão protegidos.
Depois dessa fase, procuro me lembrar que são meus filhos desde que nasceram e, portanto, participaram de um processo educacional, fruto das coisas que penso e sinto. Portanto, também confio no que realizamos juntos ao longo do tempo. Foram muitos momentos de carinho, de conversas na cama, de contação de histórias, de dengos, de passeios, teatros, cinemas, viagens. Ouvimos juntos música de qualidade no carro, enquanto íamos e vínhamos da escola. Assistimos muitos filmes, regados a brigadeiro e pipoca. Escolhemos livros incríveis que nos faziam pensar e sonhar com um mundo encantado.
Tudo isso deu uma provisão de segurança e amor que os abasteceu até aqui e vai servir de base para que sejam, para sempre, pessoas maravilhosas que espalham luz e alegria por onde passam.
Sabemos que somos uma família diferente. Rimos juntos, confiamos uns nos outros, dizemos sempre a verdade, dialogamos todos os dias à mesa, tomamos suco de vampiro e leite com sustagem, vamos a museus, emprestamos livros nas feiras públicas, dançamos e cantamos comendo camarões. Tudo é muito simples e intenso em nosso lar.
Talvez, por todos esses detalhes, a casa esteja, com frequência, cheia de amigos que se amontoam nas colchas pelo chão. Aliás, não apenas a casa, mas as nossas casas, porque não importa se a de Casa Forte, a da praia, ou a do interior, todas elas são ninhos de amor, de braços abertos para acolher aqueles que querem compartilhar nossa energia.
Então, quando ouço histórias, contadas por pessoas que não compreendem a nossa forma de viver, ouço minha Alma que diz:
- Fique tranquila. Eles, apenas, são inteiros.
Ou ainda:
- O direito à liberdade não se mendiga, mas se conquista.
Eles não estão perdidos. São livres. Podem ser o que desejarem, Rei Leão ou Dragão. Em silêncio, rogo pelos que têm medo da inteireza:
- Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem.




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