19.10.09





Fotos: Roberto Arrais


Vivi experiências, nestes últimos dias, que trouxeram meu passado de volta e me fizeram refletir sobre a inexistência do tempo.
Coisas que aconteceram há anos, parecem que ainda estão no aqui e no agora. Lembranças, saudade, alegrias e dores, tudo junto mexendo com meu coração. Amigos, quase irmãos, num presente tão distante. Vendo o que olham quando me enxergam, não os reconheço, não me reconheço. Será que não sou como penso e sinto que sou? Será que me vêem através das lentes deles e aí não podem enxergar de verdade a minha alma e, sim, fragmentos de si mesmos? Não tenho respostas para estas perguntas e nem sei se quero entender tudo isso com a razão. Hoje, quero mais é escutar as coisas com o coração. Não aceito mais não dar ouvidos ao meu.
E, por falar nele, tive medo que tivesse um troço, ontem à tarde, quando recuperei vários pedacinhos preciosos dele que andavam longe de mim. Quando soube da notícia que voltariam para meu olhar, senti um aperto, uma emoção muito forte, comecei a tremer e a chorar. Tentei me acalmar e fui tomar um banho bem quente, ritual que faz milagres em mim. Depois, fui ao seu encontro. Não consegui logo procurar por eles, com medo de me acabar em lágrimas. Caminhei devagar, tateando, tentando descobrir onde estavam escondidos. De repente, vi-os em cima de uma mesa, num canto do terraço. O coração disparou, derreti. Senti que a saudade era recíproca. Quase nos abraçamos. Não consegui mais prender o choro e deixei que o que sentia explodisse ali, na frente deles. Dirigi-me em sua direção e, com delicadeza, comecei a tocá-los. Meus dedos passeavam por suas páginas, abria-os e lia as inúmeras dedicatórias que fui escrevendo ao longo dos anos. Ali estava guardada uma boa parte dos meus tesouros. Ouvi, novamente, a música das histórias que contava para meus amados, vi-os deitados em minha cama, de fraldas e com mamadeiras, senti o cheiro da colônia Johnson. Todas aquelas preciosidades voltaram ao meu presente. Isso já era um presente. Eu conseguia identificar um por um, pois tinham uma história única para contar, além daquela registrada nas palavras impressas. O tempo andou um pouco mais para trás e me vi, ainda criança, ouvindo as histórias lidas por minha mãe; depois, estava descobrindo o mundo na casa de minha tia. Passei o resto da tarde vivendo vários encontros amorosos.
Acalmai-me e pensei: gol de placa do ogre que me afastou deles por todo este tempo. Ele realmente soube como me fazer sofrer. Este ogre é muito inteligente e me conhece bem, sabendo exatamente como deve agir para me atingir e ferir. Descobri que vivi como uma mãe que tem seus filhos sequestrados e que passa os dias rezando para que estejam bem e que retornem em segurança.
Para muitos, aquilo era só um monte de livros. Para mim, tijolos que fui colocando na casa que é a minha vida. Estou, agora, aguardando o momento de compartilhar este tesouro com meus tesouros de vida e, juntos, recordarmos os momentos que vivemos juntos, sempre recheados de carinho e amor. Iremos dar boas gargalhadas e o ambiente estará recheado de ternura, esta energia maravilhosa que transforma tudo em magia.
Ainda existem pedacinhos de meu coração que estão longe, apartados pela força das sombras. Tenho certeza de que retornarão ao meu convívio, porque aquilo que o Sagrado uniu, homem algum separa.

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