5.5.10

Li que há 16 anos não temos um jogo assim: Sport e Náutico, numa final do pernambucano.
Fiquei pensando em como estava minha vida 16 anos atrás. Já tinha meus três filhos. O caçula acabara de nascer, o mais velho estava com um ano e a mocinha tinha aprendido a ler. Meus pais eram vivos e estavam saudáveis. Eu era casada e ainda estudava Psicologia. Trabalhava na UFPE com computadores. Também tinha, como companheiras de jornada, minha tia, minha babá, a babá de meu pai. Não imaginaria, por mais criativa que fosse, os caminhos que a vida traria para o meu dia-a-dia.
Neste período muitas e muitas e muitas coisas aconteceram, levando-me para longe de pessoas que amo, ou pela morte ou por situações que me fariam arrancar de volta o dinheiro da cartomante que fizesse essas previsões para meu futuro.
Os computadores se assemelham a dinossauros para mim. A Psicologia da faculdade está distante de ser a que acredito como possibilidade de encontros para a alma ferida. Estou mais para bruxa que para psi. E, no meu presente, o meu presente seria me tornar uma verdadeira escritora. Já participei de coletâneas, já lancei livro infantil, tenho blog, mas falta assumir a vocação e vivenciá-la com a disciplina e a solidão necessárias.
Meu pai teve um avc e hoje seus olhos já não têm o mesmo brilho. Transportei no carro os ossos do que fora o corpo amado de minha mãe. Perdi muito, perdi muitos.
E tive alegrias, como as tive. Conheci pessoas, acolhi clientes, aprendi que ser gente é um dos presentes que aquele lá de cima nos dá, junto com um monte de formas de vida fantásticas e que estão por aí, de bobeira, para compartilhar a existência com aqueles que percebem sua presença.
Cantei canções de ninar, dei banho, acompanhei as aulas de natação, contei histórias, mergulhei no fundo do mar, viajei de trem pela Sibéria, meditei, dancei, fiz amor, li, escrevi, sonhei... realizei.
Escutei meu coração e fui atrás dos meus desejos. Meu príncipe virou um sapo, encontrei meu rei.
Ando mais sabida agora. O tempo foi um grande amigo. Ensinou-me coisas importantes. Aprecio a natureza, respiro, estou menos agitada, tenho aprendido com minha filha a ter uma alimentação mais saudável, aprendo com meus filhos músicas novas, aprendi com meu marido que minha alienação tem perdão. Ouço as palhas do coqueiro e as ondas do mar. Sinto a paz.
Sei que o amor é o que ilumina o caminho do coração. Procuro senti-lo quando tenho escolhas a fazer. Só peço a Deus que eu continue acreditando em fadas, duendes, gnomos e Papai Noel. Ainda não os vejo, mas os sinto entre as flores de meu jardim bem pertinho do mar.

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