5.7.10

O Sagrado é um tema que tem ocupado muito minha mente e meu coração. Adoro ler deitada na minha cama, tendo como companhia meu cachorro Hércules. Quando o contemplo, completamente entregue a um sono tranquilo, imagino que o Sagrado está ali. E, quando ele me olha, olhos nos olhos, sinto que Deus está me olhando através dele. Noutro dia, estávamos nessa situação de olhos nos olhos, e eu falei:


- Olá, Deus! – dirigindo-me a ele.

Meu irmão ía passando nessa hora e comentou:

- Endoidou de vez. Agora o nome de Hércules é Deus.




Mas é assim que sinto quando encontro o olhar de Hércules, quando vejo o sol nascer, quando a lua torna o mar prateado, quando o coqueiro dança ao vento, quando os pássaros fazem festa no ar, quando o café espalha seu cheiro pelo casa toda, quando abro as portas dos quartos e vejos meus filhotes dormindo lindamente em suas camas, quando escuto a sandália do meu pai pelo corredor, quando beijo na boca meu marido, quando leio, quando escrevo, quando pinto, quando rezo. Acho que Deus é tudo isso e que Ele está sempre nos dando dengo, através das coisas que amamos. Eu, me entrego. Assim.

E por acreditar que tudo, absolutamente tudo, tem espírito, no sentido de uma energia sagrada, chorei muito quando fui visitar o jardim zoológico, que deveria ser chamado de zoo-ilógico, pois o que existe lá é a mais absoluta crueldade. Como podemos admitir situações em que um animal é arrancado de seu habitat natural, separado de sua família e de seus costumes, trancado em uma jaula minúscula, completamente diferente de onde morava, vivendo agora uma vida artificial?! Qual o objetivo disso tudo? Educação ambiental? Belo exemplo estamos dando! O que estamos ensinando para nossas crianças é que o ser humano está acima das leis da natureza, que pode tudo destruir e que o planeta Terra foi criado para ser seu brinquedinho. Absurdo! Chocante!






Fiquei com vergonha de ser humana. Ao olhar, olhos nos olhos, cada um daqueles que lá estavam presos, pedi perdão e revenciei sua força. Havia um cartaz que informava que o chipanzé que lá estava trancado era 99% idêntico, geneticamente, ao ser humano, e, portanto, era muito inteligente e sensível ao barulho, por isso, silêncio. Afinal, ele merecia respeito, pois havia cinquenta anos que lá estava trancafiado. Isso me cortou o coração.




Vi uma onça linda, rosnando para proteger o seu filhote, num cubículo em que ela mal podia se mexer. Vi ursos nadando num tanque numa cena patética. Vi o rei dos animais numa situação humilhante, urrando de saudade, condenado a uma eterna solitária.





Nessas horas rogo pelo Apocalipse. Não precisamos que a Besta venha para fazer o julgamento final. Nós mesmos já construímos nossa condenação e determinamos nossa destruição. Gosto de imaginar a cena das naves espaciais chegando, prendendo nós, humanos, em jaulas e nos levando para seus planetas para que suas crianças aprendam os hábitos e os costumes dos homens, das mulheres e das crianças. Afinal, nas viagens espaciais, os ets precisam aprender, como nós fazemos aqui na Terra nos zoo-ilógicos, como respeitar e conhecer a biodiversidade do universo.

Olho por olho, dente por dente!



Fotos: Roberto Arrais

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