23.10.10

















Ando preocupada com os rumos das eleições no Brasil. Acredito que esse negócio de misturar religião com política não dá certo. Até porque, muitos desses que se dizem religiosos, na verdade, são exploradores financeiros da ignorância do povo. Acredito no Sagrado, mas não aceito que essa conexão mágica seja manipulada em nome da moral e dos bons costumes, a partir do ponto de vista de quem mesmo?!
Como Psi, fiquei revoltada com a postura de alguns vereadores 'religiosos' do Recife que detonaram um trabalho desenvolvido pela Secretaria de Educação sobre sexualidade. Nunca vi 'se dizer tanta besteira com tamanha convicção', como se fala num ditado popular. Hipocresia pura.
Além da discussão sobre o bem e o mal a partir de ideias religiosas, também sobre educação sexual, os políticos religiosos estão querendo definir, para todos os habitantes do país, o que deve e o que não deve ser feito no caso de uma gravidez indesejada. Aborto é pecado, bradam como se fossem os novos santos e profetas da era pós-moderna. Também não seria pecado sua conduta no parlamento?
Sou totalmente contra o aborto, pois acredito que já há vida quando o óvulo e o espermatozóide se encontram. Mas, eu já tive abortos e já fiz aborto em momentos muito, muito difíceis e dolorosos de minha vida. Por isso, acho que cabe à mãe a decisão de ter ou de não ter um filho, pois somente ela pode dar conta de sua própria subjetividade. Carrego minha dor até hoje e derramo lágrimas de saudade por um filho que não tive.
Mas, voltando para as questões políticas, sou fruto da educação censurada da ditadura, na época em que se ensinava nas escolas que o Brasil foi descoberto - e não invadido - por Portugal, que os índios eram preguiçosos, que os negros eram de uma raça inferior e que os comunistas comiam criancinhas. Típica patricinha alienada, que retirava as jóias para ir fazer caridade em orfanatos. Mas, tudo tem seu tempo, e, em um certo momento acordei. Acordei para as injustiças sociais, para os preconceitos, para a exploração do trabalhador. E, aí, não teve mais jeito, me engajei e sonhei com um país mais justo, mais livre e mais feliz. Pude votar e transformar, com meu voto, o lugar onde vivo e que desejei melhor para meus filhos e os filhos de todos os outros brasileiros. Chorei muitas vezes nas eleições que não conseguimos colocar o Lula lá, mas não perdi a esperança e continuei votando, votando, até que um dia, pude gritar que a esperança venceu o medo e que, como dizia meu lindo Chico, apesar de você - ditadores de plantão - amanhã vai ser outro dia, e o amanhã havia chegado, era o hoje.
Não me arrependo, muito pelo contrário. Tive orgulho de viver num país governado por um retirante nordestino, operário, e, acima de tudo, um sonhador, com força e garra para transformar seus sonhos, os meus sonhos, os nossos sonhos, em realidade, sem perder a ternura do olhar.
Gosto de tentar entender o que dizem os olhos das pessoas e olhei nos olhos de Dilma, a agora candidata à presidência do meu país que continuará os projetos que transformaram para melhor a vida de muitos e muitos brasileiros. Sinto-os verdadeiros. Ela tem um olhar forte, de quem vê lá na frente. Gosto de ficar pensando no que passa por sua cabeça quando sabe que existe a real possibilidade de governar o povo pelo qual lutou, foi presa por anos, torturada, humilhada. Sei que pensa que sua luta valeu a pena e que hoje toda essa gente tem condições mais dignas de vida. Ainda teve sua doença e a superação de um momento tão difícil. Devo confessar que me dá uma vontade enorme de lhe dá um pouco do dengo nordestino, tipo um cafuné no colo, para que reabasteça suas energias e continue a luta por um futuro melhor.
Tive a oportunidade de ouvir um relato de uma senhora de 84 anos que conviveu com a esposa de um político perseguido pela ditadura militar, e que na época do ocorrido tinha mais de sessenta anos, contando que a amiga lhe confidenciara que havia sido presa e obrigada a desfilar nua para aqueles que a prenderam e torturaram. Já pensou se isso fosse com a mãe ou a avó de cada um de nós? Então, pergunto-me, o pessoal que estava do lado dessa turma covarde de torturadores, hoje, nessa eleição, está apoiando qual candidato? Quero a resposta porque o que eles estiverem defendendo, com a certeza que estou respirando, não receberá o meu voto. Preciso honrar a memória de todos aqueles que defenderam a liberdade e o povo do meu país. É o mínimo que posso fazer agora, já que me alienei quando houve as lutas.
Meu marido participou ativamente da história de luta pela liberdade no Brasil, tendo aprendido muito com homens como Gregório Bezerra e Luiz Carlos Prestes. Agora quem aprende com ele sou eu. Tenho três filhos que são engajados, discutem política com uma lucidez que me faz inveja e, claro, me enche de orgulho. Sabem a história real, não a manipulada para enrolar o povo, lutam por seus direitos e pelos direitos de um Brasil mais feliz. Também aprendo com eles e também é por eles que continuo votando com alegria e esperança. Sei que graças ao meu voto, eles hoje vivem num país melhor. Desejo que também construam para seus filhos um mundo de paz.

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