25.1.11


Com a volta dos filhos ao lar, depois de um período de férias pelas praias de Pernambuco, a vida vai voltando ao normal. Já estamos na casa nova, apesar de ainda termos muito que arrumar, já alugamos nosso antigo apartamento, estamos alugando o do meu irmão, e também começo a me acostumar com a saudade de nossa casa de Maria Farinha, paraíso particular.
Foi uma delícia o jantar, massa e camarão, regado a vinho e coca, com toda a família reunida em volta da mesa. As conversas, as piadas, as novidades, as reflexões que as crias fazem e que me deixam de boca aberta e cheia de orgulho, são coisas simples que acontecem e que me fazem plenamente feliz. Não conseguiria viver longe dessa rotina, sem grandes eventos, mas que traduz a minha noção de felicidade. Adoro bater o leite deles no liquidificador, esquentar o sanduíche, ver filme com todos sentados pela sala, ouvir música na radiola, jogar conversa fora na rede e nas almofadas e, depois de um longo dia de momentos significativos, abrir as portas dos quartos e vê-los dormindo como anjos em suas camas. Quando os contemplo assim, meu coração se enche de alegria e agradeço ao Universo por ter me dado a oportunidade de ser mãe de almas tão especiais.
Agora é hora de ir para cama, deitar-me pé com pé ao lado do homem que amo, namorar, ler um bom livro, apreciar Hércules no seu colchão velando nosso sono. Mais gratidão.
Às vezes me pego pensando que quando escrevo sobre as coisas pequenas, para mim imensas, que fazem o meu dia a dia feliz, passo a impressão de que vivo alienada num mundinho cor de rosa, sem problemas, sem contas para pagar, sem sonhos a realizar, como se fosse uma vidinha perfeita, não simples, mas simplória. Bem longe da verdade seria esta falsa impressão. Há conflitos, tensões, desafios, sonhos adiados, frustrações, tudo que todo mundo vive sol após sol. A diferença, talvez, seja que sempre me pergunto, ‘o que tenho que aprender com isso?’, e vou tentando me conectar com os segredos que o Sagrado me revela em tudo que me acontece. Claro que com esta atitude sinto uma imensa paz no coração e brota dentro da minha alma uma estranha coragem para a entrega total aos caminhos que vão surgindo.
Porque já mudei um bocado de rota, tanto no que se refere à profissão quanto ao amor, algumas pessoas me avaliam como perdida, aquela que não sabe o que quer. Quando estou numa situação, estou inteira, transparente, completamente intensa e apaixonada. Se o tesão acaba, busco essa energia em outra possibilidade para me manter sempre num estado de encantamento pela vida.
Estive organizando livros antigos e percebi claramente este movimento. Quantas paixões já tive! Psicopedagogia, o brincar, contos de fadas, mulheres, xamanismo, cognição, informática na educação, dbase e tudo do mundo dos bits e bytes. Já fiz tanta coisa diferente, já desempenhei tantos papéis, já tive tantas máscaras... O que tem me deixado feliz com esta jornada é que ao me olhar no espelho, sem máscara alguma, aprecio o que vejo, amo o que me tornei. Caminhei, feri-me, consegui renascer várias vezes, e hoje estou mais perto do que vim para ser aqui na Terra. Ainda faltam muitos passos e vibro na estrada que escolhi para ser a minha, aquela que conhece os segredos do meu coração.

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