26.1.11

Quase sempre passamos pela vida sem pensar na morte. Achamos que temos todo tempo do mundo para realizar aquele sonho guardado, para dar aquele beijo, para dizer ‘te amo’ ou ‘sinto sua falta’. Então, algumas vezes, levamos uma rasteira e perdemos para sempre a chance de fazer acontecer no aqui e no agora o que nosso coração desejava, talvez, em segredo.
Há algum tempo, quando me separei do meu segundo marido e me casei novamente, comentei com uma amiga, a quem amo desde que tínhamos uns seis anos, que ficaria mais difícil minha com convivência com os casais de nossa turma, pois meu novo marido não gostava de passar os finais de semana tomando uísque até encher a cara e depois ir dormir e roncar. Ele curtia passeios, viagens, caminhadas, contato com a natureza, fotografia e, claro, uma cervejinha gelada, mas de leve. Este comentário gerou a maior confusão entre meus amigos, pois entederam que eu estava achando que a nova situação era superior a que vivia com eles e com meu ex e resolveram que iriam se afastar – ah! também entenderam que estava fazendo uma loucura e que iria quebrar a cara e, quando isso acontecesse, aproximar-se-iam novamente para juntar os cacos. Lembro que sofri muito com a distância deles e me senti muito só e desamparada. Ficamos longe e fomos vivendo separados as coisas simples do cotidiano. Anos depois, pela internet, retomei o contato com essa minha amiga e com seu marido, meu amigo-irmão que estava morando fora do país. Foi nesse momento de mails que fiquei sabendo o que pensaram e sentiram à época da separação. Esclarecemos as coisas e combinamos de nos encontrarmos quando voltasse ao país. Confesso que fiquei louca para abraçá-lo novamente, para apresentá-lo ao meu marido, para irmos juntos ver o time do coração deles jogar e já contava os dias que faltavam para ter de volta o ninho amoroso de uma amizade construída há mais de quarenta anos.
Numa manhã o telefone tocou e veio a notícia:
- Seu amado amigo-irmão está morto.
Ainda sinto o soco no estômago. Como? Não é possível? Quando? Onde?
As informações chegavam aos meus ouvidos mas não ao meu coração. Não podia aceitar que a vida estivesse nos pregando esta peça.
Na mesma hora corri para ver sua esposa, minha amiga galega, sem muita coragem para ler em seus olhos mais um episódio de dor imensa, pois já estivéramos juntas em momentos muito difíceis nos caminhos que percorremos.
Talvez esta tenha sido a primeira vez em que senti muita raiva de Deus. Como havia feito isso conosco? Como me deixara sem o abraço e a risada de meu amigo-irmão? Não aceitei essa tragédia até hoje. No dia de seu enterro fui com minha filha ao cemitério, mas não consegui chegar lá, perdi-me no trajeto. Acho que meu coração não conseguiu viver esta perda.
Faz pouco tempo que tive um sonho com ele. Estava bem e isso me deixou tranquila. A saudade é grande e me pego com lágrimas nos olhos quando imagino que vou convidá-lo para conhecer meu paraíso, quando penso que vou contar para ele que virei escritora e vou ouvir sua risada gostosa, e percebo que isso não será possível pois não mais está entre nós.
Como nos ensina aquela música:
- “É preciso amar como se não houvesse amanhã, porque se você parar para pensar, na verdade não há.”
Para você, amigo-irmão, minha eterna declaração de amor.

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