4.1.11










Olhando as fotos que tirei de biquine na praia com minha filha, constatei o óbvio: o tempo é implacável com nosso corpo, trazendo marcas da velhice em todos os pontos. A barriga já está flácida, há pele sobrando no pescoço e em volta dos olhos. Puxando à família de meu pai, ainda não tenho os cabelos brancos. Não é fácil se ver assim. Mas, por outro lado, é maravilhoso perceber o ciclo da vida ocorrendo tão pertinho da minha intimidade. Agora a bela deusa já não sou mais eu e passo o cetro do meu reinado, com muito orgulho, para minha filha, assim como, há tempos atrás, minha mãe passou para mim. É muito bom quando as gerações não rivalizam e a energia da Deusa Tríplice se expressa em toda sua plenitude. Gosto de ver que minha descendência é mais sábia que eu, além de mais bela, mais inteira, mais intensa, e, principalmente, mais livre.
Lembro, com certa tristeza, a conversa que tive com a mãe de uma amiga querida quando aquela me dizia que não aceitava a filha se transformando em uma bela mulher enquanto envelhecia.
Minha mãe se arrumava e ficava linda, reverenciando a Afrodite que nela existia. Com a energia desta deusa, também me embelezava, ensinando a mim e a minha filha, os truques da maquiagem e da combinação das roupas. Acho que foi a mulher que conheci que mais tinha em si todas as deusas integradas. Adorava a natureza, era a sensualidade em pessoa, excelente e poderosa dona de casa, uma verdadeira anja, sempre ajudando todo mundo, laureada no curso de Direito aos 60 anos, e de uma religiosidade pura que expressava na sua fé por São Sebastião, padroeiro de sua terra. Não rivalizamos e acolheu minha beleza e meu poder, ensinando-me o caminho que hoje trilho com minha filha.
Reverencio com alegria a energia feminina e o ciclo da vida.

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