10.6.11




O que é preciso para ser feliz?

Lembro que esta pergunta fazia parte da música religiosa que ouvia em minha infância. Lá, a resposta era simples e eu já era feliz. Cá, neste tempo e lugar, a pergunta fica rondando meu juízo, provocando meu coração: o que eu preciso para ser feliz?
As coisas se complicaram e perdi a sabedoria da criança que fui. Toda intelectual, cheia de informações num cérebro cansado, não consigo fazer com que a mente me dê as respostas. Tentei achar minha alma perdida no caminho da vida profissional. Já fui tantas que até perdi a conta. Mudei, mudei, mudei e não me encontrei nestas estradas. Diplomas, cargos, salários, poder, aplausos... tudo isso me jogava num vazio e me deixava mais perguntas que respostas. Também tentei ouvir meu coração, mas ainda não sabia decifrar sua linguagem e segui rumos que entendia como meus, mas que me levaram para dor e sofrimento. Apesar de amar muito, a solidão sempre se fez minha companheira. Vivi a possibilidade de me sentir eu mesma nas relações com os amigos e as amigas que mantive por toda uma vida. Porém, no momento em que mais precisei de um ombro para apoiar meu corpo cansado, vi-me perdida, como num deserto, sem água e sem comida, sem carinho e sem apoio das pessoas que pensava ao meu lado para sempre. Se teve alguma parte de mim que me manteve ligada a quem de verdade sou, foi a maternidade. Ser mãe me tornou plena.
Fui buscando minha alma pela vida afora, procurando em esconderijos que imaginava além. Aos quase cinqüenta anos, para minha surpresa, descobri que desde o início me acompanha, tão perto, tão perto, colada mesmo, que nem dava para ver, porque, de verdade, estava dentro, lá dentro, num lugar que só se ilumina quando a gente entende que a maior viagem tem que ser em direção àquele encontro cara a cara, quando a razão se curva com humildade diante da grandiosidade do sentir.
Começo a achar algumas respostas. Para ser feliz, preciso desacelerar, preciso ficar mais tempo perdendo tempo e, assim, apreciar mais as belezas da natureza, acompanhar o ciclo da vida. Não quero aprender apenas a pensar – isso já nasci sabendo. Delicio-me com o belo, com o simples, com a sabedoria que vem daqueles que caíram na chuva e se deixaram ensopar. Preciso ficar mais na rede ou no banco do jardim, abraçada com meus amantes, os livros, que me levam para mundos fantásticos. Preciso tomar banho quente, ou de chuva, ou de mar. Preciso de café forte, de suco de laranja feito na hora. Preciso ouvir disco na radiola e dançar agarradinha vendo o sol nascer. Preciso sentir cheiro de terra molhada e deixar que meus pés deslizem na grama orvalhada. Preciso ouvir passarinho cantar, árvore balançar e chuva cair no telhado. Preciso traduzir em palavras esse turbilhão de imagens que me fazem sentir que sou artista.
Li uma frase linda que dizia que “a missão de todo artista é não deixar o sonho morrer”. A arte preenche os vazios com significado.
Oxalá consiga ficar assim, vivendo meus presentes em completamente mergulhada na arte!

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