1.1.12

R: É um prazer entrevistá-la. Tenho lido seus textos no blog, também li os livros. São tantos temas! Muitas Patrícias numa só?

P: Claro que sim. Uma parte de mim adora escrever para crianças. Acho que as crianças compartilham comigo a crença nas fadas e nos duendes e, também, o encantamento pela natureza. Os olhos de uma criança ficam deslumbrados com as descobertas que vão fazendo, assim como eu, apesar dos meus quase 50 anos de vida. Nasci no Dia das Crianças... guardarei sempre a criança dentro de mim.

R: Mas há também aquela que escreve para as mulheres.

P: É verdade. Não sei se é ‘só’ para mulheres, mas, com certeza, para dar voz aos mistérios de feminino. Há muito tempo éramos sacerdotisas e nossas habilidades valorizadas pela comunidade na qual vivíamos. Tecíamos, cozinhávamos, trabalhávamos com argila, cuidávamos das crianças, curávamos. Os homens desempenhavam outros papéis, mas ambos os grupos eram respeitados. Mudanças aconteceram e hoje vemos um feminino ferido, com mulheres desprezadas, agredidas e violentadas, tentando assumir uma postura masculina para sobreviver na sociedade que construímos. Trilhei o caminho do masculino para o feminino e vivo feliz porque me reconheço fêmea e me tornei mulher. Nada melhor do que acompanhar o crescimento dos meus filhos, respeitando meu instinto materno, do que sentir os ciclos do meu corpo, regido pela Lua, do que amar meu macho e meu marido. Vivo em paz.

R: Muitas mulheres e muitos homens defenderiam que suas ideias são machistas.

P: Machistas, não; feministas, também não. Defendo que nenhum homem é melhor que nenhuma mulher. Defendo que homens e mulheres não são iguais. Entendo que o processo do viver, ou da individuação, como diria Jung, favorece a integração do feminino (yin) com o masculino (yang) em cada ser humano, permitindo que se construa o a totalidade. Agora, num casal, há um macho e uma fêmea, com energias específicas. Ouvi, muitas e muitas vezes, queixas das mulheres, bem sucedidas profissionalmente, que reclamavam de ter que ser provedoras, de ter que sair para uma reunião de trabalho e deixar o filho com febre em casa, de tomar um remédio para cólica menstrual e colocar um terninho quando queriam ficar recolhidas, curtindo a menstruação. Roger Woolger tem um livro excelente sobre o tema, A Deusa Interior. Ouvi tudo isso de clientes, de amigas e, também, vivi estes conflitos. Não está fácil ser mulher nos dias de hoje. É importante que os homens também conheçam essa realidade feminina e nos ajudem a colocar as coisas no lugar, restabelecendo o equilíbrio yin-yang.

R: E a espiritualidade, veio de onde?

P: Estudei em colégios católicos, minha família era católica, mas tive um tio espírita. Na infância assisti à novela A Viagem e aquilo me pareceu familiar. Brinquei com o copo andando na mesa, participei de grupos jovens e me sentia em êxtase quando estava em oração. Mas não aceitava as Cruzadas, não aceitava a riqueza da Igreja Católica e tantas outras coisas, como a caça às bruxas na Inquisição. Aí, lá pelos meus 16 anos, li Ilusões, de Richard Bach, e resolvi que não me crismaria, pois a fé que tinha no Sagrado não era a que pregava o catolicismo. Mais na frente, tive a oportunidade de conhecer a religião espírita mais de perto, mas não aceito o sofrimento na Terra como uma garantia do Céu. O meu Deus, a minha Deusa, está presente na magia da Natureza, no momento em que sinto meu filho mexendo na barriga, no instante em que faço amor com meu homem. Aprendi outros caminhos com a Psicologia Transpessoal e com o Xamanismo. Adoro saber-me bruxa. A Divindade é para mim algo vivo, pulsante, sempre manifestada nas coisas simples. Já não me importa aprender e, sim, experienciar a Energia Cósmica expressando-se através de tudo, absolutamente tudo que existe. Energias, espíritos... é maravilhosa esta entrega. Vivo uma inabalável fé na Vida. Tento compartilhar, através dos meus textos, a jornada que minha Alma percorreu. A Vida me chama e eu me entrego, ou, como diria um filho meu, me jogo, em absoluta confiança.

R: E as mudanças foram muitas. Profissões, maridos...

P: (risos) Por medo, joguei para baixo do tapete, por muito tempo, a minha verdadeira vocação que era viver plenamente o meu amor pelos livros. Devido a traumas de vidas passadas, receei o êxito, o sucesso, a fogueira. Como era muito inteligente fui direcionada para o mundo da exatidão, mundo masculino, e trabalhei com lógica, bits e bytes. Sentia um vazio enorme, uma vida sem significado. Resolvi seguir outro talento que tinha, mas que ainda me manteria trás das cortinas, longe das luzes do palco e dos aplausos, e fui cuidar das almas feridas, sendo psicóloga. Foi uma época linda de minha vida, onde conheci pessoas incríveis e aprendo que tudo que fazemos tem uma razão de ser. Chegou um momento em que minha Alma gritou, que pedi para ser ouvida e pude, finalmente, ter uma rotina de escritora. É uma vida muito simples e solitária, voltada para dentro. Agora não era mais uma cientista, tornara-me uma artista. Ler, escrever, ler, escrever, ler, escrever, observar o mundo, visitar meu mundo. Dialogar com pássaros, árvores, seres invisíveis; conversar com o mar; banhar-me de lua e estrelas; abraçar-me com o sol. Aos poucos fui me mudando para mundos paralelos. É difícil manter os pés no chão e a cabeça nas nuvens. Moro uns dias perto da mata e outros perto do mar. Adoro esta alternância entre as energias yin-yang. Intui que viveria assim quando li, há algum tempo, o livro Feminilidade Consciente, onde a autora vivia dessa forma. Gosto disso: previsão ou criação do futuro? Não importa, para mim. Repito muito uma canção de São Francisco de Assis que diz que ‘doce é sentir, em meu coração, humildemente, vai nascendo o amor’. Procuro me manter num estado de consciência que me possibilite viver assim. Para contar tudo isso, escrevo.

R: E as mudanças no amor?

P: Ah! O amor! Tenho que estar apaixonada pelas coisas e pelas pessoas que me cercam. O tempo de ser feliz para mim é agora. Amei muito os homens que tive, aprendi com eles a me tronar mais inteira. Sou grata e os honro pela possibilidade de amá-los. Claro que houve dor e sofrimento nas separações que tive, mas viveria tudo de novo. Deram-me filhos lindos, os meus verdadeiros tesouros, o que me deixa plena e feliz. Foram histórias cheias de tesão, mas que acabaram porque nos transformamos e não Havaí mais encaixe. Adoro o poeta Vinicius de Moraes, um home de muitos amores e vida intensa, quando nos ensina que ‘a vida só se dá pra quem se deu’.

R: Por falar em poeta, que autores estiveram em sua mesa e cabeceira durante esses anos?

P: Não sei especificar quais me acompanharam, pois leio e, muitas vezes, não sei o nome do livro, o nome do autor, os nomes dos personagens, e estou completamente arrebatada pelo texto. Fernando Pessoa, Clarice Lispector e, recentemente, Daniel Lima. Cora Coralina, Adélia Prado, Djanira Silva, Cecília Meireles. Li coleções de livros que havia em casa. Machado de Assis é fantástico e seu conto, O Alienista, me colocou em transe por diversas vezes. O que amo mesmo é o cheiro do livro, a textura das páginas, o mistério ainda não revelado pelas palavras não lidas. Reler um poema que toca o coração é algo que deixa o meu aquecido.

R: Como está sendo para você esse sucesso tudo? É duro ser celebridade?

P: Algumas coisas são maravilhosas, outras bem difíceis de conviver. Críticos, invasão de privacidade estão entre as coisas chatas, assim como os compromissos editoriais. Viver da literatura é um presente do Universo para mim, mas o melhor de tudo é meu encontro com o leitor, seja através dos textos ou numa conversa na rua, na praça, num café. Nasci para isso. O sucesso, o que é? Continuo com minha rotina simples, cuidando das pessoas que amo, cercada só do que me interessa. Faço suco, leite, café, asso pão, limpo xixi e coco do meu cachorro, cuido das plantas, medito, caminho, namoro, tomo banho de mar, falo com a natureza e com fadas e duendes, leio, escrevo, ouço música, vejo filme, encontro com meus amigos e minha família. Claro que é bom ter dinheiro para pagar as contas, para comprar os livros que quero, para viajar muito. O importante é que vivo meu Dom, exerço meu Talento. Agora vivo a Paz. Se a Morte chegar, irei tranqüila porque vivi a vida que sonhei para mim.

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A entrevista acima ainda não existiu na minha realidade ordinária, porém si que está próximo o momento de sua realização, onde conversarei com uma repórter sobre a Jornada da Alma que sou. Quando isso acontecer não saberei se fiz uma profecia, criei o futuro, ou, apenas, o vi. Importa?

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