6.1.12

Foi assim. Aqui em casa começou a aparecer uma gata. Comia a comida de Hércules, o cachorro, depois começou a dormir no sofá da varanda. De tanto que insistiu, eu, que tenho medo de gatos, resolvi comprar uma ração específica para ela. Quando descia para colocar sua refeição, enroscava-se em minhas pernas pedindo carinho. Vi quando transou com um gato que também circula pelos jardins e fiquei no aguardo de sua ninhada. A cada dia, mais intimidade criava. Ficou deitada na minha sala de trabalho enquanto eu escrevia, deitava no terraço quando meus filhos estavam com os amigos. De repente era da casa.


Os pavões também vieram comer da sua ração e ela recuava diante da entrada do bando – são em número de dez. Mas aqui era seu território.

Na manhã da última terça-feira, coloquei sua ração e estranhei porque não apareceu. Pensei:

- Ih! Quando um gato some da casa é sinal que seu dono vai morrer. Como ela acha que a dona sou eu...

Logo depois tive a notícia que havia tido seus filhotes na casa vizinha e dei graças a Deus por isso, pois não teria que assumir uma gata e sua ninhada. Mas a gata saiu do seu aconchego e começou a trazer seus filhotes, seis ao total, um por um, para nossa casa, mais especificamente para um local em frente ao meu birô, no cantinho Sagrado onde escrevo, leio, medito. Demorei a acreditar no que estava vendo. Ela comia um pouco, dava de mamar aos que já estavam aqui e corria para ir buscar mais um. Agora estão todos aqui. Eu e a família toda estamos cuidando deles com carinho. Comida, água, leite. Não ligo mais o ventilador, não acendo a luz à noite, não coloco incensos. Tudo para respeitar este tempo / lugar em que a vida mostra sua força e sua beleza.

O jardineiro veio fazer nosso jardim e viu os gatos, os pavões, os tô-fraco, também descobriu uma colméia em uma das árvores daqui e comentou:

- Por que é que os animais só querem viver nessa casa?

Respondi na lata.

- Porque a gente é xamã.

Saiu sem querer; quando vi, já tinha falado. Ele arregalou os olhos, fez um silêncio e disse um “Ahhhhhh!”, sem explicar e compreender muita coisa.

Adoro jabuticaba e colocamos um pé aqui em casa. É difícil comer algum fruto, pois logo que começam a aparecer, os visitantes do jardim chegam e levam tudo. Comentei esse fato com meu marido, reclamando que os animais estavam comendo ‘minhas’ jabuticabas. Sorriu e respondeu:

- Quem disse que são suas?

Frase curta, direta, simples e muito verdadeira. Só porque a plantei, está num terreno de uma casa que aluguei, sou eu quem coloca água nela e tira as folhas de seu caule, não a faz minha. Os animais não conhecem estas regras. A natureza é muito maior que as leis de propriedade.

Sinto-me feliz por ter diminuído a correria do meu dia-a-dia e estar mais conectada com o ritmo da natureza, podendo compartilhar seus ciclos e o brotar da vida em todas as formas Sagradas.











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