13.4.12

Era meu primeiro dia de trabalho na escola. Estava feliz e pensava em realizar muitas coisas como psi.


Cheguei cedo e percebi um grupo de crianças conversando em torno de alguém que não conseguia ver. Aproximei-me e fui ouvindo sua voz, sua risada gostosa. Cheguei mais perto e me deparei com um menino de olhos espertos, óculos grandes, peito estufado, pernas encolhidas, sentado numa daquelas motocas de criança pequena. Deveria ter uns dez anos. Apesar de seu corpo apresentar problemas, irradiava luz e alegria. Olhou-me e sorriu. Sorri de volta. E foi assim que nos conhecemos.

Acompanhei-o diversas vezes nos momentos em sala de aula, nas aulas de dança, música, artes ou educação física. Se seu corpo não podia fazer todos os movimentos, sacudia-o com ritmo e se permitia sentir o prazer possível. Às vezes chegava na sala da coordenação com dores no peito ou falta de ar. Nessas horas meu coração apertava porque lembrava que sua doença impedia que sua estrutura óssea se desenvolvesse no mesmo ritmo dos órgãos internos, o que poderia levá-lo a um colapso. Ainda o vejo dando explicações sobre o Ar, em nossa Feira de Conhecimentos. Também ouço sua voz e seu sorriso quando dizia que paquerava com minha filha. Levantava os olhos e piscava, piscava, achando a maior graça quando eu fazia cara de braba.

Gosto de saber que tive sua confiança, a ponto de me revelar, em segredo, que brincava de Barbie e Kant, entendendo que eu compreenderia que estava tentando desvelar os segredos do amor e do sexo. Ele era lindo e todos, no colégio, o amavam.

Essa situação foi difícil para sua família, mas sua mãe nunca desistiu e não deixou que o medo da morte chegasse tão perto, com força para impedir a esperança. Eu sabia que não iria embora cedo. Era um anjo com a missão de espalhar coragem, força e alegria por onde passasse. O risco maior seria sua adolescência. Fez cirurgia, abriu o tórax, criou espaço.

Saí do colégio, perdi o contato e nunca mais havia tido notícias dele. Mas, vez por outra, me lembrava de sua gargalhada e do piscar de seus olhos e meus lábios sorriam, acompanhando o sorriso de saudade do meu coração.

Noutro dia, andando pelo shopping, ouvi:

- Tia, tia!

Olhei em direção àquela voz familiar. Deparei-me com ele, sentado em uma mesa, agora já homem feito, acompanhado de colegas. Não havia mais a motoca. Em seu lugar, uma discreta muleta. Lágrimas de alegria teimavam em sair de meus olhos. Contou-me que estava fazendo faculdade e que logo seria psi, como eu.

Este foi um daqueles momentos raros em que temos a oportunidade de ver a face de Deus. Em silêncio, reverenciei-O. Abracei-o, beijei-o, com o coração batendo descompassado. Despedimo-nos com alegria.

Depois fiquei pensando que havia testemunhado a força da vida, esse mistério que nos acompanha e que nos faz sentir a magia no ar.

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