18.4.12




Ontem foi um dia que saiu completamente do meu controle. Havia planejado uma viagem para Lagoa dos Gatos e Panelas, junto com Roberto, onde resolveríamos assuntos de trabalho. Iríamos articular em Panelas o financiamento de um projeto de recuperação de nascentes e de preservação da mata atlântica. Este trabalho lindo já é executado, sem financiamento algum, por um homem muito especial, Valdir, da Mata, como é conhecido. Prefiro chamá-lo de Homem do Dedo Verde. Depois da parada em Panelas, seguiríamos para Lagoa dos Gatos, pois teria que resolver algumas questões burocráticas referentes à editora Caleidoscópio e iria conversar com as autoridades de lá sobre a implantação de serviços para a população: consumo e educação. Tudo certo, às cinco e meia da manhã colocamos água e biscoito no carro e pegamos a estrada.

Não chegamos muito longe. Logo ali, em Moreno, filas de carros parados. O que aconteceu? Um protesto, fecharam a estrada com pneus e tocaram fogo. Ainda deu tempo de mudar o caminho. Demos uma volta imensa, fomos por Carpina. Quase éramos pegos em outro protesto, pois encontramos um grupo com pneus nas mãos.





Descobrimos que era um movimento articulado do MST, colocando bloqueios em tudo que era canto. Depois de muita estrada, chegamos em Vitória de Santo Antão, vindos de Glória de Goitá. Mais uma parada forçada. Pneus, fumaça preta, motoristas ensandecidos, ambulâncias impotentes.






Fiquei revoltada. Defendo o movimento, acho que é uma injustiça tão poucos com tantas terras improdutivas e tantos sem ter onde plantar, mas não concordei com aquela forma de se dizer o que está errado nesse país. E os doentes como sobreviveriam nas horas que estivessem sem poder seguir em frente?! Fui ficando cada vez mais irritada, uma vontade louca de fazer xixi, surtei. Desci do carro, bato e porta e fui caminhando até Gravatá, na esperança de achar um banheiro e, principalmente, colocar para fora minha ira. Depois de um tempo longo, Roberto me pegou na estrada.O pessoal de Lagoa dos Gatos ligou avisando que havia mobilização em Caruaru e em Agrestina. Seguimos com receio de novas interrupções. Resolvemos tomar a estrada de Bonito. Aquilo é tudo, menos uma estrada asfaltada. Ainda pegamos duas marcas dos protestos, com restos de pneus queimados no asfalto, mas conseguimos passar. Chegamos em Panelas às onde e meia. Seis horas de viagem. Eu estava mordendo vento. Roberto, tranqüilo, e acho que feliz pelo sucesso da mobilização de gente que luta há tempo por seus direitos. Eu havia esquecido meus ideais, minhas teorias, e só pensava nos transtornos que aquilo tudo havia provocado no meu dia. Senti vergonha da minha pequenez, mas as sombras existem e surgem com força quando cutucamos o cão com vara curta. Tão fácil deixar-se tomar por menos.


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