19.7.12






D. Maria, minha vizinha, é uma mulher cheia de surpresas. Quando veio morar aqui, fez logo amizade com todo mundo. Foi de casa em casa, se apresentando e convidando as comadres para um café com bolo em sua casa. Prosa fácil, sorriso largo e, o principal para a gente ganhar a confiança de uma pessoa, um olhar que vê bem dentro do olho da outra. Gostei dela de cara.


D. Maria acorda cedinho, junto com o canto dos galos, e vai logo para o quintal dá comida para os bichos. Depois ajeita o jardim, colhe suas ervas e se senta numa posição esquisita, olhando para lugar nenhum. Fica um tempão assim. Levanta, entra na casa e vai trabalhar. Soube que é trabalho sério porque vive na rede lendo e na varanda usando o tal de computador. Às vezes almoça aqui em casa, às vezes vou almoçar na dela. Tudo simples e gostoso. Tem tardes que a mulherada toda se junta para cozinhar um doce, costurar umas roupas, bordar uns panos de prato ou só jogar conversa fora. D. Maria adora ouvir as histórias que cada uma vai contando e sempre escuta as dores e as alegrias com muita atenção. À tardinha, pega sua vassoura de mato e varre o quintal. Depois fica olhando a noite chegar. Janta sua sopa, seu cuscuz e seu café bem forte. Dorme cedo e sempre diz que é igualzinha ao sol: de noite, quieta; de dia, cheia de energia.

Eu estava no terraço com meus netos quando vi a cara de D. Maria na televisão. Os meninos faziam tanto barulho que não conseguia ouvir o que dizia. Fiquei preocupada, pensando que talvez D. Maria estivesse metida em alguma confusão. Susto mesmo tomei no outro dia de manhã. Quando acordei, vi o maior buruçu na frente da casa de D. Maria. Tinha carro para todo lado, tinha gente da televisão, do rádio, do jornal, e todo mundo só queria saber de falar com minha comadre. Até agora não entendi direito o que aconteceu. Parece que ela ganhou um prêmio, uma coisa dessas, porque descobriu uma coisa muito importante. Ouvi falar que é cientista. Nem sei o que isso quer dizer. Só sei é que quando esse pessoal foi embora, D. Maria pegou sua vassoura de mato, foi varrer o quintal e quando me viu, sorriu e perguntou:

- Boa tarde, comadre! Vamos ter nosso bolo com café hoje de tarde? Estou louca por um dedinho de prosa.

Fiz o sinal da cruz. Graças a Deus, D. Maria – a cientista – não tinha roubada nossa D. Maria – a comadre.

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