24.2.13


Passei a tarde assistindo filmes na televisão digital – que imagem! -, escolhidos na programação da TV a cabo. Gravei alguns documentários que achei interessante e vi/ouvi o episódio do meteorito que caiu na Rússia. Também naveguei na internet, matriculei-me em cursos online, mandei mensagens, acessei redes sociais.
Lembrei os meus tempos de Ciência da Computação na UFPE. 1981. Sala de aula normal, com cadeiras em fileira, quadro verde e giz. Os programas eram redigidos à mão, numa folha quadriculada, com o zero cortado para distingui-lo da letra O. O próximo passo era a digitação, nas máquinas do NPD, em cartões perfurados. Botar para rodar e ficar esperando a listagem era parte da nossa rotina, obrigando-nos a viradas de noite por lá, pois sempre havia um erro bobo ou um picote ficava preso por trás do cartão, arruinando nosso trabalho.
Tive a oportunidade de participar da introdução dos microcomputadores por aqui. Meus colegas ficavam tirando brincadeiras, dizendo para eu trocar a pilha de meus equipamentos. Tudo tinha que funcionar em máquinas com 8K de memória RAM, com armazenamento em fitas-cassete, em disquetes de oito polegadas e depois de cinco e um quarto, tudo flexível. Os cuidados com o sol, com a poeira, o dedo eram essenciais para garantir a segurança dos dados. Folha de pagamento, contas a receber e pagar, controle de estoque, eram sistemas básicos desenvolvidos nessas máquinas que tinham, a princípio, a TV como monitor. Sucesso foi o surgimento dos microcomputadores integrados – monitor, teclado e discos juntos -, e memória de 64K.
Já os computadores de grande porte eram grandes mesmo. Ocupavam salas enormes, sempre geladas. Tinha o pessoal da manutenção, o do suporte e o de desenvolvimento de sistemas. Falava-se que o futuro seria das redes de computadores e que os micros teriam um lugar no mercado. Não me lembro de previsões de computadores serem mais comuns que carros e que muito mais do que aquilo que fazia seria possível apenas com um celular. Estamos todos na rede.
Então lembrei  o que me fez escolher Ciência da Computação, mudando o rumo da minha vida na semana de inscrição do vestibular. Sempre tive o dom de escutar as pessoas e ajudá-las em seus problemas da alma. Por isso, claro, o caminho natural seria a Psicologia ou a Psiquiatria. Porém, nos meus dezoito anos, assustou-me a pressão que esses encontros significavam. Visitei um grande centro de processamento de dados, conheci aquele ambiente perfeito, gelado, sem dor, onde todos conseguiam resolver os problemas dos programas das máquinas. Nada de sofrimento. Segui por aí. Àquela época eram raros os profissionais que entendiam de bits e bytes e tive uma carreira de sucesso. Logo estava empregada, fazendo programas, coordenando equipes, desenvolvendo sistemas – os mais variados -, indo do controle de exames médicos, a rações de galinha, passando por pesagens de usinas de açúcar. Às vezes pegava um avião bem cedo, participava de reuniões o dia todo e voltava à noite. A própria executiva. O casamento me fez escolher uma rotina mais tranquila e fiz concurso para um emprego federal. As coisas se acalmaram um pouco e continuei inventando novos projetos. Comecei um mestrado na área de Informática, com bolsa do CNPQ e tudo, mas o abandonei quando percebi que meu coração estava ficando tristinho. Larguei o emprego público e fui levar carinho para outros corações.
Tive uma crise de riso quando o vendedor da loja disse para meu filho que o computador que estava comprando tinha TERABYTES de HD. TERA? Isso para minha era um dez elevado a alguma potência, só teoria. Lembro do meu mestre em Cognição – como se aprende? Como se ensina? -, digitando a dissertação dele num computadorzinho, com a TV à sua frente, funcionando como monitor. Hoje os quadros nas salas de aula são digitais, permitindo interação, tudo com acesso à internet, numa velocidade nunca por mim imaginada.
Pergunto-me se com toda essa tecnologia não estamos valorizando demais a forma e colocando num segundo plano o conteúdo?
Estamos, de verdade, mais conectados?

Um comentário:

Anônimo disse...

Me encanta esse relato, começo a imagina que também irei seguir esse caminho, coisas que amo (ouvir as pessoas, suas histórias e poder ajudar a ajustar alguns problemas da vida) vou repertir essa frase por um bom tempo ou melhor até quando estiver EU, formado e contribuindo de algum modo com a vida das pessoas.

"Sempre tive o dom de escutar as pessoas e ajudá-las em seus problemas da alma. Por isso, claro, o caminho natural seria a Psicologia ou a Psiquiatria."

Saudades imensas da tue energia !

Alberto Fernando