19.2.13


Chegara o grande dia. Sede pronta, portas e janelas abertas para as pessoas conhecerem a Caleidoscópio Editora, uma fábrica artesanal de livros. Meu coração estava feliz, parava, acelerava. Com a ajuda dos familiares e amigos, fui colocando as coisas no lugar. Quadros, poemas, fotos das pessoas que me ajudaram na construção desse projeto. Vasos com flores espalharam-se pelos cantos, deixando tudo mais belo. Sucos, refrigerantes, bolos, doces e bombons distribuíram-se nas mesas. Lembrei minha mãe contando a história dos duendes que ajudavam o sapateiro na fabricação de sapatos. Ali eu não os via, mas tinha a certeza que aquele espaço estava cheio de fadas, duendes e magia. O que eu percebia era um ambiente iluminado, como se o ar tivesse repleto do brilho da purpurina. Vi minha máquina de escrever, cercada pelos livros que já inventei. Talvez, na minha infância, ela já soubesse que meu destino era ser escritora. Eu é que não tive ouvidos para escutar os segredos que minha alma sussurrava com paciência. Agora eles estavam ali, materializados, organizando em palavras os sentimentos que trago no coração.
Os convidados foram chegando, os olhares eram de puro encantamento. Vizinhos, amigos, parentes, autoridades e crianças. Ah! Era para elas tudo aquilo. E como se maravilharam com as guloseimas que nunca tinham colocado na boca. Descobriram a delícia que é morango com chocolate. Encheram as mãos com doces e bombons e fizeram um estoque particular em casa. Pegavam pedaços enormes de torta e corriam para os pais. Vendo tudo aquilo, sorria feliz, pois percebia que era uma tentativa de guardar por mais um pouco toda a maravilha que estavam vivendo ali.
Ouvi comentários que ressaltavam a ousadia - minha, do meu marido e da minha família - na realização de algo assim: São uns loucos, são uns herois. Quiçá, mas uma loucura sagrada, aquela que é fruto da entrega, com entusiasmo, ao que nos diz a inspiração. Pessoa nos justificava: Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. Foi assim todo o processo.
O vento soprou frio, o sol quis ir dormir, as luzes se acenderam, a ponte se transformou na Ponte dos Desejos, toda iluminada. Meu corpo estava lá e eu, onde vivia naqueles momentos de puro êxtase? A alegria era tanta que não cabia no corpo que acolhe quem sou. Sentia-me luz, puro amor, pulsando entre mundos paralelos. Havia a realidade ordinária e aquela em outra dimensão. Transitava de lá para cá, de cá para lá (qual seria o cá?).
De repente, vi, e não percebi, a chegada de pessoas amadas que compartilharam um passado distante, da época dos meus bits e bytes. Quanto mais se aproximavam, mais me afastava, pois não era possível esse encontro naquele meu tempo/lugar. Fui entendendo que não eram uma miragem e eu não sabia se estava viva ou morta. Meu cérebro não conseguia traduzir a situação. Socorreu-me o coração e com sorrisos e lágrimas de alegria, abracei-os com gratidão, pois reverenciavam aquela que me tornei. Foi um dos maiores presentes que já recebi.
Minha irmã e seu marido representaram as raízes que me sustentaram até ali. Sentia a alegria de meus ancestrais. Honrava-os. Meus filhos, todos com os olhos iluminados, traziam o símbolo dos doces frutos que surgirão desse nosso espaço sagrado. Amigos testemunharam a jornada que trilhei e comentaram a beleza do meu momento de vida. Meu marido era a prova viva do que o amor é capaz de fazer na conexão plena de corações. Passado-presente-futuro, tudo junto num só instante. Longe é um lugar que não existe, ensinou-me Richard Bach. A realidade não existe, disse-me um professor de Psicologia. Isso tudo era uma verdade para mim naquela bolha de magia e encantamento.
A festa foi acabando, os convidados indo embora, as redes ficando sem o balanço ritmado, as luzes se apagando. Saí para voltar no outro dia e arrumar as coisas da festa.
Quando voltei e atravessei a ponte, percebi que aquela coisa toda linda era uma empresa, uma editora, um local de trabalho e me senti abençoada por poder criar num lugar assim, cercada por árvores, montanhas, animais, lendo no acalanto da rede, com o vento frio acariciando meu corpo. Então, depois de toda essa travessia, consegui traduzir meu estado de espírito: gratidão.
Continuo, repetindo o mantra que guia meu caminhar:
- Seja feita a Tua vontade. Em Tuas mãos eu entrego o meu espírito.
Que venham mais sonhos a realizar!











































Um comentário:

Psibuscando disse...

Patrícia: PARABÉNS, a Editora deve ser uma alegria muito grande realizado. Imagino a alegria no seu coração com esse sonho realizado.
Beijos no seu coração.