Chegara o grande dia. Sede pronta, portas e janelas abertas para
as pessoas conhecerem a Caleidoscópio Editora, uma fábrica artesanal de livros.
Meu coração estava feliz, parava, acelerava. Com a ajuda dos familiares e
amigos, fui colocando as coisas no lugar. Quadros, poemas, fotos das pessoas
que me ajudaram na construção desse projeto. Vasos com flores espalharam-se
pelos cantos, deixando tudo mais belo. Sucos, refrigerantes, bolos, doces e
bombons distribuíram-se nas mesas. Lembrei minha mãe contando a história dos
duendes que ajudavam o sapateiro na fabricação de sapatos. Ali eu não os via,
mas tinha a certeza que aquele espaço estava cheio de fadas, duendes e magia. O
que eu percebia era um ambiente iluminado, como se o ar tivesse repleto do
brilho da purpurina. Vi minha máquina de escrever, cercada pelos livros que já
inventei. Talvez, na minha infância, ela já soubesse que meu destino era ser
escritora. Eu é que não tive ouvidos para escutar os segredos que minha alma
sussurrava com paciência. Agora eles estavam ali, materializados, organizando
em palavras os sentimentos que trago no coração.
Os convidados
foram chegando, os olhares eram de puro encantamento. Vizinhos, amigos,
parentes, autoridades e crianças. Ah! Era para elas tudo aquilo. E como se
maravilharam com as guloseimas que nunca tinham colocado na boca. Descobriram a
delícia que é morango com chocolate. Encheram as mãos com doces e bombons e
fizeram um estoque particular em casa. Pegavam pedaços enormes de torta e
corriam para os pais. Vendo tudo aquilo, sorria feliz, pois percebia que era
uma tentativa de guardar por mais um pouco toda a maravilha que estavam vivendo
ali.
Ouvi comentários
que ressaltavam a ousadia - minha, do meu marido e da minha família - na
realização de algo assim: São uns loucos, são uns herois. Quiçá, mas uma
loucura sagrada, aquela que é fruto da entrega, com entusiasmo, ao que nos diz
a inspiração. Pessoa nos justificava: Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Foi assim todo o processo.
O vento soprou
frio, o sol quis ir dormir, as luzes se acenderam, a ponte se transformou na
Ponte dos Desejos, toda iluminada. Meu corpo estava lá e eu, onde vivia
naqueles momentos de puro êxtase? A alegria era tanta que não cabia no corpo
que acolhe quem sou. Sentia-me luz, puro amor, pulsando entre mundos paralelos.
Havia a realidade ordinária e aquela em outra dimensão. Transitava de lá para
cá, de cá para lá (qual seria o cá?).
De repente, vi, e
não percebi, a chegada de pessoas amadas que compartilharam um passado
distante, da época dos meus bits e bytes. Quanto mais se aproximavam, mais me
afastava, pois não era possível esse encontro naquele meu tempo/lugar. Fui
entendendo que não eram uma miragem e eu não sabia se estava viva ou morta. Meu
cérebro não conseguia traduzir a situação. Socorreu-me o coração e com sorrisos
e lágrimas de alegria, abracei-os com gratidão, pois reverenciavam aquela que
me tornei. Foi um dos maiores presentes que já recebi.
Minha irmã e seu
marido representaram as raízes que me sustentaram até ali. Sentia a alegria de
meus ancestrais. Honrava-os. Meus filhos, todos com os olhos iluminados,
traziam o símbolo dos doces frutos que surgirão desse nosso espaço sagrado.
Amigos testemunharam a jornada que trilhei e comentaram a beleza do meu momento
de vida. Meu marido era a prova viva do que o amor é capaz de fazer na conexão
plena de corações. Passado-presente-futuro, tudo junto num só instante. Longe é
um lugar que não existe, ensinou-me Richard Bach. A realidade não existe,
disse-me um professor de Psicologia. Isso tudo era uma verdade para mim naquela
bolha de magia e encantamento.
A festa foi
acabando, os convidados indo embora, as redes ficando sem o balanço ritmado, as
luzes se apagando. Saí para voltar no outro dia e arrumar as coisas da festa.
Quando voltei e
atravessei a ponte, percebi que aquela coisa toda linda era uma empresa, uma
editora, um local de trabalho e me senti abençoada por poder criar num lugar
assim, cercada por árvores, montanhas, animais, lendo no acalanto da rede, com
o vento frio acariciando meu corpo. Então, depois de toda essa travessia,
consegui traduzir meu estado de espírito: gratidão.
Continuo,
repetindo o mantra que guia meu caminhar:
- Seja feita a Tua
vontade. Em Tuas mãos eu entrego o meu espírito.
Que venham mais sonhos a realizar!
Um comentário:
Patrícia: PARABÉNS, a Editora deve ser uma alegria muito grande realizado. Imagino a alegria no seu coração com esse sonho realizado.
Beijos no seu coração.
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