29.1.13
Quando era criança, conheci a casinha do sítio que
meu pai e meu tio tinham comprado e falei assim:
- Quando crescer, construirei aqui uma escola.
O tempo passou, nunca mais voltei lá e o sonho (ou premonição?) ficou guardado lá no coração, num lugar tão escondido que nem me lembrava dele.
Há alguns anos visitei novamente a região e me reencontrei com a casinha, agora uma construção em estado de decadência total. Recordei o sonho. Surgiu o desejo (ou inspiração?) de realizá-lo, não mais como uma escola e, sim, como uma editora de livros, uma fábrica artesanal de livros.
Gestei a Caleidoscópio, investindo toda energia em cada tijolo manual que era colocado, em cada barro - tirado da própria terra - que servia como liga. A planta foi discutida com o marido e os filhos e desenhada num papelzinho quadriculado. Pequeninha. As paredes começaram a subir e pensei 'aqui não vai caber é nada'. Subiram mais um pouco, o telhado surgiu e fiquei perplexa diante do tamanho da obra. Enorme!
Tijolos, telhas, madeira, cimento, areia, portas, janelas, ferrolhos, canos, fios, pregos, tudo, tudo sendo entregue sem um centavo pago, sem um cheque pré-datado, só na base da confiança. Coisas que só no interior ainda se encontra. Tudo muito simples, casa de portas e janelas sempre abertas para que o vento fizesse festa.
Aprendi com o ritmo da natureza, com os animais e as plantas que vivem neste cadinho de paraíso. Senti o vento frio, senti a chuva, senti o calor, senti sede.
Em alguns momentos as dificuldades eram tantas que me olhava no espelho e encarava a face da loucura, pois como realizar uma obra assim sem os recursos financeiros necessários? A alma respondia que quando o caminho é o do coração, o Universo conspira a favor. Conectava cada célula do meu corpo a esta energia, respirava e me lembrava da multiplicação dos pães no sermão da montanha. Seguia em frente, pois sempre surgia uma oportunidade de gerar uma renda extra ou uma ajuda dos inúmeros parceiros que tive durante a jornada. Mata Viva, Dangen, Nô, Nildo, Sr. Luciano, Cidinha, Adriano, Sr. Leopoldo e Dona Maria, Zé Laurentino, Carlos e Dionízio. O estímulo dos amigos também ia dando o alento necessário quando a alegria do criar diminuía. Professor Luiz Carlos, Mile e Ednílson, Elizandra. O apoio dos meus filhos e do meu marido foi o alimento que me fez sobreviver nessa travessia. Confirmou-se o ditado que diz que quando se sonha junto, o sonho se materializa.
Outra forma de seguir em frente era inventar detalhes. A pia do banheiro era uma bacia de alumínio, comprada nas calçadas de trás do Mercado São José. A torneira era uma cuia de feira. Os porta-toalhas surgiram de piões de brinquedo. Ladrilhos hidráulicos foram feitos artesanalmente por um artista de Ouro Preto, lá de Olinda. Troncos retirados das sucupiras do nosso sítio vieram fazer parte do piso de cimento queimado. As cores das tintas foram resgatadas de um recorte de revista guardado por muito tempo. As luminárias da sala foram presentes de uma amiga e a da sala de reuniões foi invenção do meu marido. Houve um buraco que logo foi transformado num lago. Criou-se uma ponte, cheia de curvas para homenagear o camarada Oscar. Redes se espalharam pela casa toda.
Foram muitas as idas e vindas para levar móveis, estantes, livros e livros e livros. A limpeza se transformou num ritual, pois como a casa não era forrada caía sempre um pó do telhado.
Devagarzinho a casa foi se transformando num lugar mágico, cheia de sonhos, fadas, bruxas, duendes. Reuniões do Partidão - na sala reservado para meu marido -, encontros para contação de histórias, círculo de mulheres, formação de educadores, fotografia, cinema, teatro, música, dança, cuidados com o meio ambiente e tudo o mais que o coração sussurrar.
Agora está pronta e muita feliz. Conversei com ela e me confidenciou que já abriu suas portas e janelas para o Amor entrar. Sejamos bem-vindos!
Que a Energia Sagrada abençoe este lugar!
- Quando crescer, construirei aqui uma escola.
O tempo passou, nunca mais voltei lá e o sonho (ou premonição?) ficou guardado lá no coração, num lugar tão escondido que nem me lembrava dele.
Há alguns anos visitei novamente a região e me reencontrei com a casinha, agora uma construção em estado de decadência total. Recordei o sonho. Surgiu o desejo (ou inspiração?) de realizá-lo, não mais como uma escola e, sim, como uma editora de livros, uma fábrica artesanal de livros.
Gestei a Caleidoscópio, investindo toda energia em cada tijolo manual que era colocado, em cada barro - tirado da própria terra - que servia como liga. A planta foi discutida com o marido e os filhos e desenhada num papelzinho quadriculado. Pequeninha. As paredes começaram a subir e pensei 'aqui não vai caber é nada'. Subiram mais um pouco, o telhado surgiu e fiquei perplexa diante do tamanho da obra. Enorme!
Tijolos, telhas, madeira, cimento, areia, portas, janelas, ferrolhos, canos, fios, pregos, tudo, tudo sendo entregue sem um centavo pago, sem um cheque pré-datado, só na base da confiança. Coisas que só no interior ainda se encontra. Tudo muito simples, casa de portas e janelas sempre abertas para que o vento fizesse festa.
Aprendi com o ritmo da natureza, com os animais e as plantas que vivem neste cadinho de paraíso. Senti o vento frio, senti a chuva, senti o calor, senti sede.
Em alguns momentos as dificuldades eram tantas que me olhava no espelho e encarava a face da loucura, pois como realizar uma obra assim sem os recursos financeiros necessários? A alma respondia que quando o caminho é o do coração, o Universo conspira a favor. Conectava cada célula do meu corpo a esta energia, respirava e me lembrava da multiplicação dos pães no sermão da montanha. Seguia em frente, pois sempre surgia uma oportunidade de gerar uma renda extra ou uma ajuda dos inúmeros parceiros que tive durante a jornada. Mata Viva, Dangen, Nô, Nildo, Sr. Luciano, Cidinha, Adriano, Sr. Leopoldo e Dona Maria, Zé Laurentino, Carlos e Dionízio. O estímulo dos amigos também ia dando o alento necessário quando a alegria do criar diminuía. Professor Luiz Carlos, Mile e Ednílson, Elizandra. O apoio dos meus filhos e do meu marido foi o alimento que me fez sobreviver nessa travessia. Confirmou-se o ditado que diz que quando se sonha junto, o sonho se materializa.
Outra forma de seguir em frente era inventar detalhes. A pia do banheiro era uma bacia de alumínio, comprada nas calçadas de trás do Mercado São José. A torneira era uma cuia de feira. Os porta-toalhas surgiram de piões de brinquedo. Ladrilhos hidráulicos foram feitos artesanalmente por um artista de Ouro Preto, lá de Olinda. Troncos retirados das sucupiras do nosso sítio vieram fazer parte do piso de cimento queimado. As cores das tintas foram resgatadas de um recorte de revista guardado por muito tempo. As luminárias da sala foram presentes de uma amiga e a da sala de reuniões foi invenção do meu marido. Houve um buraco que logo foi transformado num lago. Criou-se uma ponte, cheia de curvas para homenagear o camarada Oscar. Redes se espalharam pela casa toda.
Foram muitas as idas e vindas para levar móveis, estantes, livros e livros e livros. A limpeza se transformou num ritual, pois como a casa não era forrada caía sempre um pó do telhado.
Devagarzinho a casa foi se transformando num lugar mágico, cheia de sonhos, fadas, bruxas, duendes. Reuniões do Partidão - na sala reservado para meu marido -, encontros para contação de histórias, círculo de mulheres, formação de educadores, fotografia, cinema, teatro, música, dança, cuidados com o meio ambiente e tudo o mais que o coração sussurrar.
Agora está pronta e muita feliz. Conversei com ela e me confidenciou que já abriu suas portas e janelas para o Amor entrar. Sejamos bem-vindos!
Que a Energia Sagrada abençoe este lugar!
19.2.13
Chegara
o grande dia. Sede pronta, portas e janelas abertas para as pessoas conhecerem
a Caleidoscópio Editora, uma fábrica artesanal de livros. Meu coração estava
feliz, parava, acelerava. Com a ajuda dos familiares e amigos, fui colocando as
coisas no lugar. Quadros, poemas, fotos das pessoas que me ajudaram na
construção desse projeto. Vasos com flores espalharam-se pelos cantos, deixando
tudo mais belo. Sucos, refrigerantes, bolos, doces e bombons distribuíram-se
nas mesas. Lembrei minha mãe contando a história dos duendes que ajudavam o
sapateiro na fabricação de sapatos. Ali eu não os via, mas tinha a certeza que
aquele espaço estava cheio de fadas, duendes e magia. O que eu percebia era um
ambiente iluminado, como se o ar tivesse repleto do brilho da purpurina. Vi
minha máquina de escrever, cercada pelos livros que já inventei. Talvez, na
minha infância, ela já soubesse que meu destino era ser escritora. Eu é que não
tive ouvidos para escutar os segredos que minha alma sussurrava com paciência.
Agora eles estavam ali, materializados, organizando em palavras os sentimentos
que trago no coração.
Os
convidados foram chegando, os olhares eram de puro encantamento. Vizinhos,
amigos, parentes, autoridades e crianças. Ah! Era para elas tudo aquilo. E como
se maravilharam com as guloseimas que nunca tinham colocado na boca.
Descobriram a delícia que é morango com chocolate. Encheram as mãos com doces e
bombons e fizeram um estoque particular em casa. Pegavam pedaços enormes de
torta e corriam para os pais. Vendo tudo aquilo, sorria feliz, pois percebia
que era uma tentativa de guardar por mais um pouco toda a maravilha que estavam
vivendo ali.
Ouvi
comentários que ressaltavam a ousadia - minha, do meu marido e da minha família
- na realização de algo assim: São uns loucos, são uns herois. Quiçá, mas uma
loucura sagrada, aquela que é fruto da entrega, com entusiasmo, ao que nos diz
a inspiração. Pessoa nos justificava: Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Foi assim todo o processo.
O
vento soprou frio, o sol quis ir dormir, as luzes se acenderam, a ponte se
transformou na Ponte dos Desejos, toda iluminada. Meu corpo estava lá e eu,
onde vivia naqueles momentos de puro êxtase? A alegria era tanta que não cabia
no corpo que acolhe quem sou. Sentia-me luz, puro amor, pulsando entre mundos
paralelos. Havia a realidade ordinária e aquela em outra dimensão. Transitava
de lá para cá, de cá para lá (qual seria o cá?).
De
repente, vi, e não percebi, a chegada de pessoas amadas que compartilharam um
passado distante, da época dos meus bits e bytes. Quanto mais se aproximavam,
mais me afastava, pois não era possível esse encontro naquele meu tempo/lugar.
Fui entendendo que não eram uma miragem e eu não sabia se estava viva ou morta.
Meu cérebro não conseguia traduzir a situação. Socorreu-me o coração e com
sorrisos e lágrimas de alegria, abracei-os com gratidão, pois reverenciavam
aquela que me tornei. Foi um dos maiores presentes que já recebi.
Minha
irmã e seu marido representaram as raízes que me sustentaram até ali. Sentia a
alegria de meus ancestrais. Honrava-os. Meus filhos, todos com os olhos
iluminados, traziam o símbolo dos doces frutos que surgirão desse nosso espaço
sagrado. Amigos testemunharam a jornada que trilhei e comentaram a beleza do
meu momento de vida. Meu marido era a prova viva do que o amor é capaz de fazer
na conexão plena de corações. Passado-presente-futuro, tudo junto num só
instante. Longe é um lugar que não existe, ensinou-me Richard Bach. A realidade
não existe, disse-me um professor de Psicologia. Isso tudo era uma verdade para
mim naquela bolha de magia e encantamento.
A
festa foi acabando, os convidados indo embora, as redes ficando sem o balanço
ritmado, as luzes se apagando. Saí para voltar no outro dia e arrumar as coisas
da festa.
Quando
voltei e atravessei a ponte, percebi que aquela coisa toda linda era uma
empresa, uma editora, um local de trabalho e me senti abençoada por poder criar
num lugar assim, cercada por árvores, montanhas, animais, lendo no acalanto da
rede, com o vento frio acariciando meu corpo. Então, depois de toda essa
travessia, consegui traduzir meu estado de espírito: gratidão.
Continuo,
repetindo o mantra que guia meu caminhar:
-
Seja feita a Tua vontade. Em Tuas mãos eu entrego o meu espírito.
Que
venham mais sonhos a realizar!
24/02/2013
Passei a
tarde assistindo filmes na televisão digital – que imagem! -, escolhidos na
programação da TV a cabo. Gravei alguns documentários que achei interessante e
vi/ouvi o episódio do meteorito que caiu na Rússia. Também naveguei na
internet, matriculei-me em cursos online, mandei mensagens, acessei redes
sociais.
Lembrei os
meus tempos de Ciência da Computação na UFPE. 1981. Sala de aula normal, com
cadeiras em fileira, quadro verde e giz. Os programas eram redigidos à mão,
numa folha quadriculada, com o zero cortado para distingui-lo da letra O. O
próximo passo era a digitação, nas máquinas do NPD, em cartões perfurados.
Botar para rodar e ficar esperando a listagem era parte da nossa rotina,
obrigando-nos a viradas de noite por lá, pois sempre havia um erro bobo ou um
picote ficava preso por trás do cartão, arruinando nosso trabalho.
Tive a
oportunidade de participar da introdução dos microcomputadores por aqui. Meus
colegas ficavam tirando brincadeiras, dizendo para eu trocar a pilha de meus
equipamentos. Tudo tinha que funcionar em máquinas com 8K de memória RAM, com
armazenamento em fitas-cassete, em disquetes de oito polegadas e depois de
cinco e um quarto, tudo flexível. Os cuidados com o sol, com a poeira, o dedo
eram essenciais para garantir a segurança dos dados. Folha de pagamento, contas
a receber e pagar, controle de estoque, eram sistemas básicos desenvolvidos
nessas máquinas que tinham, a princípio, a TV como monitor. Sucesso foi o
surgimento dos microcomputadores integrados – monitor, teclado e discos juntos
-, e memória de 64K.
Já os
computadores de grande porte eram grandes mesmo. Ocupavam salas enormes, sempre
geladas. Tinha o pessoal da manutenção, o do suporte e o de desenvolvimento de
sistemas. Falava-se que o futuro seria das redes de computadores e que os
micros teriam um lugar no mercado. Não me lembro de previsões de computadores
serem mais comuns que carros e que muito mais do que aquilo que fazia seria
possível apenas com um celular. Estamos todos na rede.
Então
lembrei o que me fez escolher Ciência da
Computação, mudando o rumo da minha vida na semana de inscrição do vestibular.
Sempre tive o dom de escutar as pessoas e ajudá-las em seus problemas da alma.
Por isso, claro, o caminho natural seria a Psicologia ou a Psiquiatria. Porém,
nos meus dezoito anos, assustou-me a pressão que esses encontros significavam.
Visitei um grande centro de processamento de dados, conheci aquele ambiente
perfeito, gelado, sem dor, onde todos conseguiam resolver os problemas dos
programas das máquinas. Nada de sofrimento. Segui por aí. Àquela época eram
raros os profissionais que entendiam de bits e bytes e tive uma carreira de
sucesso. Logo estava empregada, fazendo programas, coordenando equipes,
desenvolvendo sistemas – os mais variados -, indo do controle de exames
médicos, a rações de galinha, passando por pesagens de usinas de açúcar. Às
vezes pegava um avião bem cedo, participava de reuniões o dia todo e voltava à
noite. A própria executiva. O casamento me fez escolher uma rotina mais tranquila
e fiz concurso para um emprego federal. As coisas se acalmaram um pouco e
continuei inventando novos projetos. Comecei um mestrado na área de
Informática, com bolsa do CNPQ e tudo, mas o abandonei quando percebi que meu
coração estava ficando tristinho. Larguei o emprego público e fui levar carinho
para outros corações.
Tive uma
crise de riso quando o vendedor da loja disse para meu filho que o computador
que estava comprando tinha TERABYTES de HD. TERA? Isso para minha era um dez
elevado a alguma potência, só teoria. Lembro do meu mestre em Cognição – como
se aprende? Como se ensina? -, digitando a dissertação dele num
computadorzinho, com a TV à sua frente, funcionando como monitor. Hoje os
quadros nas salas de aula são digitais, permitindo interação, tudo com acesso à
internet, numa velocidade nunca por mim imaginada.
Pergunto-me
se com toda essa tecnologia não estamos valorizando demais a forma e colocando
num segundo plano o conteúdo?
Estamos,
de verdade, mais conectados?
31/03/2013
A tela em
branco, meu coração cheio de coisas sentidas e nem sempre reveladas.
Andei
lendo sobre física quântica e tive umas ideias muito loucas. Aliás, este é um
dos adjetivos que me rotulam, mas me sinto é livre para ser feliz.
Desde que
meus filhos nasceram, priorizei viver ao lado deles, compartilhando nossos
momentos simples, as coisas do cotidiano mesmo. E sempre soube que fazia aquilo
por mim, pois queria guardar comigo a magia de nossas vidas juntos. Voltei ao
clube Alemão com todos eles, dessa vez para um almoço rápido. Reconheceram
alguns garçons, também foram lembrados por eles. Mas eu estava em outra
dimensão, em outro tempo-lugar, pois os via ainda crianças, de bóia nos braços,
brincando na piscina. Via-os nas aulas de natação, no futsal, no parquinho,
todos tão lindos e fofinhos. Voltava para o aqui-agora com os chamados dos
adultos que são e retornava para aquelas recordações que eram só minhas, pois
não tinham as mesmas lembranças que eu. Fiquei feliz por carregar em mim tanta
docilidade.
Aí pensei
que a física quântica explica que tudo que vivemos fica registrado em nossa
memória física e nos campos mórficos, campos energéticos, e que campos
compartilhados ficam marcados para sempre. Percebi que podemos até contar para
as pessoas que hoje andam ao nosso lado tudo que vivemos, mas será apenas um registro
racional – tanto o meu quanto o dela -, pois não estivemos juntos naqueles
momentos que se espalharam por todo o Universo. Engraçado isso, pois tenho
filhos de casamentos diferentes e sempre senti assim. Meus novos companheiros
compreendem, acolhem e amam as histórias e os rebentos, mas, na essência, não
podem compartilhar tudo isso, pois a energia deles não estava lá quando as
coisas aconteciam. E tudo isso não deixa de ser uma espécie de solidão, pois
aqueles que dividiram conosco a gravidez, o parto, os primeiros passos, não
estão ao nosso lado, pelo menos na intimidade, nas formaturas, nos casamentos,
nas angústias vividas pelos filhos agora. É estranho, muito estranho... o mundo
invisível e suas manifestações.
Outra
coisa que me encantou nesse feriado foi a sabedoria da infância. Aprendi muito
com minha sobrinha de três anos. Depois do mar, já na rede, hora de ouvir o cd
com a voz da tia, contando a história O Rei Poderoso. Olhinhos curiosos,
sorrisos no canto da boca.
Agora a tia contava a história de novo, na rede, só para a sobrinha:
-Tá diferente da outra vez, tia (a do cd).
Após a leitura exclusiva:
- Quem vai contar a história sou eu.
E lá se foi passando as páginas e contando tudinho.
- A fadinha tava zangada, muito zangada (no texto não existe esta palavra, mas, de verdade, a fadinha tinha ficado zangada e não apenas triste).
- O porco viu tudo, ele sabe o que aconteceu com a fadinha (o porco é o prato principal do banquete servido à mesa o castelo, um mero detalhe da caprichosa ilustração e que ganhou papel principal na releitura dessa menina linda de três anos).
Quando terminou a história, perguntei:
- Se o porco sabia de tudo, por que não contou ao rei o que tinha acontecido com a fadinha?
- Ah, tia! o porco tava de olho fechado, já tava dormindo!
Fiquei emocionada com suas observações. Isso é que é leitura. O autor até escreve a história, mas ela só acontece de verdade no encontro do texto - e da ilustração, neste caso -, com o leitor / a leitora. A prática confirmando a teoria.
Depois da visita à nossa casa na praia, fomos conhecer a terra da avó, lá no agreste pernambucano. Encantou-se com a natureza, com as árvores, com as pedras, com a bica, com os animais. Quando já estava se arrumando, penteando o cabelo, disse:
Agora a tia contava a história de novo, na rede, só para a sobrinha:
-Tá diferente da outra vez, tia (a do cd).
Após a leitura exclusiva:
- Quem vai contar a história sou eu.
E lá se foi passando as páginas e contando tudinho.
- A fadinha tava zangada, muito zangada (no texto não existe esta palavra, mas, de verdade, a fadinha tinha ficado zangada e não apenas triste).
- O porco viu tudo, ele sabe o que aconteceu com a fadinha (o porco é o prato principal do banquete servido à mesa o castelo, um mero detalhe da caprichosa ilustração e que ganhou papel principal na releitura dessa menina linda de três anos).
Quando terminou a história, perguntei:
- Se o porco sabia de tudo, por que não contou ao rei o que tinha acontecido com a fadinha?
- Ah, tia! o porco tava de olho fechado, já tava dormindo!
Fiquei emocionada com suas observações. Isso é que é leitura. O autor até escreve a história, mas ela só acontece de verdade no encontro do texto - e da ilustração, neste caso -, com o leitor / a leitora. A prática confirmando a teoria.
Depois da visita à nossa casa na praia, fomos conhecer a terra da avó, lá no agreste pernambucano. Encantou-se com a natureza, com as árvores, com as pedras, com a bica, com os animais. Quando já estava se arrumando, penteando o cabelo, disse:
- Tia,
você tem quase tudo.
- É? o quê?
- Escova, espelho... gatinho, au-au...
(olhando o espelho que havia sido da avó, encantada com os animais do sítio)
- Ah! tem vassoura, chapéu, varinha, caldeirão...
(referindo-se aos meus instrumentos de bruxa que havia encontrado na minha sala na Caleidoscópio)
Respondi:
- De tudo que tenho, sabe o que mais me faz feliz? As pessoas que amo.
Sorriu.
- É? o quê?
- Escova, espelho... gatinho, au-au...
(olhando o espelho que havia sido da avó, encantada com os animais do sítio)
- Ah! tem vassoura, chapéu, varinha, caldeirão...
(referindo-se aos meus instrumentos de bruxa que havia encontrado na minha sala na Caleidoscópio)
Respondi:
- De tudo que tenho, sabe o que mais me faz feliz? As pessoas que amo.
Sorriu.
Acho que o
que sua inocência infantil captou foi a sensação de plenitude que vivo no meu
dia a dia. Claro que não tenho tudo, as dificuldades financeiras são bem
grandes – se focarmos só no material -, mas vivo sempre feliz, aprendendo que
os desafios surgem para a evolução do taco do Sagrado que trouxe nessa vida e
que preciso harmonizar.
Minha
sobrinha percebeu a energia que me cerca, pois vivo em paraísos construídos com
amor, tentando manter uma rotina cheia de significado. Não nasci sabendo e
percorri um caminho com algumas dores para aprender tudo isso. Já ela fará sua
jornada de uma forma mais leve, pois trouxe consigo muita sabedoria. Feliz por
você, minha linda!
02/04/2013
Guardo,
como herança, coisas simples que pertenceram aos meus pais. De minha mãe, tenho
fivelas que usou até o dia em que se foi. De meu pai, tenho seus cadernos de
exercícios das sessões de terapia ocupacional, atividades que desenvolveu
devido às seqüelas de seu AVC.
Como me
dói ver suas limitações. As palavras cruzadas passaram de Desafio para Fácil.
Grande matemático que era, mestre das probabilidades, passou a ter dificuldades
para fazer pequenas contas ou registrar as horas num desenho de relógio.
Contador de causos, mal escrevia palavras e frases. Numa de suas tarefas de TO,
houve a solicitação para escrever palavras iniciadas com a letra E. A primeira?
Eremita. Emocionei-me com o amor guardado, mesmo num cérebro danificado pelo
sangue do derrame. Lágrimas inundaram meu rosto quando vi meu nome escrito, por
sua letrinha trêmula, numa atividade para ordenar as letras em uma palavra.
Ditados populares? “Filho de peixe, peixinho é”, dizia ele.
Ah, Pai!
Quisera eu ser tão grande e forte como você. Quisera eu ser a Deusa que Mamãe
foi. Daria tudo para poder colocar novamente a cabeça em seu colo, sentir suas
mãos alisando minha cabeça e o ouvir dizer que tudo ficaria bem. Como desejaria
sentir novamente as mãos de Mamãe coçando minhas costas. Lembro agora a música
que tantas vezes ouvi no Dia das Mães, “eu quisera poder outra vez, mamãe,
começar tudo, tudo de novo” e a que ainda canto quando preparo a mesa da sala,
“naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele tá doendo em mim”.
Vontade de
atravessar a ponte...
24/04/2013
25.4.13
Lagoa dos Gatos é a terra da família de minha mãe.
Estive lá ainda criança, brinquei de roda gigante nas festas de São Sebastião,
corri do Mateu nos carnavais, pulei poça de lama cheia de sapo, tomei banho com
água bombeada à mão, ouvi histórias à luz do candeeiro. Foi lá minha primeira
menstruação. Os forrós pé-de-serra nos terreiros em noites enluaradas, os
banhos de bica com as cantorias nos violões, o gosto doce das jabuticabas tiradas no pé,
as mangas chupadas nas pedras, a alegria e as cores da feira de rua, são para
mim lembranças de um mundo encantado, daquele que se ouve em livros que começam
com Era uma vez...
Voltar à terrinha santa já adulta foi um retorno ao colo da minha mãe, ao carro guiado por meu pai em direção aos encontros familiares. Agora quem levava as crianças era eu. Desejava que conhecessem os encantos escondidos nas frutas, nas árvores, nas montanhas, nas pedras, na bica, nos animais, no açude, no vento frio, nas paredes da casa de meus avós.
Mas a vida me preparava outro destino. Quis que fincasse raízes na terra dos gatos maracajás e criasse outras histórias. Inventei a Caleidoscópio – uma fábrica artesanal de livros -, montei o Pó-de-Estrelas – um local de cozinha artesanal e cultura -, resgatei as terras sagradas de meus ancestrais e assumi o sítio numa reverência à Mãe Terra – chamo-o de Pachamama – e expandi o território tendo a “casinha branca com varanda para ver o sol nascer”.
Da executiva tecnológica que outrora em mim existiu não há resquícios. Mulher sem saltos e bicos finos, com os pés na lama e as mãos na terra, sinto-me em casa no meio daquela natureza grandiosa. Meus vizinhos me ensinam sabedoria. Os ciclos da vida se fazem presentes a cada nova ninhada, a cada nova florada. Converso com as pedras, com as árvores, com os animais, com a água, com o vento. Aprendi a perceber os detalhes, a me entregar ao ritmo do sol, da lua e das estrelas. Olho para fora, vejo dentro. Descobri que enxergo o mundo não apenas com retina, pupila e cérebro: sinto o mundo é com o coração. Quem me ensinou a magia? As histórias sussurradas pelo canto dos pássaros que me dão bom dia, as outras farfalhadas pelas folhas das mangueiras e as cantadas pela música das águas que escorrem por entre as pedras. Às vezes, quando tiro os óculos e aperto os olhos com força, vejo meu avô com seu machadinho plantando café nas subidas do sítio e minha avó chamando os filhos para o bolo que acabou de sair do forno de lenha, escuto minha mãe rindo atrás da porta com um bolo inteiro na boca, percebo o som dos índios dançando na caverna atrás de casa. De repente, como se estivesse no meu quarto de criança, vejo minha mãe sentada na beira da cama, sorrindo com um livro de histórias na mão, dizendo-me: ... E foram felizes para sempre.
Voltar à terrinha santa já adulta foi um retorno ao colo da minha mãe, ao carro guiado por meu pai em direção aos encontros familiares. Agora quem levava as crianças era eu. Desejava que conhecessem os encantos escondidos nas frutas, nas árvores, nas montanhas, nas pedras, na bica, nos animais, no açude, no vento frio, nas paredes da casa de meus avós.
Mas a vida me preparava outro destino. Quis que fincasse raízes na terra dos gatos maracajás e criasse outras histórias. Inventei a Caleidoscópio – uma fábrica artesanal de livros -, montei o Pó-de-Estrelas – um local de cozinha artesanal e cultura -, resgatei as terras sagradas de meus ancestrais e assumi o sítio numa reverência à Mãe Terra – chamo-o de Pachamama – e expandi o território tendo a “casinha branca com varanda para ver o sol nascer”.
Da executiva tecnológica que outrora em mim existiu não há resquícios. Mulher sem saltos e bicos finos, com os pés na lama e as mãos na terra, sinto-me em casa no meio daquela natureza grandiosa. Meus vizinhos me ensinam sabedoria. Os ciclos da vida se fazem presentes a cada nova ninhada, a cada nova florada. Converso com as pedras, com as árvores, com os animais, com a água, com o vento. Aprendi a perceber os detalhes, a me entregar ao ritmo do sol, da lua e das estrelas. Olho para fora, vejo dentro. Descobri que enxergo o mundo não apenas com retina, pupila e cérebro: sinto o mundo é com o coração. Quem me ensinou a magia? As histórias sussurradas pelo canto dos pássaros que me dão bom dia, as outras farfalhadas pelas folhas das mangueiras e as cantadas pela música das águas que escorrem por entre as pedras. Às vezes, quando tiro os óculos e aperto os olhos com força, vejo meu avô com seu machadinho plantando café nas subidas do sítio e minha avó chamando os filhos para o bolo que acabou de sair do forno de lenha, escuto minha mãe rindo atrás da porta com um bolo inteiro na boca, percebo o som dos índios dançando na caverna atrás de casa. De repente, como se estivesse no meu quarto de criança, vejo minha mãe sentada na beira da cama, sorrindo com um livro de histórias na mão, dizendo-me: ... E foram felizes para sempre.
07/07/2013
Foi
estranho estar em Lagoa dos Gatos, vivendo a rotina de alguém do interior, com
uma amiga querida dos tempos da informática. Àquela época, eu era uma executiva
de sucesso, vivia com uma pastinha na mão correndo de um lado para outro para
participar das reuniões em empresas tão diferentes e tão distantes entre si.
Não foram poucas as vezes em que peguei um avião bem cedinho, fui para
reuniões, voltei de avião e tive mais reuniões. Muitas noites viradas em frente
ao computador fazendo programas para controlar o estoque, a fábrica, o
pagamento, o fluxo de caixa, os exames médicos, a cana-de-açúcar, as
galinhas... Ah! Aprendi muito e tenho saudades de chefes especiais...
Belarmino, Kaká e, o mais especial, Fernando. Este já me fez chorar de raiva,
mas foi o que mais me ensinou. Também coordenei equipes maravilhosas e tenho
saudades dos amigos que fiz.
Era o meu
tempo de bits e bytes e muita coisa mudou de lá para cá.
Depois dos
computadores, envolvi-me com algo mais misterioso e quase inacessível: o
inconsciente das pessoas. Que fase fantástica essa! Aprendi muito e reverencio
humildemente todas as pessoas que compartilharam comigo suas dores e seus
amores.
Também fui
professora e aprendi muito com meus alunos, ainda que lhes ensinasse sobre
Freud, Jung, Piaget, Vygostky. Aqui também tive um mestre, meu professor Jorge.
Eram deliciosos nossos encontros para conversas sobre cognição, sobre como se
aprende.
Segui,
mais uma vez, por outro caminho e me deixei envolver completamente pelas
letras, pelas palavras, pelas frases, pelos textos. Sempre me encantou a magia
da arrumação de significantes gerando significados : A-M-O-R ou R-O-M-A.
Perfeito!
Mas todo
este percurso fica escondido/revelado nas entrelinhas dos textos que escrevo e
gosto de rir, com o cantinho da boca e com o brilho do olhar, quando percebo
estes segredos nas frases que vou construindo. É como se fosse um código
invisível, decifrável apenas por alguns.
Avancei
mais um pouco na sabedoria da vida ou, como diriam os xamãs, mudei de dimensão,
e fui aprender com a natureza e com o povo do interior. Construí uma rotina
linda em Lagoa dos Gatos, cidade do agreste pernambucano. Lá integrei foi tudo
e me tornei UNA. Uso tecnologia nos meus projetos, viajo pelo inconsciente –
ainda que muitas vezes seja pelo meu -, escrevo, leio, converso, promovo
cultura e aprendizagem, mexo com a terra, converso com gente sabida – vivo em
alegria. E acho que é isso que a Vida quer da gente: entusiasmo. São tantas as
coisas para fazer que nem dá tempo de ficar apenas contemplando toda aquela
amostração de Deus.
Então, ter
minha amiga de bits e bytes compartilhando a intimidade da mulher rural que
hoje sou foi algo realmente muito estranho. Ela ria quando eu ia andando pela
rua e acenava para as pessoas. Arregalava os olhos quando surgiam os abraços
apertados nos encontros casuais ou quando parava o carro para uma carona. Se
pensou em ter momentos de descanso na rede, coitada, nem numa deitou.
Trabalhamos muito, pois estamos organizando uma Conferência Livre de Meio
Ambiente e muita coisa ainda precisava ser feita. Conheceu a cidade – a
princípio se achou perdida, devido a idas e vindas, mas logo se localizou: na
rua do café – a da Igreja - ou na rua da
ONG – a do Banco do Brasil. Adorou a forma de comprar na padaria, o almoço em Lúcia,
o estúdio do programa de rádio, a reunião - no chão e sobre assentos de papelão
– na ONG. Foi comprar umas escovas de dente na farmácia, abriu a carteira,
puxou o cartão e disse ao vendedor: Débito, por favor. Aqui, amiga, só em
dinheiro ou na anotação na caderneta!! Morreu de rir com a história de um
motorista que matou duas vezes uma defunta. Sentiu-se segura numa cidade sem
violência, mexeu-se de um lado para outro sem engarrafamento, respirou ar puro
sem poluição. Usei, de propósito, o significante ‘sem’, para reforçar a ideia
de que muitas vezes o menos é o mais e em Lagoa dos Gatos não podemos perder o
foco nos seus maiores tesouros: sua gente e suas belezas naturais. Defendo, com
veemência, que devemos construir um desenvolvimento sustentável, respeitando a
cultura de seu povo e o meio ambiente, apesar de já ter ouvido de algumas
pessoas – esclarecidas, até – que isso não é do interesse da população. Muitas
vezes, só se dá valor quando se perde.
Claro que minha
amiga olhou de lado para aquela que me tornei, tentando captar o que se passava
em minha alma. No final, o veredicto: desde aquela época você já sonhava com
uma vida assim. Ficamos felizes.
Assim que
chegou a Recife, pegou um engarrafamento enorme e me mandou uma mensagem pelo
celular: Quero morar em Lagoa dos Gatos.
Triste
pelo transtorno, pensei: na verdade, nossa vida é feita de escolhas. Escolhi a
terrinha santa!!!!!!!!!!!!!!
31.12.2013
2013... ano de Saturno, tempo de estruturar as coisas, de preparar
o terreno, arar a terra, jogar as sementes e trabalhar duro para que a colheita
seja boa.
Para mim, 2013 foi um ano intenso. Muita
dor, muitas perdas, muita coisa maravilhosa. O que não fazia mais parte do meu
campo energético foi saindo da minha vida e novas formas do viver tomaram seu
lugar no meu cotidiano.
Quando as pessoas comentam que realizo
coisas demais e que tenho coragem para me lançar nos projetos, respondo que não
é bem assim: o que tenho mesmo é uma confiança total no Sagrado e, se Ele fala,
obedeço. Simples assim. Não compartilho a ideia de que na mente temos o poder
de criarmos a realidade que nos seja conveniente. Essa é uma visão muito
egocêntrica. Acredito que, como nos ensinou Fernando Pessoa, "Deus quer, o
homem sonha, a obra nasce". Vivo essa experiência no meu coração. Nem
estou pensando nessas coisas que saio realizando por aí, estou quietinha e, de
repente, a ideia surge prontinha na minha cabeça, como se tivesse sido soprada
na Alma. É preciso fazer silêncio para escutar esses segredos. E gosto de ouvir
o silêncio, gosto de sentir o vazio, pois é nesse solo que a intuição pode se
manifestar. Então, depois que a ideia vem prontinha, é hora de arregaçar as
mangas e começar a trabalhar. Sim, porque é necessário muito, muito trabalho e
esforço para concretizar nessa dimensão de realidade o que é criado no mundo
dos sonhos. A ideia cai do Céu, mas o resto não vem junto, não. Conversando com
Deus, brinco dizendo:
- Tá certo, prometo que realizarei todos
os Seus planos, mas dá pra ajudar mandando cada nova ideia junto com um saco de
dinheiro?!
Sei que Ele não vai facilitar muito as
coisas porque o que deseja mesmo é testar nossa capacidade de evoluir, de amar
incondicionalmente. Para mim até que é fácil materializar as coisas na Terra. É
só fazer "Simssalabim bim bim!", mas amar aqueles que me machucam,
que traem minha confiança, que me apunhalam pelas costas, ai, isso ainda não
consigo. A cada nascer do Sol tenho uma nova oportunidade.
Vou me propor esse desafio para 2014:
deixar o rancor de lado. Até porque há muito mais entre o Céu e Terra do que
podemos compreender na dimensão humana.
O ano começou com nossa volta para Casa
Forte - enfrentar as lembranças e a saudade foi muito difícil -, veio nosso
casamento, inauguramos a Caleidoscópio, lançamos os livros infantis com
acessibilidade cultural, fomos para a rádio fazer o Lagoa Cultural,
participamos da Bienal do Livro de Pernambuco, e agora, já no finalzinho,
surgiu o Pó de Estrelas. Tanta coisa boa acontecendo e definindo que meu lugar
é a terrinha santa, nossa Lagoa dos Gatos, lá no sítio que pertenceu aos meus
ancestrais e que hoje é meu canto de terra, com sua mata, suas pedras, suas
águas e seus animais. É lá que me sinto mais pertinho do Sagrado.
Confirmando esse minha mudança, serei
Psicóloga do município e fincarei mais ainda minhas raízes por lá. Quando
surgiu a notícia do concurso, pensei:
- Se esse for o caminho, aqui estão, Deus, à Sua disposição, minha
mão e a caneta, e é só o Senhor fazer a prova!
Não entendi porque Ele ainda errou algumas questões, mas meu
marido, em sua imensa sabedoria, explicou-me que ensinei a tanta gente isso que
na hora da prova Deus estava muito ocupado e se confundiu com as respostas.
Meus filhos são o meu maior tesouro e fico
imensamente feliz quando os vejo trilhando seus próprios caminhos. O peito do
meu marido é o meu lugar no mundo e me encanto com sua jornada de compromisso
com a igualdade entre os povos. É maravilhoso tê-los como companheiros de
viagem.
Tudo isso não teria sido possível sem a
ajuda das pessoas queridas que me ajudaram toda vez que fui ficando fraquinha.
Para todas elas, minha eterna gratidão.
Lendo a matéria que saiu no jornal sobre a
minha trajetória de vida - A vida dela é mágica - percebi que ali ficou tudo
arrumadinho, como se tivesse sido fácil, como se não existisse dor em meu
caminhar. Ledo engano. Foram muitos os desafios, muitas perdas - saudade imensa
daqueles que já se foram, do olhar amoroso de Hércules, do meu pedaço de mar em
Maria Farinha -, muita renúncia, muito trabalho. Se sou feliz é porque tenho
uma vida repleta de significado. O segredo? Confiança e entrega.
- Até que ponto você está disposta a se
comprometer com seu Coração Sagrado? - pergunta-me o Sagrado todos os dias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário