8.12.06

Estranha no Ninho

Era uma pessoa estranha naquele lugar. Sozinha à mesa, trazia nas mãos um livro. Lia, observava coisas e pessoas ao redor, voltava a ler alheia ao movimento e ao barulho.
Placas luminosas anunciavam nomes de lojas e lanchonetes. Crianças corriam de um lado para outro e soltavam gritos de satisfação. Mulheres, cheias de sacolas, iam às compras para preencher o vazio que sentiam. Homens tomavam chope e espantavam suas tristezas, usando a máscara do caçador – agora as presas eram as mulheres.
Nada disso tirava sua atenção da leitura. Devia sentir frio, pois usava um casaquinho por cima da roupa.
De repente, fechou o livro, puxou sua bolsa para perto de si, tirou os óculos, arriou a cabeça sobre os braços na mesa, fechou os olhos e adormeceu.
Fiquei ali, ainda sem acreditar no que estava vendo, observando a cena inédita: uma mulher dormindo numa praça de alimentação de um shopping center na época do Natal! Recuperei-me do susto e senti inveja da serenidade daquele rosto. Resolvi velar seu sono. Talvez fosse um anjo e anjos precisavam de paz.

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