22.2.07

Coração na ponta do lápis

Noutro dia ouvi uma moça jovem, recepcionista de uma clínica mixuruca que realiza exames de sanidade mental para quem quer ter uma carteira de motorista, dizer que adorava escrever, pois escrever era para ela como colocar o coração na ponta do lápis. Fiquei encantada com a expressão - colocar o coração na ponta do lápis - e com a ingenuidade e força de sua autora. Deu-me uma inveja danada. Será que eu teria coragem de colocar meu coração numa ponta de lápis? Poderia o meu coração tornar público seus segredos? Um simples lápis poderia retirar todas as máscaras que uso para ir levando a vida e revelar-me para mim mesma? Lembrei-me de Vinicius de Moraes. O lápis dele tinha o seu coração na ponta. O coração do poeta não tinha medo. Exercia plenamente sua função e amava, e amava e amava, sempre, infinitamente, enquanto durasse o amor. Já o meu, cheio de medos, anda meio envergonhado, preso, sem liberdade de expressão. Nem chorar ele tem conseguido. Pode um coração amar e não sofrer? Será que vale a pena não sofrer e não amar? viver a vida morninha, sem o calor de um grande amor e quando a morte chegar, olhar para trás e perceber que a vida de verdade não foi vivida e sim, perdida?

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