15.6.07

Confraria dos Sem-Teto

Uma praça é um microcosmo. Impressionante como nela coabitam diversos ecossistemas.
Gosto sempre de caminhar por uma perto de minha casa. Sinto o cheiro das árvores, observo o sol, ouço o canto variado dos pássaros. Os diferentes tons de verde me encantam. Quem será que criou algo tão maravilhoso? Tudo ali, na mais perfeita harmonia.
Alguns cachorros são da praça. Ali dormem, descansam, brincam, têm filhotes. Uma delícia ouvir seus latidos de bom-dia.
Tem um componente deste lugar que faz toda a diferença: o ser humano. São crianças em seus carrinhos ou correndo pelos lagos para dar comida aos peixes. São idosos e idosas, caminhando de mãos entrelaçadas e apreciando as vitórias-régias. São homens e mulheres que fazem seu exercício matinal antes de mais um dia de corre-corre. Para chegar mesmo aonde? Há ainda os jovens estudantes que passam em algazarra para as aulas. Tenho a impressão de que não estão muito preocupados com o que vão aprender na escola. A alegria vem dos amigos e da própria idade que possibilita um leque de possibilidades de futuros. Existem os motoristas dos carros que passam apressados e nem conseguem perceber a beleza que os envolve. Outros saem em busca de trabalho e são fisgados pelas árvores, pássaros e bancos e se deitam preguiçosamente com o jornal Empregos cobrindo-lhes o rosto adormecido.
Um grupo muito diferente dos que comumente passam pelos bancos da praça estava em reunião hoje. Homens e mulheres, vestidos com roupas velhas, tomavam seu café da manhã, bem modesto, é verdade, lavavam suas roupas e as estendiam na grama para secar ao sol. E conversavam e conversavam e conversavam. Até parecia que estavam decidindo o futuro da humanidade. O cachorrinho de um deles aguardava pacientemente, preso por um simples barbante, que seu dono voltasse para ele novamente sua atenção. Não havia dinheiro na vida daquelas pessoas. Todas tinham um ar de dignidade. Percebi que estavam felizes, tranqüilos, serenos. A cada volta que dava, mais esticava a orelha, na tentativa de captar a conversa. Não consegui pegar muita coisa. Não consegui desvendar o segredo de tanta harmonia.
A vida é mesmo um mistério.

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