9.6.08

Há algum tempo escrevi um texto sobre uma festa de casamento em que estavam presentes todos os ex do casal, amigos e familiares. Recebi muitos mails de felicitações pelas mudanças em minha vida e achei aquilo tudo muito estranho, pois o texto era uma ficção do início ao fim.
Por voltas que a vida dá e a gente não sabe explicar, separei-me e me casei novamente, mesmo sem a tal festa. Fui caminhando por outros lugares, conhecendo pessoas e aprendendo muito.
Na semana passada meu ex-sogro faleceu e eu, que estava em pé de guerra com meu ex-marido, o segundo, para especificar melhor, fui correndo ao seu encontro para lhe dar carinho e apoio. Nesse momento todas as desavenças e mágoas ficaram tão pequeninhas. O que eu queria era dar-lhe o colo que tive dele quando fui eu que perdi a minha mãe.
Encontrei-o sentado em uma cadeira, ao lado da sua namorada atual, e dirigi-me para abraçá-lo. Alisei sua cabeça, disse-lhe palavras de conforto, chorei a minha e a sua dor. Ajoelhei-me a seu lado e fiquei alisando e beijando suas mãos, tentando dizer-lhe que tivesse forças e confiasse no tempo como o grande curador. Só podia compartilhar o que tinha aprendido e, também, o meu amor. Não é mais o amor de marido e mulher; é um amor que ultrapassa papéis, situações e o tempo. Sei que estamos ligados por uma energia amorosa e, por isso, quero o seu bem.
Do hospital liguei para sua primeira ex-mulher e avisei do falecimento de seu ex-sogro, pedindo-lhe que comunicasse e apoiasse o filho deles. Quando saí de lá fiquei pensando que no dia anterior havia chorado muito com minha advogada discutindo os detalhes da pensão alimentícia para os nossos filhos e resolvendo a divisão dos bens que adquirimos juntos. Tudo ficou tão ridículo.
Fui ao velório com nossos filhos e minha filha, fruto do meu primeiro casamento. Meu pai foi depois; eram amigos-irmãos e a coroa de flores trazia um trecho da música/poesia de Mílton Nascimento: Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito. Fazia tempo que não via a família do meu ex e foi difícil reencontrar pessoas amadas que agora não eram mais parte do meu círculo familiar. Abraços e lágrimas se repetiram muitas e muitas vezes. Meu ex-marido chegou depois com a namorada.
Na missa de corpo presente, celebrada pelo padre que minha ex-sogra queria graças à intervenção da irmã do meu esposo, olhei muito para meu ex-marido enviando-lhe muito força. Amparei filhos, pai; fui acolhida por amigos. Na hora do caixão seguir para o túmulo, estava do lado de fora com nosso filho mais velho, que chorava muito. Meu ex-marido vinha à frente do cortejo e fez sinal para que nosso filho fosse para junto dele. Dirigi-me com ele. Demo-nos as mãos. Nosso filho caçula chegou com minha filha e também demo- nos as mãos. O filho mais velho de meu ex-marido veio com sua mãe e engrossaram a fileira. Seguimos assim, todos juntos, até o local em que o caixão seria colocado.
Ao final de tudo, mais abraços, mais carinho, mais conforto.
Saí feliz com o exemplo de amor e respeito que havíamos dado. Meu ex-marido, com suas ex-mulheres, seus filhos, minha filha, sua namorada atual, todos juntos contando uma história de amor. Acho que o Grande Espírito também ficou feliz com seus Filhos e meu ex-sogro descansou em paz.

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